Análise IEDI
Sinal de apreensão
O segundo trimestre do ano começou com um indicativo nada bom para nosso comércio exterior. Depois de quinze meses consecutivos de crescimento a taxas robustas, as exportações totais do país, aferidas pela média por dia útil, declinaram em abril. Como as importações seguem avançando, isso custou à balança uma perda de quase US$ 1 bilhão em saldo.
Por ora, o resultado das exportações, de -3,4% frente a abril de 2017 pela média diária, é candidato a ser um ponto fora da curva, mas alguns aspectos aconselham atenção redobrada. O primeiro deles diz respeito à disseminação da queda, que atingiu tanto os produtos básicos, como os manufaturados e semimanufaturados, como mostram abaixo as variações interanuais das médias diárias.
• Exportações totais: +13,8% em jan/18; +11,9% em fev/18; +9,6% em mar/18 e -3,4% em abr/18;
• Exportações de Básicos: +11,1%; -7,6%; +8,3% e -2,9%;
• Exportações de Semimanufaturados: +1,1%; +1,8%; +16,8% e -2,7%;
• Exportações de Manufaturados: +23,5%; +41,5%; +8,2% e -4,0%, respectivamente.
Em abril, foram os produtos manufaturados, puxados principalmente por produtos da cadeia automobilística (automóveis, veículos de carga, pneumáticos), que lideraram a retração exportadora. Espera-se que, como já ocorreu em outros meses, o segmento volte ao terreno positivo em breve, não significando uma pane em um dos motores da reativação da indústria brasileira.
O segundo aspecto a exigir atenção refere-se à trajetória recente das exportações. Mais do que o próprio sinal negativo do resultado de abril, o que causa mais apreensão é a nítida desaceleração do total dos embarques desde o final do ano passado. O ritmo de crescimento recuou pela metade entre dez/17 e mar/18, ao passar de 21% para 9,6%, antes de entrar no vermelho no mês passado.
Este é um desempenho frustrante, sobretudo se variações negativas voltarem a se repetir, pois o contexto internacional promete, segundo as estimativas mais recentes, um maior dinamismo para o comércio exterior em 2018. Seria um retrocesso na qualidade da recuperação, seja da indústria, seja da economia como um todo, se ela não puder contar com o fortalecimento das vendas externas.
Enquanto isso, as importações vêm crescendo a taxas de dois dígitos desde o terceiro trimestre do ano passado. Em abril último, o aumento foi de 10,3% frente a abr/17, consideradas as médias por dia útil. Além do ritmo consistente em que as importações de bens de consumo têm ocorrido (+12,1% ante abr/17), notadamente de bens duráveis (+29,8%), cabe destacar a evolução de bens de capital.
As compras externas do país de bens de capital vêm se mantendo sistematicamente no positivo desde agosto do ano passado e registra aceleração desde então, como mostram os resultados trimestrais: +2,7% no 3º T/17; +14,7% no 4ºT/17 e +18,8% no 1ºT/18. Em abril, o aumento foi de nada menos que 36,2%, levando a média móvel trimestral finda neste mês a +27%.
Este patamar de crescimento das importações de bens de capital, se se mantiver, é capaz de fazer frente às pesadas perdas sofridas durante a crise. Por isso, também funciona como um sinal de que, embora muito restrito a projetos de modernização, os investimentos podem estar ocorrendo.
Conforme os dados divulgados pelo MDIC, no mês de abril de 2018 a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 6,142 bilhões, valor 11,8% inferior ao alcançado em igual período de 2017, US$ 6,963 bilhões.
As exportações alcançaram a valor de US$ 19,932 bilhões, representando uma retração de 3,4% em relação a abril de 2017, tomando por base as médias diárias, que considera o número de dias úteis no mês. As importações somaram US$ 13,790 bilhões, o que significou um incremento de 10,3% na mesma base de comparação, considerando os dias úteis do mês.
No mês de abril de 2018, as médias diárias das exportações e importações foram de US$ 949 milhões e US$ 657 milhões, respectivamente.
Exportações por fator agregado. A exportação de produtos básicos foi de US$10,197 bilhões no período, crescimento de 13,3% em comparação a abril de 2017. Os produtos industrializados somaram US$ 9,273, manufaturados somaram US$ 6,880 bilhões e os semimanufaturados somaram US$ 2,393 bilhões, variações de 12,4%, 12,0% e 13,5%, respectivamente, quando comparado a abril de 2017.
Levando em conta as médias diárias das exportações, na comparação com igual mês de 2017 houve retração em todos os setores analisados, sendo de 7,9% para produtos de operações especiais, 4,0% para manufaturados, 3,7% para produtos industrializados, 2,9% para básicos e 2,7% para produtos semimanufaturados.
