Análise IEDI
A evolução recente da produtividade da indústria brasileira
A Carta IEDI a ser divulgada hoje analisa a evolução da produtividade industrial no período recente, relacionando-a com as mudanças estruturais internas ao próprio setor. Este é mais um estudo que compõe a série de quinze trabalhos que subsidiaram a elaboração da estratégia industrial do IEDI, a ser publicada em breve.
No Brasil, a indústria de transformação começou a perder relevância na economia antes de ter alcançado elevado grau de complexidade e de se tornar capaz de sustentar níveis mais altos e taxas mais expressivas de crescimento da produtividade para si própria e para a economia como um todo. Desde meados dos anos 1980 se desenvolve uma regressão do setor, que se intensificou após a abertura econômica dos anos 1990.
O crescimento industrial bem inferior ao da economia como um todo no Brasil teve consequências graves para a indústria, que passou a acumular menores excedentes para investir e retrai suas ambições de progresso técnico e de inovação, tendo origem aí um dos fatores que deprimiram a produtividade do setor e da economia brasileira como um todo. A baixa qualidade da educação no país, o afastamento da economia brasileira em relação à economia internacional e determinantes microeconômicos também foram fatores que influenciaram adversamente a produtividade industrial.
A trajetória do hiato de produtividade comparado ao padrão norte-americano é indicativa da gravidade do retrocesso da produtividade do trabalho no setor manufatureiro do Brasil, ou seja, o produto médio do trabalhador na indústria. Este chegou a corresponder a 0,45 do seu equivalente dos EUA, mas em 2017 foi de apenas um quarto, retornando praticamente aos níveis correspondentes ao início dos anos 1950.
Este estudo procurou identificar diferentes desempenhos setoriais de produtividade no interior da indústria de transformação brasileira. Para isso utilizou-se dos dados da PIA/IBGE de 2010 a 2015 – este o último ano com dados disponíveis na ocasião do levantamento. Nesse período, o aumento médio anual da produtividade alcançou 0,7%, ou seja, ocorreu uma virtual estagnação da produtividade. O resultado combinou uma variação de 0,6% ao ano do valor adicionado da indústria de transformação com contração de 0,1% em média do emprego na produção.
O progresso da produtividade da indústria de transformação brasileira em níveis muito aquém do que seria desejável está relacionado com a perda de importância da indústria no PIB, mas também com o processo de especialização e perda de complexidade da atividade manufatureira, dada a maior concentração da indústria na produção de bens de menor valor agregado.
Cabe resumir os resultados do estudo com o comentário de que o baixo crescimento médio da produtividade industrial refletiu as mudanças na estrutura produtiva. Todos os grupamentos da indústria apresentaram aumento de produtividade. A exceção ficou por conta precisamente do grupo que ampliou sua expressão na estrutura industrial e que representava 41,3% do total da indústria em 2015, ou seja, o grupamento intensivo em recursos naturais, no qual a produtividade teve variação negativa de 2% a.a.
Nos grupamentos de indústrias intensivas em trabalho e intensivas em escala, o avanço foi modesto (1,7% a.a. e 1,6% a.a., respectivamente). O crescimento de produtividade foi realmente significativo apenas no grupamento de indústrias intensivas em engenharia e P&D, 5,0% a.a., mas seu reflexo na indústria como um todo resultou amortecido devido à modesta expressão deste grupo na estrutura industrial (15,7% em 2015).
Entre os setores de atividade da indústria de transformação, vários deles obtiveram excelentes resultados, mas as maiores taxas de crescimento da produtividade ocorreram em segmentos com menor peso relativo no valor adicionado da indústria de transformação, como nos casos de fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (16,6% em média ao ano) e impressão e reprodução de gravações (6,1% em média ao ano). A contribuição desses setores ao valor adicionado era somente de 3,6% do total em 2015.
Por sua vez, entre os setores de maior expressão na estrutura produtiva, o de fabricação de produtos alimentícios, que representava 18,6% do total do valor adicionado em 2015, teve crescimento médio da produtividade apenas modesto, 1,7% a.a.. Já o de fabricação de outros produtos químicos obteve alto índice de produtividade, 4,8% a.a., mas responde por uma proporção menor do valor adicionado, 7,9%.
Dentre os setores com retrocesso de produtividade, desponta o de fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis que apresentou a maior queda (7,2% a.a) na taxa de crescimento. Outro grande setor industrial, fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias, foi destaque negativo com queda de 3,5% ao ano em média.
O estudo ainda revelou lacunas em políticas públicas no período que não podem ser repetidas. De fato, faltou a execução de políticas voltadas a alavancar a produtividade industrial, especialmente com foco em ações de desenvolvimento tecnológico e inovação. Em particular, seria beneficiado o grupamento intensivo em recursos naturais, este o grupo favorecido pelo modelo econômico brasileiro e o boom do agronegócio, mas que reduziu sua produtividade.
Políticas com esse mesmo teor poderiam ter contribuído para um desempenho superior nos demais grupamentos, principalmente quanto ao grupo de indústrias intensivas em engenharia e P&D, que obteve um grande crescimento de produtividade, mas cuja expressão na estrutura industrial brasileira é relativamente baixa. Para todos os grupamentos, a moderação na valorização de nossa moeda teria tido um papel compensatório ao baixo crescimento do valor agregado industrial e, portanto, da produtividade.