Análise IEDI
O perfil regional de um mês atípico
A paralisação do transporte rodoviário de carga no final de maio foi muito prejudicial para o desempenho industrial, como vimos semana passada. O episódio, contudo, veio agravar um quadro que já não era dos mais favoráveis, já que, desde o início de 2018, o crescimento da indústria vinha registrando certa perda de intensidade, à exceção de um único mês (abril). Os dados divulgados hoje pelo IBGE mostram o perfil regional deste que foi um mês bastante atípico.
Dada a extremada dependência do Brasil em relação ao modal rodoviário para o transporte de bens finais e bens intermediários, a greve dos caminhoneiros afetou praticamente todos os parques industriais do país. Frente a abril, já descontados os efeitos sazonais, foram registrados recuos na produção em nada menos do que 14 das 15 localidades acompanhadas pelo IBGE.
Houve apenas uma exceção, o estado do Pará (+9,2% ante abr/18), onde a estrutura industrial baseia-se muito concentradamente nos ramos extrativos, cujas empresas contam com transporte ferroviário para escoar sua produção. A indústria do Espírito Santo (-2,3%), também muito especializada no extrativismo, não conseguiu evitar o terreno negativo em maio, mas registrou a menor queda entre as quinze localidades do IBGE na série com ajuste.
São Paulo, por sua vez, que possui o maior e mais diversificado parque industrial, esteve entre os que mais caíram na comparação com abril, superando a queda da média nacional, como mostram as variações com ajuste sazonal abaixo. Foi o recuo mais forte da indústria paulista desde dezembro de 2008 (-13,1% ante nov/18), quando a crise global atingiu o Brasil, e implicou no mais baixo nível de produção desde setembro de 2003.
• Brasil: 0% em mar/18; +0,8% em abr/18 e -10,9% em mai/18;
• São Paulo: +3,0%; +0,6% e -11,4%, respectivamente;
• Rio de Janeiro: -2,6%; +6,2% e -7,0%;
• Minas Gerais: -0,2%; +7,6% e -10,2%;
• Rio Grande do Sul: -1,0%; +2,1% e -11,0%;
• Nordeste: -3,6%; +5,5% e -10,0%;
• Amazonas: +1,2%; -4,0% e -4,1%, respectivamente.
Outras localidades em que as perdas foram intensas, além de São Paulo, incluem todos os estados da região sul, especialmente o Paraná (-18,4% ante abr/18), seguido por Santa Catarina (-15,0%) e Rio Grande do Sul (-11,0%), a Bahia (-15%) e o Mato Grosso, que registrou o pior desempenho de maio: -24,1% frente a abril, já com ajuste sazonal. Todas estas seis localidades ficaram aquém do resultado geral da indústria brasileira.
Com resultados negativos também de dois dígitos e não muito distante do total Brasil ficaram as indústrias de Goiás (-10,9%), Minas Gerais (-10,2%) e a região Nordeste como um todo (-10,0%). As demais regiões, como Pernambuco (-8,1%) e Rio de Janeiro (-7,0%), registraram quedas não desprezíveis, mas em ritmo inferior às anteriores.
A despeito do resultado atípico de maio, é preciso observar que, em alguns casos, o que talvez tenha sido excepcional foi a intensidade da queda e não propriamente o sinal negativo do resultado. Isso por que a produção já vinha declinando anteriormente na série com ajuste sazonal, como no caso do Amazonas (-4,0% em abr/18 e -4,1% em mai/18), do Ceará (desde jan/18), Goiás (-2,4% em abr/18 e -10,9% em mai/18) e Rio Grande do Sul, que à exceção de abril (+2,1%) só registrou resultado negativo em 2018.
Em outros casos, ainda na série com ajuste, a alternância de resultados positivos e negativos não foi alterada, tendo sido a queda de maio apenas mais acentuada. Esta trajetória marca o desempenho da região Nordeste como um todo e dos estados de Bahia, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina.
