Análise IEDI
Mês de quedas disseminadas
Diferentemente da indústria, o comércio varejista foi menos afetado pela paralisação dos caminhoneiros no mês de maio. Já descontados os efeitos sazonais, a queda de suas vendas reais frente a abril foi de apenas 0,6% em seu conceito restrito, um ritmo que não destoa da trajetória do setor, muito embora tenha sido o primeiro resultado negativo de 2018. Em contraste, a produção industrial declinou nada menos que 10,9%.
Esta aparente preservação do resultado do varejo em maio esconde, porém, uma ampla disseminação de perdas que, em alguns casos, atingiram uma intensidade bastante significativa. Exemplo disso foi a variação de -14,6% registrada pelas vendas de veículos e autopeças, o que levou o comércio em seu conceito ampliado (que também inclui material de construção) a uma queda 4,9% na passagem de abril para maio, a mais intensa desde set/12.
Dos 10 segmentos do varejo acompanhados pelo IBGE, 8 apresentaram desempenho negativo no mês em questão. As únicas exceções foram outros artigos de uso pessoal e doméstico que conseguiram meramente evitar terreno negativo, ficando estáveis, e supermercados, alimentos, bebidas e fumo que ampliaram suas vendas reais em 0,6% frente a abril.
No caso de alimentos, bebidas e fumo, ajudam a explicar o resultado positivo fatores como a comercialização de bens essenciais, a capilaridade dos pontos de venda e a existência de estoques suficientes para atender a demanda. Em junho, a recomposição de estoques deste segmento do varejo e a normalização de sua demanda podem, inclusive, vir a funcionar a favor da recuperação, ao menos parcial, do nível de produção de alguns ramos industriais.
Assim, por mais que o varejo não tenha passado ileso pelos eventos de maio, a maioria de seus segmentos não testemunhou níveis recordes de contração nas vendas, à exceção de veículos e autopeças, como dito anteriormente, material de construção, cujo declínio de 4,3% foi o mais acentuado desde jan/09 e combustíveis e lubrificantes, para quem a queda de 6,1% foi o pior desempenho da série com ajuste. Outros resultados nesta mesma comparação podem ser vistos abaixo:
• Varejo Restrito: +1,0% em mar/18; +0,7% em abr/18 e -0,6% em mai/18;
• Supermercado, alimentos, bebidas e fumo: +0,2%; +1,0% e +0,6%, respectivamente;
• Tecidos, vestuário e calçados: +0,7%; -0,7% e -3,2%;
• Móveis e eletrodomésticos: 0%; +0,4% e -2,7%;
• Material de escritório, info. e comunicação: -4,1%; +4,0% e -4,2%
• Varejo Ampliado: +1,8%; +1,5% e -4,9%;
• Veículos e autopeças: +4,8%; +1,2% e -14,6%;
• Material de construção: -0,1%; +0,8% e -4,3%, respectivamente.
A despeito da excepcionalidade dos resultados negativos de maio, mesmo estes não tendo sido muito intensos, vale observar que alguns segmentos do varejo, que vinham mostrando boa performance em 2017, assumiram trajetórias pouco favoráveis em 2018. As vendas reais de tecidos, vestuário e calçados, por exemplo, caíram tanto em abril como em maio na série com ajuste sazonal. Móveis e eletrodomésticos ficaram virtualmente estáveis em março e abril, antes da queda de maio.
E não são apenas estes: outros artigos de uso pessoal e doméstico estão parados no mesmo nível de vendas desde o começo do ano e material de escritório, informática e comunicação vem registrando forte oscilação, perdendo em um mês o que ganhou no anterior.
A comparação interanual também não ajuda muito esses segmentos. Existe uma clara trajetória de desaceleração iniciada no final de 2017 em eletrodomésticos e em material de construção. Ademais, em móveis e em tecidos, vestuário e calçados esse movimento já levou de volta as vendas para o terreno negativo no primeiro trimestre de 2018 e possivelmente no segundo trimestre, como sugere a piora adicional que apresentaram no período março-abril-maio/18.
A partir dos dados de maio de 2018 da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista nacional, na série com ajuste sazonal, apresentou decréscimo de 0,6%, praticamente descontando o avanço de 0,7% registrado no mês anterior. Na comparação com maio do ano anterior, houve incremento de 2,7%. Para o acumulado dos últimos doze meses, o resultado cresceu em 3,7% e para o acumulado do ano o incremento foi de 3,2%.
