Análise IEDI
Recuperação sim, mas não sem sobressaltos
O crescimento mais intenso da indústria em dezembro do ano passado não se sustentou na entrada de 2018, como vimos no início desta semana. A alta de 3,1% se reverteu em queda de 2,4%, já descontados os efeitos sazonais. A sequência de resultados modestos, porém positivos, na segunda metade de 2017 deu lugar, assim, a uma acentuada volatilidade na virada do ano.
Os dados divulgados hoje pelo IBGE mostram que o tropeço de janeiro repercutiu na maioria das localidades pesquisadas, afetando o desempenho dos principais centros industriais do país. Foram 8 localidades no vermelho contra 6 no azul. Dentre aquelas com perda de produção estão São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Paraná, com os piores índices. Esses resultados mostram que o declínio de janeiro nada tem de ocasional.
São Paulo, como frequentemente destacamos, é uma região toda especial devido à complexidade de seu parque industrial, cujos encadeamentos são capazes de melhor disseminar os impulsos positivos deste início de recuperação para um número maior de setores e de regiões, conferindo maior consistência ao processo de retomada.
Em janeiro, entretanto, a indústria paulista não só ficou no negativo (-3,3% ante dez/17) como registrou uma de suas piores marcas na série com ajuste, perdendo apenas para agosto de 2016 (-4,0%). Deste modo, devolveu quase tudo o que havia ganho em dezembro último (+3,7%). Na raiz deste resultado estão, principalmente, as quedas de setores tais como veículos automotores, derivados do petróleo, metalurgia e borracha.
Além de São Paulo, outros estados também contam muito na indústria nacional. A maioria deles começou 2018 com o pé esquerdo. Foi o caso do Sul do país, com Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, e do Rio de Janeiro. No Nordeste, cujo quadro já não era dos melhores, dada a frequência de meses ruins, permaneceu no vermelho na entrada de 2018 sob influência da indústria cearense, como mostram as variações com ajuste abaixo.
• Brasil: +0,3% em nov/17; +3,1% em dez/17 e -2,4% em jan/18
• São Paulo: +1,0%; +3,7% e -3,3%, respectivamente;
• Rio de Janeiro: -1,8%; +0,9% e -2,1%;
• Rio Grande do Sul: +1,9%; +8,1% e -3,5%;
• Paraná: -0,9%; +1,5% e -4,5%;
• Nordeste: 0%; -0,3% e -1,1%, respectivamente.
Se o resultado na margem de janeiro alerta sobre os sobressaltos que ainda podem marcar a reação da indústria, não invalida o fato de que o quadro atual é bastante diferente daquele de um ano atrás. Sinal disso é que, a despeito do revés de janeiro, o desempenho nos principais centros industriais do país manteve-se acima de 5% na comparação anual, isto é, um patamar que já contribui razoavelmente para compensar uma parcela das grandes perdas sofridas pela indústria no período recessivo.
No Sudeste, São Paulo cresceu 7,5% frente a janeiro de 2017, um nível muito satisfatório, embora indique uma desaceleração moderada em contraste com o resultado do último trimestre do ano passado (+8,1%). Já no Rio de Janeiro, os resultados foram de 5% e de 7,8% nas mesmas comparações.
No Sul, a tendência da entrada de 2018 supera o último trimestre de 2017. Santa Catarina, que havia crescido 7,5% em out-dez/17 avançou para 10,9% agora em janeiro. No Rio Grande do Sul, a progressão foi ainda mais notável por ter registrado -1% no último quarto do ano passado e +6,6% em janeiro de 2018. Neste caso, porém, é preciso aguardar para verificar se este resultado positivo não é apenas pontual.
Dois outros estados merecem destaque. Minas Gerais, que cresceu menos em janeiro de 2018 (+3,9%), mas mesmo assim obteve aceleração considerável em relação ao final do ano passado (+1,5% no 4ºT17), e Amazonas cuja alta chegou a 32,7%, puxada principalmente por bebidas e equipamentos de informática e eletrônicos. No último trimestre de 2017 a indústria amazonense registrara elevação de 9,2%.