Resultados Gerais. A partir dos dados dessazonalizados, na passagem de abril para maio de 2018, a produção industrial brasileira apresentou recuo de 10,9%. Entre os 15 locais pesquisados, 14 registraram retrações sendo eles: Mato Grosso (-24,1%), Paraná (-18,4%), Santa Catarina (-15,0%), Bahia (-15,0%), São Paulo (-11,4%), Rio Grande do Sul (-11,0%), Goiás (-10,9%), Minas Gerais (-10,2%), Nordeste (-10,0%), Pernambuco (-8,1%), Rio de Janeiro (-7,0%), Ceará (-4,9%), Amazonas (-4,1%) e Espírito Santo (-2,3%). De outro lado, somente Pará apresentou expansão de 9,2%.
Analisando em relação a maio de 2017, houve retração de 6,6% da indústria nacional, sendo que 12 dos 15 locais pesquisados registraram decréscimos, quais sejam: Goiás (-15,7%), Mato Grosso (-14,7%), Bahia (-13,7%), Paraná (-12,0%), Rio Grande do Sul (-10,8%), Nordeste (-10,3%), Ceará (-9,7%), Santa Catarina (-8,2%), Minas Gerais (-7,3%), Espírito Santo (-5,4%), São Paulo (-4,8%) e Pernambuco (-3,5%). Para as demais regiões observamos expansões, sendo elas no Pará (6,0%), Amazonas (4,5%) e Rio de Janeiro (0,9%).
Acumulado do ano (janeiro a maio de 2018), houve variação positiva de 2,0% em termos nacionais, com expansão na produção de 8 das 15 regiões pesquisadas. Para as principais expansões, temos os estados do Amazonas (17,9%), Pará (6,6%), São Paulo (5,0%), Santa Catarina (4,0%), Rio de Janeiro (3,6%), Pernambuco (2,3%), Ceará (1,1%) e Rio Grande do Sul (0,2%). Por outro lado, os estados que apresentaram retrações foram, Espírito Santo (-5,1%), Goiás (-3,6%), Minas Gerais (-2,2%), Nordeste (-1,6%), Bahia (-1,3%), Paraná (-0,9%) e Mato Grosso (-0,4%).
São Paulo. Na comparação com o mês de abril de 2018, a produção da indústria paulista apresentou retração de 11,4%, a partir de dados dessazonalizados. Em relação a maio de 2017, houve queda de 4,8%. No entanto, analisando os dados acumulado de janeiro a maio de 2018, tivemos aumentos nos seguintes setores: veículos automotores, reboques e carrocerias (15,6%), máquinas e equipamentos (13,7%), metalurgia (13,5%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (9,2%) e produtos de borracha e material plástico (5,6%). Por outro lado, os cinco setores que apresentaram variações negativas foram: outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (-13,6%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-9,9%), produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (-5,8%), celulose, papel e produtos de papel (-2,4%) e bebidas (-1,9%).
Espírito Santo. Na comparação com o mês de abril de 2018, a produção da indústria capixaba apresentou queda de 2,3%, a partir de dados dessazonalizados. Em relação a maio de 2017, houve retração de 5,4%. No acumulado do ano a indústria apresentou a maior retração dos estados brasileiros (-5,1%), sendo que o único setor com contribuição positiva foi: metalurgia (0,3%). Os cinco demais setores apresentaram retrações, sendo eles: produtos de minerais não-metálicos (-19,0%), celulose, papel e produtos de papel (-10,9%), indústria de transformação (-6,8%), indústrias extrativas (-3,3%) e produtos alimentícios (-1,6%).
Amazonas. Na comparação com o mês de abril de 2018, a produção da indústria amazonense apresentou retração de 4,1%, a partir de dados dessazonalizados. Em relação a maio de 2017, houve incremento de 4,5%, sendo o estado com maior expansão dentre os estados analisados. Por fim, os setores com as maiores variações positivas (acumulado janeiro a maio de 2018) foram: equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (36,5%), bebidas (23,8%), outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (22,1%), indústria de transformação (19,1%) e máquinas e equipamentos (15,5%). De outro lado, as maiores variações negativas foram em: máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-10,7%), produtos de borracha e material plástico (-1,4%) e indústria extrativas (-0,5%).