Destaques exportações. No grupo dos manufaturados, quando comparado com abril de 2017, caíram as vendas principalmente de açúcar refinado (-64,1%, para US$ 96 milhões), óxidos/hidróxidos de alumínio (-24,9%, para US$ 176 milhões), automóveis de passageiros (-24,6%, para US$ 539 milhões), pneumáticos (-17,3%, para US$ 97 milhões), polímeros plásticos (-14,9%, para US$ 150 milhões), laminados planos (-5,3%, para US$ 136 milhões), aviões (-4,9%, para US$ 362 milhões) e veículos de carga (-2,7%, para US$ 272 milhões). Por outro lado, aumentaram as vendas de motores e geradores elétricos (+67,4%, para US$ 169 milhões), óleos combustíveis (+57,3%, para US$ 191 milhões), suco de laranja não congelado (+44,1%, para US$ 115 milhões), tratores (+39,6%, para US$ 164 milhões), motores p/veículos e partes (+25,7%, para US$ 199 milhões), máquinas p/terraplanagem (+22,4%, para US$ 226 milhões) e autopeças (+6,5%, para US$ 203 milhões).
No grupo dos básicos, quando comparado com abril de 2017, retrocederam as vendas principalmente de carne suína (-31,7%, para US$ 96 milhões), café em grão (-23,1%, para US$ 296 milhões), minério de ferro (-21,5%, para US$ 1,5 bilhão), carne bovina (-17,7%, para US$ 280 milhões), soja em grão (-10,7%, para US$ 4,1 bilhões) e carne de frango (-9,5%, para US$ 514 milhões). Por outro lado, cresceram as vendas de bovinos vivos (+178,0%, para US$ 61 milhões), petróleo em bruto (+60,0%, para US$ 1,9 bilhão), fumo em folhas (+54,3%, para US$ 105 milhões), minério de cobre (+12,7%, para US$ 210 milhões) e farelo de soja (+12,0%, para US$ 614 milhões).
No grupo dos semimanufaturados, quando comparado com abril de 2017, decresceram as vendas principalmente de açúcar em bruto (-57,4%, para US$ 246 milhões), couros e peles (-27,4%, para US$ 136 milhões), óleo de soja em bruto (-14,8%, para US$ 122 milhões) e ouro em forma semimanufaturada (-7,3%, para US$ 151 milhões). Por outro lado, subiram as vendas de alumínio em bruto (+78,1%, para US$ 63 milhões), ferro fundido (+75,7%, para US$ 94 milhões), semimanufaturados de ferro/aço (+57,7%, para US$ 392 milhões), ferro ligas (+27,1%, para US$ 243 milhões), celulose (+20,3%, para US$ 644 milhões) e madeira serrada (+14,4%, para US$ 70 milhões).
Ao analisar os mercados compradores, caíram as vendas para os seguintes destinos: Oriente Médio (-50,6%, principalmente por açúcar, automóveis de passageiros, carne de frango, farelo de soja, soja em grão, tubos de ferro fundido, carne bovina, milho em grão), Oceania (-21,4%, por conta de coque de petróleo, suco de laranja congelado, calçados, celulose, óleo de soja em bruto, café em grão), África (-17,5%, em decorrência de açúcar, carne de frango, tubo de ferro fundido, veículos de carga, trigo em grão, bovinos vivos), Estados Unidos (-8,6%, por conta de aviões, etanol, óleos combustíveis, petróleo em bruto, automóveis de passageiros, óxidos/hidróxidos de alumínio, café em grão, carne bovina, mel, tereftalato de polietileno, obras de mármore/granito, polímeros plásticos, laminados planos) e Ásia (-5,3%, sendo que a China decresceu 7,7%, para US$ 5,8 bilhões, por conta de soja em grão, minério de ferro, óleo de soja em bruto, aviões, carne de frango, couros e peles, compostos de funções nitrogenadas, miudezas de animais). Por outro lado, aumentaram as vendas para a América Central e Caribe (+10,0%, por conta de petróleo em bruto, óleos combustíveis, arroz em grão, semimanufaturados de ferro/aço, celulose, chassis com motor, carne de frango, perfis de ferro/aço, laminados planos), Mercosul (+7,6%, sendo que a Argentina cresceu 4,6%, por conta de óleos combustíveis, automóveis de passageiros, minério de ferro, soja em grão, autopeças, laminados planos, inseticidas, fios elétricos, fio-máquina de ferro/aço, motocicletas, calçados, produtos de perfumaria) e União Europeia (+6,7%, por conta de carne de frango, soja em grão, semimanufaturados de ferro/aço, motores/geradores elétricos, celulose, aviões, óleos combustíveis, carne suína, gasolina, suco de laranja não congelado, ferro-ligas, máquinas p/terraplanagem).
