Análise IEDI
Sem dinamismo
Se fevereiro não foi um bom mês para a indústria, para o comércio varejista foi ainda mais desfavorável. Suas vendas em termos reais, isto é, já descontada a inflação, recuaram frente a janeiro e tiveram um resultado excepcionalmente fraco em relação ao mesmo mês do ano passado. Este é mais um dado a corroborar que recuperação da economia segue em marcha muito lenta.
Na série com ajuste sazonal, o declínio do varejo em seu conceito restrito foi de 0,2% e de 0,1% em seu conceito ampliado, que considera também as vendas de automóveis, autopeças e material de construção. Esta quase paralisia não se restringe a fevereiro, mas caracteriza a evolução dos últimos meses. No varejo ampliado, isto é nítido, já que os resultados de dez/17 e jan/18 foram -0,3% e 0%, respectivamente. No varejo restrito, por sua vez, o que um mês traz o outro retira, apresentando uma oscilação maior: -0,6% em dez/16 e +0,8% em jan/18.
De fato, só verifica-se uma trajetória de recuperação mais substancial se tomarmos as comparações interanuais, que trazem a memória de tempos mais difíceis. É o que ocorre, por exemplo, contrastando o desempenho do primeiro bimestre de 2018 com o de 2017: +2,3% contra -2,4% no varejo restrito e +5,9% contra -2,4% no ampliado. Mesmo assim, vale notar que isso não se deve muito ao desempenho de fevereiro.
Frente ao mesmo mês do ano passado, a alta de 1,3% do varejo restrito no segundo mês do ano foi a mais fraca desde que o setor voltou ao azul em abr/17. Já o varejo ampliado conseguiu avançar 5,2% nesta comparação, o que não é dos seus piores resultados, mas ainda assim é o mais baixo desde a segunda metade de 2017. Qualquer que seja o conceito, parece haver certa desaceleração desde setembro do ano passado.
Assim como ocorre na indústria, o panorama dos segmentos que compõem o comércio varejista aponta para situações bastante distintas. Na série com ajuste, metade dos 8 segmentos ampliaram suas vendas reais e metade sofreram redução. O quadro melhora para 6 de 10 segmentos no positivo ao se considerar as vendas de automóveis, autopeças e material de construção, como mostram as variações frente a janeiro abaixo.
• Varejo restrito: -0,6% em dez/17; +0,8% em jan/18 e -0,2% em fev/18;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: -0,2%; +2,3% e -0,6%, respectivamente;
• Tecidos, vestuário e calçados: +0,5%; +0,8% e -1,7%;
• Móveis e eletrodomésticos: -2,9%; -3,0% e +1,5%;
• Materiais de escritório, informática e comunicação: -5,6%; +9,1% e +2,7%;
• Outros artigos de uso pessoal e doméstico: -9,7%; +7,3% e -0,8%;
• Varejo ampliado: -0,3%; 0% e -0,1%;
• Veículos e autopeças: +0,9%; +4,4% e +2,5%;
• Material de construção: +1,7%; -3,4% e +0,3%, respectivamente.
Dentre os segmentos do comercio com queda em fevereiro, destacam-se tecidos, vestuário e calçados assim como combustíveis e lubrificantes por terem registrado os recuos mais intensos. Já descontados os efeitos sazonais, o resultado frente a janeiro foi de -1,7% no primeiro caso, interrompendo uma evolução de variações baixas porém positivas nos três meses anteriores. Deste modo, o que as vendas de tecidos, vestuário e calçados tinham ganhado neste período perderam em fevereiro.
No caso de combustíveis e lubrificantes, a queda de fevereiro está inserida em uma sequência de resultados negativos que já dura vários meses. À exceção de out/17, desde julho do ano passado que só ocorrem retrações na série com ajuste. Assim, este segmento que terminou 2017 no vermelho (-3,3% ante 2016) encontra-se em uma situação de agravamento das perdas (-5,5% em jan-fev18/jan-fev17).
Outros segmentos importantes para o comércio também retrocederam, como as vendas de supermercados, alimentos, bebidas e fumo (-0,6%) e artigos de uso pessoal e doméstico (-0,8%), que incluem as vendas das lojas de departamento. Em ambos os segmentos, a trajetória tem sido marcada por oscilação de resultados positivos e negativos, especialmente no segundo caso.
Dentre os segmentos com crescimento em fevereiro, os melhores resultados couberam àqueles que comercializam bens duráveis, tais como materiais de escritório, informática e comunicação (+2,7%), automóveis e autopeças (+2,5%) e móveis e eletrodomésticos (+1,5%). Nos dois primeiros casos, janeiro também havia registrado aumento de vendas, assegurando um início de ano bastante favorável.
