Análise IEDI
O emprego entre aspectos positivos e negativos
A reação da atividade econômica desde o ano passado já apresenta alguns desdobramentos favoráveis sobre o quadro do emprego no país, como vêm mostrando os dados da Pnad contínua do IBGE. Os avanços, porém, ainda são restritos quanto à sua intensidade e frágeis de um ponto de vista qualitativo. Com isso, o restabelecimento do emprego continua funcionando como um entrave a um crescimento mais vigoroso da economia.
Os dados divulgados hoje dão conta de uma taxa de desocupação de 12,6% no trimestre móvel findo em fev/18, o que implica um aumento frente àquela do último trimestre de 2017 (11,8%). Este comportamento, mais do que uma inversão da tendência de queda, pode estar refletindo apenas o tradicional movimento de dispensa das pessoas temporariamente contratadas para as festas de final de ano. Na comparação interanual, a taxa de desocupação em dez/17-fev/18 teve declínio de 0,6 ponto percentual.
Na verdade, ainda frente ao mesmo período do ano anterior, somente a partir do 4º trimestre de 2017 é que se vê queda da desocupação. No trimestre findo em fev/18 foram 426 mil pessoas desocupadas a menos. Em outros termos, o crescimento do número de ocupados tem sido o suficiente para absorver as pessoas entrando no mercado de trabalho e aquelas que haviam perdido seu emprego. Em dez/17-fev/19 foi 1,7 milhão de ocupados a mais do que um ano antes.
O que chama atenção é a disparidade entre a velocidade com que foram destruídos os empregos na crise e a relativa lentidão de seu restabelecimento. Assim como em outras áreas da economia, a crise veio avassaladora, mas se dissipa a passos de tartaruga. Tome-se a taxa de desocupação que saltou de 7,4% para 10,2% e finalmente 13,2% no trimestre findo em fevereiro de 2015, 2016 e 2017, respectivamente. A melhora recente foi capaz de reduzi-la para apenas 12,6%, como vimos anteriormente.
Não é novidade que o caminho desta recuperação será longo e, ao que tudo indica, assim será também para o emprego. Além disso, pelo menos outros quatro aspectos da pesquisa do IBGE são igualmente importantes para qualificar a evolução recente.
• O primeiro, bastante desfavorável, é a dificuldade do emprego formal voltar ao azul. Apesar de algum arrefecimento, vagas com carteira assinada continuam sendo cortadas: -1,8% ou -612 mil pessoas em dez/17-fev/18 em relação a um ano antes. Se esse tipo de emprego reagisse, dado que tem rendimentos maiores e mais regulares, o dinamismo da economia estaria mais forte.
• O segundo é que foi a situação do trabalho por conta própria, que compreende os chamados “bicos”, que mudou da água para o vinho desde o começo de 2017. Em relação a um ano antes, perdia 1,1 milhão de ocupados no trimestre findo em fev/17 e agora, no trimestre findo em fev/18, gera ocupação adicional para 977 mil pessoas na mesma comparação. Outro destaque, o trabalho sem carteira cresce desde abr-jun/16, chegando a um aumento de 511 mil ocupados em dez/17-fev/18 frente a um ano antes.
• O terceiro aspecto é que alguns setores continuam jogando contra a recuperação do emprego: principalmente agropecuária e construção e, desde o final de 2017, também o setor transportes, armazenagem e correios. A contribuição da indústria, por sua vez, tem sido positiva desde abr-jun/17 e chegou a +375 mil postos (+3,3%) em dez/17-fev/18 frente ao mesmo período do ano anterior. Outros setores de destaque: outros serviços (+490 mil ou +9,5%) e adm. pública, defesa e serviços sociais (+390 mil ou +2,6%).
• Por fim, a massa de rendimentos vem mantendo um ritmo de expansão interanual entre +3,5% e +4,0%, o que ajuda na reativação do consumo das famílias, ainda mais diante da volta do crédito às pessoas físicas. Como já notamos em outras Análises, a continuidade dessa evolução dependerá cada vez mais do aumento do emprego, dado que o rendimento real não poderá contar com outro expressivo e rápido declínio da inflação como no ano passado.
De acordo com os dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrada no trimestre compreendido entre dezembro de 2017 a fevereiro de 2018 foi de 12,6%. Em relação ao período de setembro a novembro de 2017, houve aumento de 0,6 p.p, já para ao mesmo trimestre do ano anterior houve queda de -0,6 p.p, quando a taxa de desocupação apresentou 13,2%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos ficou em R$2.186,00, apresentando alta de 1,0% em relação ao trimestre imediatamente anterior (set-out-nov) e aumento de 1,8% frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior (R$2.148,00).
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$194,1 bilhões no trimestre que se encerra em fevereiro, registrando alta de 3,7% frente ao mesmo trimestre do ano anterior (R$187,0 bilhões).
No trimestre de referência, a população ocupada foi de 91,1 milhões de pessoas, o que representou aumento de 2,0% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (89,3 milhões de pessoas ocupadas) e redução de -0,9% em relação ao trimestre imediatamente anterior (set-out-nov). Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados variou 4,4% chegando a 13,1 milhões de pessoas, já para a comparação com o trimestre do ano anterior observou-se uma redução de -3,1%.
Analisando em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, os grupamentos de atividades que obtiveram crescimento da ocupação foram, na ordem decrescente: Outros serviços (9,5%), Alojamento e alimentação (5,5%), Serviços domésticos (4,2%), Informação, Comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (3,3%), Indústria (3,3%), Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (2,6%) e Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (1,5%). Em sentido oposto, os agrupamentos com redução da ocupação foram: Construção (-4,0%), Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-3,2%) e Transporte, armazenagem e correios (-0,3%).
Verificando a população ocupada por posição na ocupação, comparados ao mesmo trimestre do ano anterior, observamos aumento nas seguintes categorias: Empregador (5,5%), Trabalho privado sem carteira (5,0%), Trabalhador por conta própria (4,4%), Trabalho doméstico (4,2%), Setor público (3,3%) e Trabalho familiar auxiliar (1,6%). Já para o Trabalho privado com carteira houve queda de -1,8%.