Importações por categoria de uso. Dos US$ 13,790 bilhões importados em abril, US$ 8,454 bilhões foram de bens intermediários, US$ 2,020 bilhões de bens de consumo, US$ 1,773 bilhões de bens de capital e US$ 1,541 bilhão foram referentes ao grupo de combustíveis e lubrificantes.
Na comparação frente ao mesmo período de 2017, considerando a média diária, houve incremento das importações em todos os segmentos, puxado por bens de capital (36,2%), bens de consumo (12,1%), seguido por bens intermediários (6,3%) e combustíveis e lubrificantes (6,3%).
Destaques importações. Com relação a bens de capital, cresceram, principalmente, veículos de carga, máquinas/aparelhos mecânicos, colheitadeiras de algodão, laminadores a quente/frio, prensas p/fibras de madeira, unidades de processamento digital, aviões, quadros de energia, equipamentos terminais/repetidores.
No segmento bens de consumo, os principais aumentos foram observados nas importações de automóveis de passageiros, produtos imunológicos, azeite de oliva, imunoglobulina, medicamentos, fungicidas, confecções, frações de sangue, cebolas frescas, vinhos, obras de plástico.
No segmento de bens intermediários cresceram as aquisições de sulfetos de minério de cobre, álcool etílico, cloreto de potássio, trigos e misturas de trigo, caixas de marchas, válvulas tipo gaveta, pigmento rutilo, malte não torrado, catodos de cobre, circuitos integrados.
No grupo dos combustíveis e lubrificantes, o crescimento ocorreu principalmente pelo aumento de óleo diesel, coques, carvão, óleos lubrificantes, propanos liquefeitos, gás natural, butanos liquefeitos.
Finalmente, observando as importações por mercados fornecedores, na comparação abril 2018/2017, aumentaram as compras originárias dos principais mercados, a saber: América Central e Caribe (+39,5%, por conta de álcoois acíclicos, instrumentos médicos, artigos de prótese, medicamentos, alumínio em desperdícios, chumbo em bruto, inseticidas, suéteres, artigos farmacêuticos, centrifugadores, borracha natural, fios elétricos), Estados Unidos (+18,8%, por conta de óleos combustíveis, etanol, máquinas p/uso agrícola, óleos lubrificantes, naftas, petróleo em bruto, coque, gás butano, compostos heterocíclicos, partes de motores e turbinas p/aviação, automóveis de passageiros, autopeças, instrumentos de medida, máquinas automáticas, soda caustica, máquinas p/terraplanagem), Mercosul (+18,5%, sendo que da Argentina cresceu 19,0%, por conta de veículos de carga, trigo em grão, automóveis de passageiros, malte não torrado, gás propano, autopeças, naftas, ônibus, cebolas frescas, polímeros plásticos, aceleradores de reação, produtos de perfumaria, ureia), União Europeia (+18,3%, por conta de quadros de energia, autopeças, laminados planos, laminadores de metais, medicamentos, automóveis de passageiros, prensas p/fibras de madeira, inseticidas, motores p/veículos e partes, partes e peças de aeronaves, aviões, instrumentos de medida, compostos heterocíclicos, máquinas p/processamento de dados, máquinas p/elevação de carga, bombas e compressores) e Ásia (+4,6%, sendo que a China cresceu 10,0%, por conta de laminados planos, compostos heterocíclicos, compostos organo-inorgânicos, partes de aparelhos transmissores/receptores, aparelhos eletromecânicos, obras de alumínio, rolamentos e engrenagens, compostos de funções nitrogenadas, sulfato de amônio, motores e gerados). Por outro lado, diminuíram as compras originárias do seguinte mercado: África (-35,8%, por conta de naftas, petróleo em bruto, cacau em bruto, gás natural, adubos e fertilizantes, minério de manganês, laminados planos, minério de alumínio, borracha natural, fosfatos de cálcio, borracha sintética), Oriente Médio (-23,5%, por conta de petróleo em bruto, ureia, medicamentos, fumo em folhas, adubos e fertilizantes, partes e peças de aviões, óleos lubrificantes, éteres alcoólicos, máquinas p/moldar borracha, laminados planos, torneiras/válvulas) e Oceania (-7,0%, por conta de alumínio em bruto, produtos constituídos do leite, ligas de alumínio, laminados planos, inseticidas).