Análise IEDI
Fatores excepcionais
Segundo os dados do Mdic divulgados hoje, o saldo da balança comercial no mês de agosto de 2018 registrou superávit de US$ 3,77 bilhões. Este montante representa um declínio de 32,5% em relação a igual mês de 2017, decorrente de uma dinâmica em que as importações avançam mais rapidamente do que as exportações. A taxa de crescimento dos desembarques chegou a +35,3%, enquanto a dos embarques foi de +15,8% frente a ago/17.
Este diferencial do ritmo de crescimento de exportações e importações é, porém, ainda maior se considerarmos que, em agosto, ocorrem alguns fatores que contribuíram substancialmente para o crescimento de nossas vendas externas. O primeiro deles foi a exportação contábil de uma plataforma de petróleo no valor de US$ 1,3 bilhão.
O segundo fator, por sua vez, compreendeu a expressiva ampliação de produtos exportados pelo setor aeronáutico, que tende a ter um caráter pontual. Juntos, esses dois fatores explicam nada menos do que 70% da melhora das exportações totais e 83% da exportação adicional de manufaturados entre agosto de 2017 e agosto de 2018.
Isso sugere que a desaceleração segue de modo mais intenso do que aparenta. No acumulado de janeiro a agosto, comparado com o mesmo período do ano anterior, o dinamismo das exportações totais foi reduzido pela metade, como mostram as variações abaixo.
• Exportações totais: +18,1% em jan-ago/17 e +9,1% em jan-ago/18;
• Manufaturados: +10,4% e +11,2%, respectivamente;
• Semimanufaturados: +14,2% e -3,9%;
• Básicos: +25,8% e +12,1%, respectivamente.
Na origem desta evolução estão semimanufaturados, que já apresentam declínio em 2018, decorrente do retrocesso exportador de açúcar em bruto (-42,6%) e couros e peles (-25,4%), entre outros produtos; e os básicos, cujo dinamismo não é desprezível, mas tem sido bastante inferior do que aquele do ano passado.
Os produtos manufaturados, a seu turno, têm se mostrado capazes de, à primeira vista, conservarem seu dinamismo em 2018. O quadro é alterado, contudo, se considerarmos os fatores excepcionais de agosto. Vale lembrar ainda que em fevereiro também houve um episódio de exportação contábil de plataforma de petróleo no valor de US$ 1,5 bilhão. Sem esses fatores, o resultado cai de +11,2% para +4,2% (ou +5,8% excluindo apenas as duas plataformas), denotando clara desaceleração também em manufaturados.
Em contrapartida, o crescimento das importações totais mais do que triplicou em 2018, ao passar de +7,3% em jan-ago/17 para +23,9% em jan-ago/18. O avanço se dá tanto em bens intermediários (+10,9% e +13,4%, respectivamente), como em bens de consumo (+4,4% e +17,2%), mas principalmente em bens de capital, que caíam 23,4% em jan-ago/17 e agora crescem a um ritmo espetacular de +95,6%.
Este desempenho em bens de capital deve, entretanto, ser interpretado com cuidado. Além das baixas bases de comparação, depois de quatro anos (2014-2017) seguidos de fortes quedas, há a importação de plataformas de petróleo tanto em julho como em agosto que alavancou muito seu resultado em 2018.
Conforme os dados divulgados pelo MDIC, no mês de agosto de 2018 a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 3,775 bilhões, retração de 32,5% frente ao montante alcançado em igual período de 2017, US$ 5,592 bilhões.
As exportações atingiram o valor de US$ 22,552 bilhões, representando um crescimento de 15,8% em relação a agosto de 2017, tomando por base as médias diárias, que considera o número de dias úteis no mês. As importações somaram US$ 18,777 bilhões, o que significou uma expansão de 35,3% na mesma base de comparação, considerando os dias úteis do mês.
Para o mês de agosto de 2018, as médias diárias das exportações e importações registradas foram de US$ 980 milhões e US$ 816 milhões, respectivamente.
Exportações por fator agregado. A exportação de produtos básicos foi de US$10,448 bilhões no período, acréscimo de 16,4% em comparação a agosto de 2017. Os produtos industrializados alcançaram US$ 11,929, crescimento de 18,6% quando comparado a agosto de 2017, os manufaturados somaram US$ 9,812 bilhões, representando por sua vez aumento de 35,1% na mesma base de comparação anterior e os semimanufaturados somaram US$ 2,117 bilhões, decréscimo de 24,2% quando comparado a agosto de 2017.
Levando em conta as médias diárias das exportações, na comparação com igual mês de 2017 registrou-se crescimento em dois dos cinco segmentos analisados, sendo eles: produtos manufaturados (35,1%) e produtos básicos (15,9%). Por outro lado, houve queda nos segmentos de operações especiais (-60,0%) e produtos semimanufaturados (-24,2%).
