Análise IEDI
Sem margem para ilusão
Ao encerrar o desempenho da indústria na primeira metade do ano, os dados de junho de 2018 divulgados hoje pelo IBGE trazem duas informações relevantes, uma positiva e outra nem tanto assim. A primeira delas, sem dúvida, diz respeito à alta de 13,1% frente ao mês anterior com ajuste sazonal, que foi expressiva o suficiente para compensar o tombo de maio (-11%) decorrente da paralisação dos caminhoneiros.
Esta compensação das perdas anteriores não ficou restrita apenas ao agregado geral do setor e se verificou em todos os seus macrossetores, inclusive aqueles sofreram as piores perdas de produção em maio, como bens de consumo duráveis (-26,1% e +34,4% agora em junho) e bens de capital (-18,8% e +25,6%, respectivamente). Além disso, 22 dos 26 ramos pesquisados pelo IBGE registraram variação positiva em junho, sendo que 15 deles conseguiram compensar integralmente suas quedas anteriores.
Assim, a recuperação industrial mostrou-se, em linhas gerais, consistente o suficiente para sobrepujar as adversidades pontuais, porém graves, verificadas em maio, muito embora este comportamento não tenha sido possível para a totalidade das atividades industriais. Vale lembrar que 4 ramos não cresceram, como outros equipamentos de transporte, exceto veículos (-10,7% ante mai/18 com ajuste) e farmacêuticos e farmoquímicos (-0,1%), e outros 7 não aumentaram a produção suficientemente para assegurar a compensação da perda anterior.
Por mais favorável que tenha sido a reação de junho, não nos iludamos. Os eventos excepcionais dos últimos meses não alteraram em nada o movimento de redução do dinamismo industrial que vem marcando 2018. Seja na comparação interanual, seja na comparação com ajuste sazonal, trimestre após trimestre a recuperação do setor perdeu força após a passagem de ano. Os dados abaixo da indústria geral não deixam margem de dúvida:
• Frente ao mesmo período do ano anterior: +4,9% no 4º trim/17; +3,0% no 1º trim/18 e +1,7% no 2º trim/18;
• Frente ao período anterior com ajuste sazonal: +1,6% no 4º trim/17; +0,3% no 1º trim/18 e -2,5% no 2º trim/18.
Em maior ou menor medida, este é um comportamento que se repete em todos os macrossetores industriais: nítida desaceleração em relação ao mesmo trimestre de um ano atrás e retorno ao terreno negativo quando considerado o desempenho de mais curto prazo.
A insistência com a importância de que a recuperação industrial ganhe velocidade vem do longo caminho a ser trilhado para que o setor vire de fato a página da recente crise de 2014-2016. É isso que indica o fato de o atual nível de produção estar quase 14% abaixo de seu pico histórico atingido em maio de 2011. A diferença em comparação com o início de 2014, que consiste no primeiro ano de retração do setor, por sua vez, é um pouco menor, mas ainda assim bastante expressiva: -10%.
Além disso, sem um ganho maior de vitalidade, a indústria continuará encontrando dificuldades para desempenhar integralmente seu papel de alavanca do crescimento da economia como um todo, por meio de suas inúmeras relações intra e intersetoriais e da geração de empregos de melhor qualidade.
Os dados da Pnad Contínua divulgados esta semana exemplificam este último ponto, ao mostrar que a criação de vagas de emprego pela indústria tem sido cada vez menor em 2018, acompanhando essa trajetória pouco favorável do seu ritmo da produção. Como a indústria é um grande gerador de empregos formais, a moderação da crise do trabalho com carteira assinada, que vinha ocorrendo desde o início de 2017, estancou-se em 2018, mantendo o mesmo ritmo tanto no primeiro como no segundo trimestre do ano.
Por isso, muito se deixa de ganhar em crescimento e emprego com o atual baixo dinamismo da indústria.
A Pesquisa Industrial Mensal do mês de junho divulgada hoje pelo IBGE indica, para dados livres de influência sazonal, que a produção industrial nacional registrou avanço de 13,1% frente ao mês de maio de 2018. Esta foi a maior alta da série histórica, iniciada em 2002.
Em comparação a junho de 2017, registrou-se expansão de 3,5%. Já para o acumulado do ano de 2018, o setor industrial obteve crescimento de 2,3%, e para o acumulado de doze meses o aumento registrado foi de 3,2%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior, para dados sem influência sazonal, todos os segmentos obtiveram expansões: bens de consumo duráveis 34,4%, bens de capital 25,6%, bens de consumo 19,8%, bens de consumo semiduráveis e não duráveis 15,7% e bens intermediários 7,4%.
O resultado observado na comparação com o mês de junho de 2017 aponta acréscimo para todos os segmentos: bens de consumo duráveis (16,0%), bens de consumo (5,6%), bens semiduráveis e não duráveis (3,2%), bens de capital (9,5%) e bens intermediários (1,8%). Para o índice acumulado do ano, também se registrou crescimentos em todos os segmentos: bens de consumo duráveis (14,3%), bens de capital (9,5%), bens de consumo (3,5%), bens intermediários (0,9%) e bens semiduráveis e não duráveis (0,7%).
Setores. Na comparação com junho de 2017, houve expansão no nível de produção em 15 dos 26 ramos pesquisados. As maiores retrações estiveram nos seguintes setores: outros equipamentos de transporte (-14,4%), produtos diversos (-10,4%), produtos têxteis (-8,0%), produtos de fumo (-5,7%), confecção de artigos de vestuário e acessórios (-5,1%), produtos alimentícios (-2,8%), couro, artigos de viagem e calçados (-2,7%), outros produtos químicos (-1,9%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-1,8%), impressão e reprodução de gravações (-1,4%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-0,3%). Por outro lado, houve acréscimo nos demais segmentos analisados sendo eles: veículos automotores, reboques e carrocerias (26,7%), bebidas (13,6%), fabricação de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustível (11,4%), produtos de madeira (7,2%), celulose, papel e produtos de papel (7,0%), móveis (6,2%), produtos de minerais não metálicos (4,8%), metalurgia (3,3%), perfumaria, sabões e produtos de limpeza (2,6%), indústrias extrativas (1,6%), manutenção reparação e instalação de maquinas e equipamentos (1,2%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (1,1%), produtos de metal (1,1%), máquinas e equipamentos (0,7%) e produtos de borracha e material plástico (0,2%).
Por fim, na comparação do acumulado do ano de 2018 frente a igual período do ano anterior, a produção industrial apresentou expansão em 14 dos 26 ramos analisados: veículos automotores, reboques e carrocerias (18,3%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (18,2%), produtos de madeira (6,4%), metalurgia (5,8%), móveis (5,5%), máquinas e equipamentos (4,3%), celulose, papel e produtos de papel (4,2%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (3,6%), perfumaria, sabões e produtos de limpeza (3,1%), bebidas (2,7%), produtos de borracha e de material plástico (2,4%), manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (1,6%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustível (0,9%) e produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (0,4%). Para os demais segmentos houve decréscimos em: produtos de fumo (-7,7%), couro, artigos de viagem e calçados (-5,0%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-3,8%), impressão e reprodução de gravações (-3,4%), outros equipamentos de transporte (-3,4%), produtos diversos (-3,1%), outros produtos químicos (-2,8%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-1,3%), produtos de minerais não-metálicos (-1,0%), produtos têxteis (-0,9%), indústrias extrativas (-0,7%) e produtos alimentícios (-0,6%).