Por fim, no Nordeste a produção industrial ficou estagnada no 4ºT/17 e apenas teve modesta alta (+0,4%) em janeiro de 2018, na comparação interanual. Pode não ser um resultado excepcional, mas não chega a ser desprezível, já que a indústria da região vinha se mantendo no negativo até a primeira metade do ano passado.
Na passagem de dezembro de 2017 para janeiro de 2018, a partir de dados dessazonalizados, a produção industrial brasileira apresentou retração de 2,4%. Dentre os 14 locais pesquisados, oito registraram queda: Paraná (-4,5%), Rio Grande do Sul (-3,5%), São Paulo (-3,3%), Ceará (-2,2%), Rio de Janeiro (-2,1%), Nordeste (-1,1%), Espirito Santo (-0,9%) e Santa Catarina (-0,1%). Por outro lado, as demais localidades apresentaram variações positivas: Pará (7,3%), Amazonas (7,1%), Goiás (2,4%), Pernambuco (1,5%), Minas Gerais (1,4%), Bahia (0,9%), sendo que para o Mato Grosso não houve alteração (0,0%).
Frente ao mesmo mês do ano anterior, houve crescimento de 5,7% da indústria nacional, com 11 dos 15 locais pesquisados registrando aumento: Amazonas (32,7%), Pará (14,1%), Santa Catarina (10,9%), São Paulo (7,5%), Rio Grande do Sul (6,6%), Bahia (5,6%), Rio de Janeiro (5,1%), Ceará (4,9%), Minas Gerais (4,0%), Goiás (3,0%) e Nordeste (0,4%). Nas demais regiões observamos retrações: Espírito Santo (-7,8%), Pernambuco (-2,4%), Paraná (-1,8%) e Mato Grosso (-0,4%).
No acumulado de doze meses (fevereiro de 2017 a janeiro de 2018), houve crescimento de 2,8% em termos nacionais, com expansão na produção de 11 das 15 regiões pesquisadas. Os avanços ocorreram nos estados do Pará (10,1%), Santa Catarina (4,9%), Amazonas (6,1%), Rio de Janeiro (4,2%), São Paulo (3,9%), Paraná (3,7%), Goiás (3,3%), Mato Grosso (3,0%), Ceará (2,7%), Minas Gerais (1,5%), Rio Grande de Sul (0,9%) e Bahia manteve-se com zero. De outra forma, as regiões que apresentaram queda foram: Pernambuco (-2,3%), Nordeste (-0,3%) e Espírito Santo (-0,1%).
São Paulo. Na comparação com o mês de dezembro de 2017, a produção da indústria paulista apresentou retração de 3,3%, a partir de dados dessazonalizados. Por outro lado, frente a janeiro de 2017, houve aumento de 7,5%. Olhando para os dados de janeiro de 2018 contra janeiro de 2017, tivemos aumento nos seguintes setores: máquinas e equipamentos (27,7%), veículos automotores (19,9%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (14%), Metalurgia (11,7%) e produtos alimentícios (9,7%). Já os setores que apresentaram retração foram: outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-12,7%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-12,6%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (-4,4%), bebidas (-2,4%) e coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (-1,5%).
Rio Grande do Sul. Frente a dezembro de 2017, a produção industrial gaúcha retraiu 3,5%, para dados dessazonalizados. Na comparação com janeiro de 2017, houve aumento de 6,6%. Os setores com a maior variação positiva foram: veículos automotores, reboques e carrocerias (53,3%), bebidas (18,7%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (9,9%) e celulose, papel e produtos de papel (4,9%). Em sentido oposto, os seguimentos com maiores retrações foram: produtos do fumo (-22,3%), Metalurgia (-7,8%), coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (-3,3%), móveis (-3,2%) e máquinas e equipamentos (-1,3%).