Com desempenho mais modesto, estão material de construção com +0,3%, depois de um mês particularmente ruim em janeiro (-3,4%), artigos farmacêuticos, perfumaria e cosméticos com +0,8%, que também não se saíram bem no primeiro mês do ano (-2,5%), e livros, jornais e papelaria, que cresceram por dois meses seguidos (+0,7% em jan/18 e +1,6% em fev/18).
Segundo os dados de fevereiro de 2018 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista nacional, na série com ajuste sazonal, apresentou retração de -0,2% frente ao mês anterior, após avançar 0,8% na passagem de dezembro para janeiro. Na comparação com fevereiro do ano anterior, houve avanço de 1,3%. Para o acumulado dos últimos 12 meses, o resultado foi acréscimo de 2,8% e para o acumulado do ano a variação foi de 2,3%.
O volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, registrou retração de -0,1% em relação a janeiro de 2018, a partir de dados livres de influências sazonais. Na comparação com fevereiro de 2017, houve incremento de 5,2%. Para o acumulado dos últimos 12 meses a variação foi de positiva em 5,4% e o acumulado do ano apresentou crescimento de 5,9%.
Com relação ao mês de janeiro de 2018, a partir de dados dessazonalizados, quatro das oito atividades obtiveram variações positivas nas vendas, sendo elas as seguintes na ordem crescente: equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (2,7%), livros, jornais, revistas e papelaria (1,6%), móveis e eletrodomésticos (1,5%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,8%). Em relação aos setores que apresentaram retração tivemos: tecidos, vestuário e calçados (-1,7%), combustíveis e lubrificantes (-1,4%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,8%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,6%). Para o comércio varejista ampliado, houve retração de -0,1%, sendo o aumento de veículos e motos, partes e peças de 2,5% e o de material de construção de 0,3%.
Em relação ao mês de fevereiro de 2017, verificaram-se resultados positivos em cinco das oito atividades que compõem o varejo, as variações foram as seguintes: outros artigos de uso pessoal e doméstico (8,3%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (5,8%), móveis e eletrodomésticos (3,2%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (4,3%) e hipermercados, supermercados, produtos, alimentícios, bebidas e fumo (2,0%). Para os outros segmentos analisados, foi registrado variação negativa em: combustíveis e lubrificantes (-7,0%), tecidos, vestuário e calçados (-5,8%) e livros, jornais, revistas e papelaria (-5,6%). Em relação ao comércio varejista ampliado, houve expansão de 5,2%, em função do crescimento de veículos, motos, partes e peças (20,0%) e material de construção (6,0%).
No acumulado do ano (janeiro a fevereiro de 2018), verificaram-se resultados positivos em cinco das oito atividades que compõem o varejo: outros artigos de uso pessoal e doméstico (9,2%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (5,2%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (4,9%), móveis e eletrodoméstico (4,3%) e hipermercados, supermercados, produtos, alimentícios, bebidas e fumo (2,6%). Nos outros segmentos analisados, foi registrada variação negativa em: livros, jornais, revistas e papelaria (-6,5%), combustíveis e lubrificantes (-5,5%) e tecidos, vestuário e calçados (-2,6%). Em relação ao comércio varejista ampliado, houve acréscimo de 5,9%, em razão da expansão de veículos, motos, partes e peças (19,0%) e material de construção (6,8%).
Avaliando o acumulado de 12 meses, registrou-se variações positivas em cinco dos oito segmentos, sendo eles: móveis e eletrodomésticos (10,4%), tecidos, vestuário e calçados (7,0%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (4,3%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (3,8%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (2,0%). Para os demais setores observamos contrações em livros, jornais, revistas e papelaria (-3,5%), combustíveis e lubrificantes (-3,0%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-0,7%). Verificando o comércio varejista ampliado, houve crescimento de 5,4%, sendo que material de construção apresentou expansão de 10,0% e veículos, motos, partes e peças elevação de 7,1%.
Em comparação a fevereiro de 2017, 17 das 27 unidades federativas apresentaram incremento do volume de comércio: Tocantins (19,7%), Espírito Santo (16,9%), Roraima (12,0%), Amazonas (11,4%), Rio Grande do Sul (10,0%), Acre (9,5%), Maranhão (9,5%), Santa Catarina (9,3%), Pará (9,2%), Rio Grande do Norte (8,9%), Rondônia (8,6%), Piauí (8,0%), Paraná (3,4%), Mato Grosso (2,9%), Minas Gerais (0,8%), Ceará (0,6%) e Amapá (0,1%). As unidades federativas que apresentaram retração nas vendas foram: Goiás (-9,7%), Distrito Federal (-8,2%), Paraíba (-4,4%), Mato Grosso do Sul (-3,6%), Alagoas (-3,1%), Bahia (-2,0%), Rio de Janeiro (-1,6%), Pernambuco (-1,4%), Sergipe (-1,3%) e São Paulo (-1,0%).