Destaques exportações. No grupo dos básicos, quando comparado com agosto de 2017, aumentaram as vendas principalmente de farelo de soja (+46,0%, para US$ 622 milhões), soja em grão (+43,7%, para US$ 3,2 bilhões), minério de cobre (+43,1%, para US$ 346 milhões), petróleo em bruto (+29,3%, para US$ 1,7 bilhão), minério de ferro (+23,0%, para US$ 1,6 bilhão) e carne bovina (+13,5%, para US$ 590 milhões).
No grupo dos manufaturados, quando comparado com agosto de 2017, aumentaram as vendas principalmente de plataforma para extração de petróleo (de zero para US$ 1,3 bilhão), motores e turbinas para aeronaves (de US$ 3 milhões para US$ 259 milhões), aquecedor/secador e partes (de US$ 9 milhões para US$ 178 milhões), centrifugadores (993,6%, para US$ 193 milhões), partes de motores e turbinas para aviação (+257,1%, para US$ 252 milhões), aviões (+105,0%, para US$ 751 milhões), óleos combustíveis (+90,3%, para US$ 224 milhões), tubos flexíveis de ferro/aço (+75,8%, para US$ 152 milhões), motores para veículos automóveis e partes (+33,9%, para US$ 228 milhões), polímeros plásticos (+10,9%, para US$ 171 milhões) e autopeças (+3,7%, para US$ 212 milhões).
No grupo dos semimanufaturados, quando comparado com agosto de 2017, decresceram as vendas principalmente de semimanufaturados de ferro/aço (-85,2%, para US$ 56 milhões), açúcar em bruto (-48,3%, para US$ 412 milhões), couros e peles (-31,2%, para US$ 116 milhões), ferro ligas (-28,1%, para US$ 174 milhões) e ouro em forma semimanufaturada (-9,7%, para US$ 145 milhões). Por outro lado, aumentaram as vendas de catodos de cobre (+307,4%, para US$ 43 milhões), óleo de soja em bruto (+34,3%, para US$ 143 milhões), ferro fundido (+27,8%, para US$ 65 milhões), celulose (+20,1%, para US$ 683 milhões) e madeira serrada (+14,7%, para US$ 67 milhões).
Ao analisar os mercados compradores, cresceram as vendas para a América Central e Caribe (+259,3%, por conta de plataforma para extração de petróleo, aviões, motores/turbinas para aviação, óleos combustíveis, cobre em barras, motores e geradores, preparações de carne bovina), Oceania (+75,7%, por conta de óleos combustíveis, máquinas para terraplanagem, calçados, pneumáticos, minério de ferro, celulose, fumo em folhas), Ásia (+19,0%, sendo que a China cresceu 38,5%, para US$ 5,9 bilhões, por conta de soja em grão, petróleo em bruto, minério de ferro, celulose, carne bovina, catodos de cobre, minério de manganês, açúcar em bruto, carne suína, hidrocarbonetos, óleos combustíveis, tripas e buchos de animais), Estados Unidos (+20,3%, por conta de petróleo em bruto, aviões, partes de motores/turbinas para aviação, motores e turbinas para aviação, óxidos/hidróxidos de alumínio, obras de plástico, rolamentos e engrenagens, motores e geradores elétricos, preparações de carne bovina, ferro fundido, torneiras/válvulas, aparelhos de medida, suco de laranja não congelado), União Europeia (+16,6%, por conta de centrifugadores, motores e turbinas para aviação, tubos de ferro fundido, soja em grão, farelo de soja, aviões, tubos flexíveis de ferro/aço, partes de motores e turbinas para aviação, carne de frango, silício, celulose, gasolina, óxidos/hidróxidos de alumínio, aparelhos de medida, polímeros plásticos, preparações de carne bovina) e Mercosul (+3,5%, sendo que a Argentina decresceu 4,8%, por conta de automóveis de passageiros, veículos de carga, máquinas para terraplanagem, tratores, laminados planos, óleos combustíveis, semimanufaturados de ferro/aço, máquinas para uso agrícola, autopeças, motocicletas, inseticidas, veículos e materiais para vias férreas). Por outro lado, diminuíram as vendas para a África (-31,2%, em decorrência de milho em grão, açúcar, carne bovina e de frango, semimanufaturados de ferro/aço, alumínio em tiras, bovinos vivos, cobre em barras, coque, óxidos/hidróxidos de alumínio, máquinas para terraplanagem, motores e geradores) e Oriente Médio (-2,3%, principalmente por açúcar, automóveis de passageiros, óxidos/hidróxidos de alumínio, chassis c/motor, bovinos vivos, óleo de soja em bruto, café em grão, ouro em forma semimanufaturada, carne de frango, motores e geradores).
