Análise IEDI
Um quadro que está mudando
A melhora do nível de atividade econômica do ano passado contou com a reativação do crédito, que, depois de dois anos consecutivos de retração, voltou a crescer em termos reais. Esse movimento, contudo, ficou praticamente restrito às modalidades de empréstimos às famílias, enquanto o financiamento das empresas manteve-se muito restringido na maior parte do tempo. Isto, por seu turno, reduziu a capacidade de reciclagem das dívidas das empresas e atrasou o retorno de seu investimento.
Os dados de crédito em 2018 divulgados pelo Banco Central indicam, entretanto, que este quadro pode estar mudando, ao reforçar a tendência positiva registrada no último trimestre de 2017. As concessões totais de crédito às empresas crescem seguidamente desde outubro do ano passado, já descontada a inflação aferida a partir do IPCA. Em fevereiro de 2018, atingiu um resultado expressivo de +21,0% frente ao mesmo período do ano anterior.
Caracteriza também este período uma acentuada variabilidade nas concessões cujos termos são livremente pactuados entre credores e tomadores de empréstimos, isto é, do chamado crédito livre. É este o tipo de crédito às empresas que tem crescido, como mostram, abaixo, as variações reais na comparação interanual. O crédito direcionado, com destaque para as operações do BNDES, continuam retrocedendo fortemente.
• Concessões totais:+5,9% em dez/17; +10,8% em jan/18 e +18,0% em fev/18;
• Concessões a pessoas jurídicas: +7,2%; +5,6% e +21,0%, respectivamente;
• Concessões livres a pessoas jurídicas: +10,7%; +7,4% e +25,4%;
• Concessões direcionadas a pessoas jurídicas: -15,0%; -15,8% e -23,2%, respectivamente.
Tendo continuidade e se vier acompanhada de reduções mais substanciais das taxas de empréstimo, essa evolução favorável do conjunto do crédito corporativo poderá desafogar financeiramente muitas empresas em dificuldade, favorecendo uma retomada mais rápida de projetos de investimento.
Deste modo, com o retorno dos empréstimos às empresas, as condições de financiamento da economia podem caminhar para uma normalização, uma vez que o crédito às famílias já vem registrando aumento nos últimos doze meses, chegando em termos reais a +15,8% em fevereiro de 2018 ante igual mês do ano anterior. Com isso, as concessões totais subiram nada menos do que 18% na comparação interanual, a melhor marca desde out/12.
Outro aspecto favorável no mercado de crédito a ser ressaltado é o declínio dos juros. De fato, as taxas de juros dos empréstimos tanto às empresas como às famílias recuaram desde que o Banco Central começou a reduzir a taxa básica de juros (Selic). O que deixa a desejar é a velocidade com que isso tem ocorrido.
Entre setembro de 2016 e fevereiro de 2018, a meta da taxa Selic caiu de 14,25% a.a. para 6,75% a.a., isto é, um corte maior do que 50%. Já a taxa média de juros das operações com recursos livres caiu bem menos, algo como 20%, ao sair de 53,6% a.a. para 42,2% a.a., em termos nominais. Vale notar ainda que a despeito da queda, os patamares médios dos juros permanecem bastante elevados: 22,2% a.a. para pessoas jurídicas e 57,7% a.a. para pessoas físicas em fevereiro de 2018.
Os dados de crédito divulgados hoje pelo Banco Central mostram que o saldo das operações alcançou R$ 3.062 bilhões em fevereiro (-0,2% no mês e -0,3% em doze meses), o que representa participação de 46,4% sobre o PIB. Em fevereiro de 2017 a participação do saldo das operações de crédito era de 48,6% do PIB.
A carteira de crédito com recursos livres ficou em R$ 1.568 bilhões, redução de 0,1% em relação ao mês anterior, no entanto com aumento de 2,4% em doze meses, em termos nominais. A parcela destas operações realizada junto a pessoas físicas foi de R$ 855,7 bilhões, crescimento de 6,2% quando comparado com o mês de fevereiro de 2017, ressaltando-se a retração sazonal nos saldos de cartão de crédito à vista. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas ficou em R$ 712,4 bilhões, apresentando redução de -1,8%, também na comparação com o mesmo período de 2017, destacando-se as expansões nos adiantamentos sobre contratos de câmbio e conta garantida.
