Análise IEDI
Reação a passos curtos retarda a economia
O quadro do emprego, desde meados do ano passado, ensaia um movimento de reação depois de um período de agudo fechamento de postos de trabalho. Os avanços, contudo, ainda são muito modestos e o primeiro trimestre de 2018 não trouxe grande contribuição adicional. Ainda são 13,7 milhões de pessoas sem trabalho.
A taxa de desocupação média para os três primeiros meses de 2018 ficou em 13,1%, implicando um declínio pouco significativo frente ao mesmo período de 2017. Vale lembrar que a marca de 13,7% do primeiro trimestre do ano passado foi a mais elevada desde que a crise atingiu o mercado de trabalho.
O desemprego elevado continua comprometendo a recuperação econômica e a lentidão com que vem declinando é parte do dinamismo extremamente baixo que caracteriza o atual momento da economia brasileira. Os dados de janeiro e fevereiro já mostraram que a melhora de todos os setores, inclusive da indústria, perdeu força em 2018 e a avaliação dos empresários para os meses de março, assim como de abril, não são muito favoráveis.
A evolução da população ocupada na comparação com o mesmo período do ano anterior voltou ao terreno positivo desde o terceiro trimestre de 2017 e acenava com uma aceleração no final do ano, como mostram as variações abaixo. Entretanto, esse movimento não se manteve no início de 2018 apesar do resultado seguir positivo (+1,8% ou +1,6 milhões de pessoas).
• Ocupação total: +1,6% no 3º trim/17; +2,0% no 4º trim/17 e +1,8% no 1º trim/18;
• Ocupação na indústria: +2,1%; +4,6% e +2,0%, respectivamente;
• Ocupação em alojamento e alimentação: +12,0%; +8,7% e +5,7%;
• Ocupação em info., comunicação, ativ. financeiras, imob. e adm.: +5,1%; +4,2% e +1,3%
• Ocupação da agropecuária: -4,4%; -5,1% e -2,3%;
• Ocupação na construção: -3,8%; -1,9% e -4,1%, respectivamente.
O início de 2018 trouxe pouca mudança quanto ao tipo de ocupação criada. Como já vínhamos notando, a geração de vagas tem ocorrido em ocupações consideradas de menor qualidade, sobretudo trabalho sem carteira (+5,2% ante 1º trim/17) e trabalhador por conta própria (+3,8%), que reúne muitas das atividades ditas “bicos”.
Juntos, estes dois tipos de ocupação responderam por nada menos que 84% do aumento do total de postos de trabalho entre janeiro-março de 2018 e igual período de 2017.
Em contraste, não há alívio para o trabalho com carteira, que só cai desde o início de 2015, neste caso, na comparação interanual, a queda foi de 1,5% no primeiro trimestre de 2018. Esses resultados ainda no vermelho do emprego formal é outro componente da modesta evolução da economia brasileira.
Do ponto de vista setorial, por sua vez, cabe ressaltar que aqueles que mais criavam vagas no final de 2017 em relação a um ano antes registraram desaceleração na entrada de 2018. É o caso notadamente da indústria, cuja ocupação havia crescido 4,6% no 4º trim/17 (+527 mil vagas), mas registrou alta de 2,8% no 1º trim/18 (+232 mil vagas), sempre na comparação interanual. Outros casos semelhantes foram de segmentos de serviços, como alojamento e alimentação e informação, comunicação, atividades financeiras, imobiliárias e administrativas.
Já a agropecuária e a construção continuam jogando contra a recuperação do emprego. No primeiro caso, a ocupação caiu 2,3% (-196 mil) no primeiro trimestre de 2018 ante o mesmo período de 2017, mas pelo menos vem registrando uma trajetória de quedas cada vez menores. No segundo caso, o recuo foi mais acentuado, de -4,1% ou de -280 mil ocupados, interrompendo uma tendência de amenização das perdas.
Outro ponto a ser destacado é que não foi apenas o número de ocupações criadas que se desacelerou nos primeiros meses de 2018. O mesmo ocorreu com o rendimento real. É possível que tenha se esgotado o efeito positivo do recuo da inflação sobre o rendimento real, tão importante no ano passado. Este fator mais negociações salariais pouco favoráveis a reajustes nominais estão na origem da estabilidade do rendimento real no primeiro trimestre de 2018.
Com isso, a massa de rendimentos, que havia aumentado 3,5% no último trimestre de 2017, cresceu bem menos na entrada de 2018. O ritmo foi reduzido pela metade, chegando a +1,8% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado. Um avanço menor da massa de rendimentos ajuda a explicar o fraco desempenho de alguns setores da economia, como do comércio e dos serviços.
De acordo com dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrada no trimestre compreendido entre janeiro e março de 2018 atingiu 13,1%. Em relação ao período de outubro a dezembro de 2017, houve incremento de 1,3 p.p, já para ao mesmo trimestre do ano anterior houve retração de -0,6 p.p, quando apresentou 13,7%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos ficou em R$2.169,00, apresentando queda de 0,2% em relação ao trimestre imediatamente anterior (out-nov-dez/2017), no entanto, frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior, não houve variação.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$194,5 bilhões no trimestre que fechou em março, registrando retração de 1,8% frente ao trimestre imediatamente anterior e crescimento de 1,8% em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior (R$188,0 bilhões).
No trimestre de referência, a população ocupada foi de 90,5 milhões de pessoas, crescimento de 1,8% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (88,9 milhões de pessoas ocupadas), já em relação ao trimestre imediatamente anterior houve queda de 1,7% (out-nov-dez/2017). Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados variou 11,2% chegando a 13,6 milhões de pessoas, já para a comparação com o mesmo trimestre do ano anterior observou-se retração de 3,4%. Logo, a força de trabalho somou neste trimestre 104,2 milhões de pessoas, retração de 0,1% frente ao trimestre imediatamente anterior.
Em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, os grupamentos de atividades que obtiveram crescimento da ocupação foram, na ordem decrescente: Outros serviços (10,4%), Alojamento e alimentação (5,7%), Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (3,1%), Serviços domésticos (2,5%), Transporte, armazenagem e correios (2,3%), Indústria (2,0%), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (1,5%), Informação, Comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (1,3%). Por outro lado, os agrupamentos com retração da ocupação foram: Construção (-4,1%) e Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-2,3%).
Analisando a população ocupada por posição na ocupação, comparados ao mesmo trimestre do ano anterior, observamos aumento nas seguintes categorias: empregador (5,7%), trabalho privado sem carteira (5,2%), trabalhador por conta própria (3,8%), setor público (3,2%), trabalho doméstico (2,4%), trabalho familiar auxiliar (1,4%). Para o trabalho privado com carteira houve retração de 1,5%.