Análise IEDI
Uma no cravo, outra na ferradura
Os dados divulgados hoje pelo IBGE revelam que a indústria mostrou pronunciada volatilidade na virada do ano. O crescimento mais acentuado de dezembro frente a novembro, que chegou a +3,1% na série com ajuste sazonal, não se sustentou, revertendo-se em um recuo nada desprezível de 2,4% agora em janeiro de 2018 frente ao mês imediatamente anterior – o mais intenso desde fevereiro de 2016. Como diz o ditado popular, uma no cravo, outra na ferradura.
Em boa medida, na origem deste comportamento errático está o ramo automobilístico, um dos principais destaques da reação industrial do ano passado. Entre dezembro e janeiro últimos, a produção de veículos saiu de uma alta de 9,1% para uma queda de 7,6%, já excluídos os efeitos sazonais.
Como o setor automobilístico apresenta importantes encadeamentos dentro da própria indústria, pode ter exercido grande influência sobre outros ramos, como em metalurgia, outros equipamentos de transporte, produtos de metal, borracha e plástico e até equipamentos de informática e produtos eletrônicos, dado que muitos deles são embarcados em veículos.
Contudo, deve ser sublinhado que a queda de janeiro não se restringiu a esse conjunto de setores. Na verdade, o revés foi generalizado, atingindo 19 dos 24 ramos pesquisados pelo IBGE. Muitos deles, inclusive, nem chegaram a registrar um mês de dezembro excepcionalmente positivo que pudesse justificar seu declínio em janeiro como uma acomodação. Este foi o caso de têxteis, vestuário e confecção, couros e calçados, coque e derivados de petróleo, outros produtos químicos, móveis, etc.
O resultado de janeiro é, assim, sintomático de um movimento ainda frágil de recuperação de um setor que ainda não restabeleceu um padrão de crescimento mais regular, de modo que toda alta mais expressiva na margem não vê continuidade. Vale lembrar que as variações da indústria geral se mantiveram entre -0,1% e apenas +0,6% entre jun/17 e nov/17. Tivesse sido diferente, o desempenho de +2,5% no acumulado do ano de 2017 não teria sido tão modesto.
Em uma perspectiva mais longa, contudo, isto é, tomando um ano antes como referência do desempenho industrial, o quadro traz indicativos relevantes que merecem ser realçados. Na comparação interanual, o último trimestre de 2017 mostrava uma indústria mais dinâmica do que o resultado acumulado no ano sugeria. Agora em janeiro essa tendência se manteve ou até melhorou em alguns casos, como mostram as variações abaixo.
• Indústria geral: +2,5% no acumulado de 2017; +4,9% no 4º trim./17 e +5,7% em jan/18;
• Bens de Capital: +6,1%; +10,8% e +18,3%, respectivamente.
• Bens Intermediários: +1,6%; +4,0% e +4,2%;
• Bens de Consumo Duráveis: +13,3%; +17,9% e 20,0%
• Bens de Consumo Semi e Não Duráveis: +0,8%; +2,8% e +3,0%, respectivamente.
Sob este prisma, o primeiro mês do corrente ano parece confirmar o que o último trimestre de 2017 indicava, vale dizer, que o crescimento da produção industrial brasileira já ronda a faixa de 5% a 6%, índice este, sem dúvida alguma, indicativo de um bom desempenho, embora ainda longe de neutralizar a queda industrial acumulada durante os anos de crise que superou os 15%.
É o macrossetor de bens de capital quem apresenta a melhor trajetória. Neste caso, o ritmo de crescimento apurado em janeiro de 2018 é quase 80% superior daquele do quarto trimestre de 2017. Quem puxou o desempenho deste primeiro mês do ano foram os bens de capital para construção (+81,4%), para transporte (+30,7%), para uso misto (20,3%) e para a agricultura (+19,3%). Este é um indicativo de que o investimento na economia brasileira está ganhando fôlego.
Bens de consumo duráveis, embora de modo menos expressivo, também seguiram o mesmo caminho de bens de capital. No mês de janeiro, o grande destaque coube à produção de eletrodomésticos da linha marrom, com alta de 50,4% frente a janeiro de 2017. Já a produção de automóveis também cresceu bem (+17,3%), mas ficou abaixo do desempenho do macrossetor como um todo.