O estoque de crédito com recursos direcionados ficou em R$ 1.493 bilhões em fevereiro, em termos nominais, indicando retração de -3,1% frente ao mesmo mês de ano anterior e 0,3% quando comparado ao mês de janeiro de 2018. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$ 802 bilhões, crescimento de 5,4% quando comparado ao mês de fevereiro de 2017, com influência destacada do crédito imobiliário. O saldo relativo a pessoas jurídicas foi de R$ 691 bilhões, queda de -11,3% na mesma base de comparação, influenciado pelas amortizações de contratos e redução de 9,9% nas concessões de financiamentos para investimentos com recursos do BNDES.
Em fevereiro, foram concedidos R$ 263,5 bilhões em novas operações de crédito, crescimento de 17,9% frente ao montante de R$ 223,4 bilhões observado no mesmo mês do ano anterior. Deste volume, R$ 246 bilhões foram originados de recursos livres e R$ 17,5 bilhões de recursos direcionados, o que representou, frente a fevereiro de 2017, aumento de 21,0% para recursos livres e redução de -12,9% para recursos direcionados.
Dentre as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de crédito rotativo (R$ 106,6 bilhões), cartão de crédito (R$ 80,5 bilhões), crédito não rotativo (R$ 31,8 bilhões), cheque especial (R$ 29,5 bilhões) e crédito pessoal (R$ 20,1 bilhões). Ao que se refere as pessoas jurídicas, as principais modalidades foram desconto de duplicatas (R$ 19,3 bilhões), cheque especial (R$ 16,1 bilhões), conta garantida (R$ 15,5 bilhões) e capital de giro (R$ 10,9 bilhões).
Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de financiamento imobiliário (R$ 5,8 bilhões), crédito rural (R$ 3,9 Bilhões), microcrédito (R$ 722 milhões) e BNDES (R$ 546 milhões). Já para as empresas, as principais modalidades foram Crédito Rural (R$ 3,0 bilhões) e BNDES (R$2,3 bilhões).
Setores. Considerando o saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para a indústria atingiu R$ 664,3 bilhões, o que significa uma redução nominal de -10,4% frente a fevereiro de 2017. No caso da indústria de transformação, a redução do saldo nominal de crédito foi de -10,7% na mesma comparação, atingindo o valor de R$ 354,6 bilhões, e para a construção houve redução de -18,3%, apresentando saldo nominal de R$ 80,2 bilhões. O saldo do setor de serviços foi de R$ 699,6 bilhões, retração nominal de -2,9% em relação ao mesmo mês do ano anterior, com destaque para as variações de comércio (-7,4%) e transporte (-4,1%). Por fim, o setor agropecuário apresentou crédito de R$ 22,1 bilhões, valor 5,7% menor, em termos nominais, do que o registrado em fevereiro do ano passado.
Juros e Inadimplência. A taxa média de juros nominal atingiu 26,9% a.a. em fevereiro, aumento de 0,7 p.p. no mês e queda de 5,3 p.p. em doze meses. Nas operações originadas a partir de recursos livres, a taxa média foi de 42,2% a.a. (aumento de 1,1 p.p. em relação ao mês anterior) e 9,7% a.a. no direcionado (aumento de 0.2 p.p. no mês). Em relação ao total de crédito concedido, a taxa para pessoas físicas situou-se em 33,3% a.a. e para pessoas jurídicas em 17,9% a.a.. No âmbito das operações de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média foi de 9,7% a.a. (redução de 0,2 p.p. em relação ao mês anterior), ficando para 8,2% pessoas físicas e 12,2% para pessoas jurídicas.
A inadimplência total de fevereiro ficou em 3,4%, redução de -0,4 p.p. quando comparada ao mês de fevereiro de 2017. A inadimplência de pessoas físicas em fevereiro foi de 3,7% e a de pessoas jurídicas de 3,1%. O indicador atingiu 5,0% no crédito livre (-0,1 p.p. mês) e 1,8% no direcionado (+0,1 p.p.).