No que se refere ao volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, registrou retração de 4,9% em relação a abril de 2018, a partir de dados livres de influências sazonais. Na comparação com maio de 2017, houve incremento de 2,2%. Para o acumulado dos últimos 12 meses houve variação positiva de 6,8% e no acumulado do ano a expansão registrou 6,3%.
Na comparação com o mês imediatamente anterior, a partir de dados dessazonalizados, somente um segmento apresentou expansão nas vendas, sendo esse: hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,6%). Por outro lado, os seguintes segmentos apresentaram retrações, sendo eles: livros, jornais, revistas e papelaria (-6,7%), combustíveis e lubrificantes (-6,1%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-4,2%), tecidos, vestuário e calçados (-3,2%), móveis e eletrodomésticos (-2,7%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-2,4%). Já para outros artigos de uso pessoal e doméstico não houve variação. Para o comércio varejista ampliado, houve queda de 4,9%, sendo que veículos e motos, partes e peças -14,6% e material de construção -4,3%.
Em relação ao mês de maio de 2017, verificaram-se resultados positivos em três das oito atividades que compõem o varejo, sendo as variações as seguintes: hipermercados, supermercados, produtos, alimentícios, bebidas e fumo (8,0%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (6,9%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (4,5%). Por outro lado, os outros segmentos analisados, apresentaram queda sendo eles: livros, jornais, revistas e papelaria (-14,0%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-7,9%), combustíveis e lubrificantes (-7,9%), móveis e eletrodomésticos (-6,1%) e tecidos, vestuário e calçados (-3,6%). Em relação ao comércio varejista ampliado, houve crescimento de 2,2%, motivado pela expansão de veículos, motos, partes e peças em 2,2% e material de construção retraiu em 1,9%.
Analisando o acumulado do ano (janeiro a maio de 2018), verificaram-se resultados positivos em quatro das oito atividades que compõem o varejo, as variações foram as seguintes: outros artigos de uso pessoal e doméstico (7,8%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (5,9%), hipermercados, supermercados, produtos, alimentícios, bebidas e fumo (5,6%) e móveis e eletrodoméstico (0,7%). Em relação aos outros segmentos analisados, foi registrado variações negativas em: livros, jornais, revistas e papelaria (-8,5%), combustíveis e lubrificantes (-4,9%), tecidos, vestuário e calçados (-3,5%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-0,4%). Em relação ao comércio varejista ampliado, verificou-se crescimento de 6,3%, em função do crescimento de veículos, motos, partes e peças (17,8%) e material de construção (4,8%).
Para a análise do acumulado de 12 meses, registrou-se expansões em cinco dos oito segmentos, quais sejam: móveis e eletrodomésticos (7,8%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (5,9%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (5,6%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (4,2%) e tecidos, vestuário e calçados (3,9%). Para os demais setores observamos contrações, sendo eles: livros, jornais, revistas e papelaria (-6,1%), combustíveis e lubrificantes (-3,5%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-1,7%). Para o comércio varejista ampliado, houve aumento de 6,8%, sendo que veículos, motos, partes e peças apresentou expansão de 12,6% e material de construção 9,3%.
Por fim, comparando a maio de 2017 com maio de 2018, 20 das 27 unidades federativas apresentaram expansão do volume de comércio, sendo as maiores variações na ordem decrescente: Roraima (11,0%), Amazonas (9,3%), Rio Grande do Norte (9,0%), Acre (8,3%), Tocantins (6,9%), Espírito Santo (6,7%), Rio Grande do Sul (6,4%), Santa Catarina (6,1%), Pará (5,8%), Alagoas (4,3%), Rondônia (4,3%), Maranhão (3,4%), Ceará (3,3%), São Paulo (3,0%), Minas Gerais (2,8%), Goiás (1,9%), Paraíba (1,5%), Piauí (1,4%), Paraná (1,1%) e Rio de Janeiro (0,9%). Com relação as outras unidades federativas, registraram-se retrações para: Distrito Federal (-2,5%), Mato Grosso (-2,1%), Bahia (-1,1%), Pernambuco (-0,7%), Amapá (-0,5%), Mato Grosso do Sul (-0,3%) e Sergipe (-0,2%).