Os dois outros macrossetores, isto é, bens intermediários e bens de consumo semi e não duráveis, não chegaram a registrar em janeiro um avanço substancial frente ao ritmo de crescimento do último trimestre do ano passado. Porém, nestes casos também não houve nenhum retrocesso. Se não mostraram aceleração, ao menos não perderam fôlego.
Os segmentos com maior dinamismo em intermediários, como já vinha ocorrendo desde o ano passado, compreendem bens intermediários para a produção de veículos automotores (+22,9% ante jan/17) e para metalurgia básica (+10%). No caso de semi e não duráveis, por sua vez, foram a indústria têxtil (+21,9%) e a indústria farmacêutica (+18,1%) quem mais cresceram em janeiro de 2018.
Os dados da Pesquisa Industrial Mensal para o mês de janeiro divulgados hoje pelo IBGE indicam, para dados livres de influência sazonal, que da produção da indústria nacional apresentou queda de 2,4% frente ao mês de dezembro de 2017, interrompendo quatro meses de resultados positivos seguidos, que acumularam ganhos de 4,3%.
Em relação ao mesmo mês do ano anterior, registrou-se crescimento de 5,7%, mantendo a variação positiva observadas nos últimos nove meses, sendo também a taxa mais acentuada desde abril de 2013 (9,8%).
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior, para dados sem influência sazonal, somente bens de consumo semi e não-duráveis apresentou aumento de 0,5%. Por outro lado, todas as demais categorias apresentaram retração: bens de consumo não duráveis (-7,1%), bens intermediários (-2,4%) e bens de capital (-0,3%).
O resultado observado na comparação com o mês de janeiro de 2017, aponta crescimento de bens de consumo duráveis (20,0%), seguido por bens de capital (18,3%), bens intermediários (4,2%) e bens de consumo semiduráveis e não duráveis (3,0%).
Setores. Tomando os dados dessazonalizados, em janeiro frente ao mês anterior houve expansão do nível de produção em 4 dos 24 ramos pesquisados. As maiores oscilações positivas foram para os grupos de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (20,9%), seguido por fabricação de bebidas (5,0%), produtos de madeira (1,15%) e máquinas e equipamentos (0,52%).
Para os ramos que apresentaram retração temos: fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-12,1%), produtos diversos (-11,2%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-7,6%), produtos de borracha e de material plástico (-5,3%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (-4,9%), couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-4,3%), outros produtos químicos (-4,3%), metalurgia (-4,1%), celulose, papel e produtos de papel (-3,3%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-3,3%), móveis (-2,9%), sabões, detergentes, produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal (-2,4%), coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (-1,5%), produtos têxteis (-1,2%), produtos alimentícios (-1,0%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-0,7%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-0,4%), produtos de minerais não-metálicos (-0,2%), produtos do fumo (-0,1%) e impressão e reprodução de gravações (0%).
Na comparação com janeiro de 2017, a produção industrial apresentou elevação em 20 dos 24 ramos analisados. Os principais aumentos foram identificados em equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (32,0%), veículos automotores, reboques e carrocerias (27,4%), máquinas e equipamentos (15,5%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (15,2%), produtos de madeira (12,8%), móveis (12,4%), produtos de fumo (12,3%), bebidas (11,1%), metalurgia (10,0%), produtos têxteis (9,1%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (6,5%), produtos de borracha e de material plástico (5,8%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (5,7%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (5,3%), celulose, papel e produtos de papel (5,3%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (5,1%), produtos alimentícios (4,5%), Impressão e reprodução de gravações (2,2%), sabões, detergentes, prod. de limpeza, cosméticos, prod. de perfumaria e de higiene pessoal (1,6%) e produtos de minerais não-metálicos (1,6%).
Em sentido oposto, os segmentos que apresentaram retração foram: outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-5,9%), coque, de prod. derivados do petróleo e de biocombustíveis (-5,2%), preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-4,3%), produtos diversos (-3,9%) e outros produtos químicos (-0,8%).