Importações por categoria de uso. Dos US$ 18,777 bilhões importados em agosto, US$ 10,203 bilhões foram de bens intermediários, US$ 2,398 bilhões de bens de consumo, US$ 3,799 bilhões de bens de capital e US$ 2,358 bilhão foram referentes ao grupo de combustíveis e lubrificantes.
Na comparação frente ao mesmo período de 2017, considerando a média diária, houve crescimento em todos os segmentos das importações, puxado por bens de capital (158,2%), bens intermediários (16,2%), bens de consumo (13,7%) e combustíveis e lubrificantes (55,4%).
Destaques importações. Com relação a bens de capital, aumentaram as compras, principalmente, de plataforma para extração de petróleo, veículos de carga, máquinas/aparelhos mecânicos, helicópteros, unidades de processamento digital, estruturas flutuantes, equipamentos terminais ou repetidores e chassis c/motor.
No segmento bens de consumo, os principais aumentos foram observados nas importações de automóveis de passageiros, produtos imunológicos, fungicidas, frações de sangue, medicamentos, consoles de vídeo game e calçados esportivos.
No segmento de bens intermediários cresceram as aquisições de naftas p/petroquímica, tubos flexíveis de ferro/aço, sulfetos de minérios de zinco, inseticidas, células solares, alumínio não ligado, cloreto de potássio e semimanufaturados de ferro/aço.
No grupo dos combustíveis e lubrificantes, o crescimento ocorreu principalmente pelo aumento das compras de petróleo em bruto, gás natural, propanos e butanos liquefeitos e óleos lubrificantes.
Por fim, observando as importações por mercados fornecedores, na comparação agosto 2018/2017, aumentaram as compras originárias dos principais mercados, a saber: Oriente Médio (+139,0%, por conta de petróleo em bruto, adubos e fertilizantes, inseticidas, semimanufaturados de ferro/aço, cloreto de potássio, polímeros plásticos, enxofre, alumínio em bruto, óleos lubrificantes), África (+117,6%, por conta de petróleo em bruto, naftas, ureia, gás natural, minérios de manganês, alumínio em bruto, adubos e fertilizantes, cacau em bruto, fumo em folhas, fosfatos de cálcio, catodos de cobre, inseticidas), América Central e Caribe (+108,4%, por conta de gás natural, álcoois acíclicos, semimanufaturados de ferro/aço, chumbo em bruto, inseticidas, medicamentos, aparelhos médicos, obras de plástico, alumínio em desperdícios), Ásia (+54,0%, sendo que a China cresceu 89,9%, por conta de plataforma p/extração de petróleo, coques/semicoques, dispositivos semicondutores, brinquedos, rolamentos e engrenagens, laminados planos, compostos orgânicos-inorgânicos, motores e geradores, barras de alumínio, máquinas p/terraplanagem, sulfato de amônio, inseticidas, obras de ferro/aço, adubos e fertilizantes, aparelhos de ar condicionado), Mercosul (+32,8%, sendo que da Argentina cresceu 38,7%, por conta de automóveis de passageiros, veículos de carga, cevada em grãos, ônibus, naftas, alumínio em bruto, barras de alumínio, hidrocarbonetos, milho em grão, polímeros plásticos, trigo em grão, ligas de alumínio, tereftalato de polietileno, álcoois acíclicos, policloreto de vinila), Oceania (+53,4%, por conta de carvão, aparelhos para interrupção de energia, produtos químicos, carne bovina, laminados planos, quadros de energia, radar, aparelhos médicos, máquinas para uso agrícola, caminhões-guindastes) e Estados Unidos (+21,6%, por conta de gás propano, gás natural, óleos lubrificantes, inseticidas, hidrocarbonetos, compostos orgânicos-inorgânicos, naftas, polímeros plásticos, medicamentos, petróleo em bruto, coque de petróleo, ácidos carboxílicos, gás butano, motores e turbinas para aviação, minérios de zinco, tratores, aparelhos de medida, enxofre, pneumáticos). Por outro lado, diminuíram as compras originárias da União Europeia (-1,6%, por conta de aviões, medicamentos, óleos combustíveis, cloreto de potássio, gasolina, motores para veículos e partes, compostos heterocíclicos, alhos, coques/semicoques, autopeças, tubos flexíveis de ferro/aço, rolamentos e engrenagens, artigos de prótese, aparelhos mecânicos para pulverizar, aparelhos de medida, máquinas para moldar, tubos de ferro fundido).