Análise IEDI
Recuperação preservada, mas sem melhoras
O comércio varejista, de modo geral, conseguiu manter um nível de dinamismo razoável no começo de 2018. Melhora adicional nas vendas não houve, mas pelo menos a vitalidade de sua recuperação no ano passado não parece ter sido comprometida, a despeito de certa desaceleração. Apesar disso, alguns de seus segmentos, até então com bons resultados, sucumbiram neste primeiro trimestre, o que não deixa de funcionar como um sinal de alerta.
Na série com ajuste sazonal, o total das vendas do varejo restrito, já descontada a inflação, variou pouco, +0,3% em março frente a fevereiro, mantendo o desempenho oscilante que vem registrando desde meados do ano passado, mas que agora se dá mais próximo de zero. No conceito ampliado, que inclui veículos, autopeças e material de construção, o crescimento foi mais substancial neste mesmo mês, de 1,1% ante fevereiro, mas isso depois de dois meses de quase estagnação.
É nos resultados no primeiro trimestre de 2018 como um todo que o quadro do varejo fica mais evidente, inclusive porque ajuda a diluir os efeitos calendário que marcaram o último mês de março, a saber, dois dias úteis a menos que em mar/17 e a comemoração da Páscoa, que havia sido em abril no ano passado. Visto sob esta ótica trimestral, o crescimento das vendas reais do varejo registrou uma desaceleração apenas moderada, como mostram as variações interanuais abaixo.
• Varejo Restrito: +4,3% no 3º T/17; +4,2% no 4ºT/17 e +3,8% no 1º T/18;
• Varejo Ampliado: +7,5%; +7,7% e +6,6%, respectivamente;
• Supermercados, alimentos, bebidas e fumo: +2,6%; +4,5% e +5,7%;
• Tecidos, vestuário e calçados: +12,3%; +6,9% e -1,6%;
• Móveis e eletrodomésticos: +15,3%; +11,3% e +1,7%;
• Outros artigos de uso pessoal e doméstico: +7,0%; +3,0% e +10,9%;
• Veículos e autopeças: +10,4%; +9,5% e +17,8%;
• Material de construção: +13,1%; +13,9% e +3,6%, respectivamente.
Cabe observar que para os diferentes segmentos do varejo o significado do primeiro trimestre de 2018 foi bastante assimétrico. Do total de 10 segmentos acompanhados pelo IBGE, 3 registraram queda nas vendas, sendo dois deles (combustíveis e livros, jornais e papelaria) já reincidentes, e outros 4 tiveram perda de dinamismo vis-à-vis o resultado de out-dez de 2017. Em outras palavras, o ano não começou bem para 70% dos ramos do varejo, dado que apenas 3 andaram na contração e ganharam ritmo.
Dentre aqueles com desempenho decepcionante no primeiro trimestre, vale destacar material de construção, móveis e eletrodomésticos e tecidos, vestuário e calçados, pois todos eles vinham em uma trajetória bastante favorável, chegando a atingir ritmo de crescimento de dois dígitos em boa parte de 2017. Agora, sofreram forte desaceleração.
No caso das vendas de tecidos, vestuário e calçados, depois de ter avançado 7,6% em 2017, voltou ao negativo no primeiro trimestre de 2018 (-1,6%). Nos outros dois casos, a perda de ritmo é persistente desde nov/17, mas só em mar/18 voltaram ao vermelho: -1,6% em material de construção e -3,2% em móveis e eletrodomésticos.
Face a esse comportamento, há um risco de que o aumento das vendas desses ramos que vimos no ano passado não refletia o efetivo ritmo de sua recuperação, mas estava muito condicionado por estímulos pontuais, notadamente pela liberação dos recursos do FGTS e do PIS/PASEP, muito embora também estivessem em atuação fatores mais sistêmicos, como o recuo da inflação e, consequentemente, a melhora do poder de compra das famílias e o retorno do crédito a pessoas físicas com juros um pouco menores.
Em contrapartida, dentre aqueles com ganho de velocidade em 2018, destaca-se supermercados, alimentos, bebidas e fumo. Neste caso, a bem comportada inflação de alimentos, que segue abaixo do IPCA geral, é um importante fator explicativo. Outro caso com aceleração nas vendas é o segmento de outros artigos de uso pessoal e doméstico, que incluem as lojas de departamento, em resposta tanto ao maior poder de compra da população como à melhora do crédito.
Também com uma alta cada vez mais forte, estão as vendas de veículos e autopeças, que ainda contam com bases de comparação muito baixas. Em março de 2018, o nível de suas vendas reais estava 33% abaixo do pico atingido em junho de 2012. Com o crédito às famílias voltando a fluir e os juros cobrados em rota descendente, esse segmento do varejo tem tudo para continuar crescendo a passos largos.
A partir dos dados de março de 2018 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista nacional, na série com ajuste sazonal, apresentou expansão de 0,3%, após recuar 0,2% em fevereiro. Na comparação com março do ano anterior, houve avanço de 6,5%. Para o acumulado dos últimos 12 meses, o resultado foi crescimento de 3,7% e para o acumulado do ano a variação foi positiva em 3,8%.
O volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, registrou aumento de 1,1% em relação a fevereiro de 2018, a partir de dados livres de influências sazonais. Na comparação com março de 2017, houve incremento de 7,8%. Para o acumulado dos últimos 12 meses a variação foi positiva em 6,6% e no acumulado do ano o crescimento foi de 6,2%.
Na comparação com o mês imediatamente anterior, a partir de dados dessazonalizados, cinco das oito atividades apresentaram crescimento nas vendas, sendo elas as seguintes na ordem crescente: combustíveis e lubrificantes (1,4%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (1,1%), tecidos, vestuário e calçados (0,7%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (0,7%) e móveis e eletrodomésticos (0,1%). Em relação os setores que apresentaram decréscimo tivemos: equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-5,0%), livros, jornais, revistas e papelaria (-1,2%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-1,1%). Para o comércio varejista ampliado, houve expansão de 1,1%, sendo aumento de veículos e motos, partes e peças 2,9% e sem variação para material de construção (0,0%).
Em relação ao mês de março de 2017, verificaram-se resultados positivos em três das oito atividades que compõem o varejo: outros artigos de uso pessoal e doméstico (13,8%), hipermercados, supermercados, produtos, alimentícios, bebidas e fumo (12,3%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (5,0%). Para os outros segmentos analisados, foi registrado variação negativa em livros, jornais, revistas e papelaria (-12,6%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-7,6%), combustíveis e lubrificantes (-4,8%), móveis e eletrodomésticos (-3,3%) e tecidos, vestuário e calçados (-0,7%). No comércio varejista ampliado houve crescimento de 7,8%, com crescimento em veículos, motos, partes e peças (16,0%) e retração em material de construção (-1,7%).
No acumulado do ano (janeiro a março de 2018) frente ao mesmo período do ano anterior, verificaram-se resultados positivos em cinco das oito atividades que compõem o varejo: outros artigos de uso pessoal e doméstico (10,9%), hipermercados, supermercados, produtos, alimentícios, bebidas e fumo (5,7%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (5,0%), móveis e eletrodoméstico (1,7%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (0,8%). Nos outros segmentos analisados, foram registradas retrações em: livros, jornais, revistas e papelaria (-8,2%), combustíveis e lubrificantes (-5,1%) e tecidos, vestuário e calçados (-1,6%). Em relação ao comércio varejista ampliado, houve expansão de 6,6%, em função crescimento de veículos, motos, partes e peças (17,9%) e material de construção (3,7%).
Analisando o acumulado de 12 meses, registrou-se variações positivas em cinco dos oito segmentos: móveis e eletrodomésticos (9,1%), tecidos, vestuário e calçados (6,2%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (5,8%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (4,4%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (3,5%). Para os demais setores foram observadas contrações: livros, jornais, revistas e papelaria (-5,1%), combustíveis e lubrificantes (-3,2%). Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação não apresentou variação. Já no comércio varejista ampliado houve expansão de 6,2%, sendo que veículos, motos, partes e peças cresceu 9,1% e material de construção, 9,0%.
Por fim, em comparação a março de 2017, 26 das 27 unidades federativas apresentaram crescimento do volume de comércio: Acre (18,0%), Amazonas (15,6%), Espírito Santo (15,1%), Rio Grande do Norte (13,6%), Santa Catarina (13,0%), Rio Grande do Sul (12,6%), Roraima (12,5%), Rondônia (9,3%), Pará (8,5%), Paraná (8,5%), Rio de Janeiro (7,9%), Paraíba (6,0%), Ceará (5,8%), Mato Grosso (5,7%), Tocantins (5,4%), Goiás (5,4%), Mato Grosso do Sul (5,2%), São Paulo (4,8%), Maranhão (4,7%), Minas Gerais (4,3%), Alagoas (3,0%), Piauí (2,4%), Distrito Federal (2,2%), Sergipe (2,1%), Bahia (1,0%) e Amapá (0,2%). A única unidade federativa que apresentou retração nas vendas foi Pernambuco 0,4%.