Análise IEDI
Panorama da desaceleração industrial
O ano de 2018, pelo menos até a sua primeira metade, foi caracterizado por uma moderação importante do dinamismo industrial. O ritmo que já era insuficiente para fazer frente às pesadas perdas do triênio de crise (2014-2016) deixou ainda mais a desejar. Agrava esta trajetória o fato de que a maioria dos setores e dos parques regionais da indústria também estar perdendo força.
A sucessão de resultados interanuais da indústria não deixa dúvida: +4,9% no 4º trimestre de 2017, +3% no primeiro trimestre de 2018 e apenas +1,7% no segundo trimestre de 2018. Como o movimento de desaceleração vem desde o começo do ano não dá nem para responsabilizar a paralisação dos caminhoneiros do mês de maio como causa da inflexão, embora possa ter contribuído para praticamente cortar pela metade a taxa de crescimento na passagem do primeiro para o segundo trimestre do ano.
Assim, o dinamismo na primeira metade de 2018 chegou a +2,3%, muito abaixo dos +4% registrados no segundo semestre de 2017. O mesmo ocorreu em 3 dos 4 macrossetores industriais, à exceção de bens de capital, que manteve o ritmo de +9,5% em ambos os semestres, e em 12 das 15 localidades acompanhadas pelo IBGE, sendo que 5 delas voltaram ao terreno negativo em jan-jun/18.
Diante deste quadro, o IEDI buscou avaliar a evolução recente do conjunto mais desagregado de segmentos industriais. A partir dos dados do IBGE, foi realizado um panorama do desempenho acumulado de janeiro a junho de 2018 para 93 segmentos, tendo sido classificados em nove faixas segundo a vitalidade de seu crescimento.
Um resumo do quadro geral identificado pelo levantamento é o seguinte:
• Dos 93 segmentos, 55 registraram aumento de produção no primeiro semestre de 2018 (isto é, 59% do total), o que implica uma redução de 17% frente aos 66 segmentos em alta no segundo semestre de 2017 (71% do total).
• Destes segmentos com crescimento, 42 conseguiram um resultado melhor do que o da indústria total, ou seja, 45% do total de segmentos cresceram mais do que +2,3% no 1º sem/18. No segundo semestre de 2017 tinham sido 46 segmentos ou 49% do total.
• Outro aspecto importante: apenas 31 ramos (ou 33% do total) apresentaram um ritmo de expansão mais forte no 1º sem/18 do que no 2º sem/17, enquanto 60 ramos (ou 64% do total) registraram desaceleração. Na segunda metade de 2017, o quadro era o inverso: 66 ramos (ou 71% do total) ganhavam velocidade diante do resultado da primeira metade do ano e apenas 23 ramos (25% do total) perdiam ímpeto.
É nítido, então, que se perdeu alguma tração na passagem do ano, muito embora não tenha sido suficiente para fazer a indústria descarrilhar de sua trajetória de recuperação. A distinção entre os primeiros seis meses de 2018 e os seis meses finais de 2017 fica ainda mais evidente quando é considerado o número de ramos em cada faixa de ritmo de expansão.
Na faixa de crescimento intenso, isto é, com crescimento superior a +10%, havia na segunda metade de 2017 23 ramos industriais, número que foi reduzido para 15 na primeira metade de 2018. Esta foi a faixa que mais perdeu segmentos de um período para outro: -35%. Dentre os ramos que deixaram de figurar nesta faixa estão alguns do setor de alimentos (conversas de frutas, legumes e vegetais; produtos de carne), bens de consumo duráveis e alguns de seus intermediários (móveis; componentes eletrônicos; peças e acessórios para veículos automotores) e certos bens de capital (máquinas e equipamentos de uso geral; equipamentos e aparelhos elétricos), entre outros.
A indústria automobilística continua representada na faixa de crescimento intenso por segmentos tais como caminhões e ônibus, líder do ranking com alta de +53,3% no 1º sem/18, cabines, carrocerias e reboques para veículos automotores (+51%) e automóveis, camionetas e utilitários (+11,1%). Outro setor representado é o de siderurgia e produtos de metais, com tubos de aço (+22,9%), fundição (+18,4%) e ferro-gusa e ferroligas (+11,9%), além bens de duráveis e alguns de seus intermediários.
Outra faixa a comportar menos segmentos em 2018 foi a de crescimento moderado, isto é, com alta entre +4% e +7%. Dos 17 ramos na segunda metade do ano passado ficaram apenas 13, isto é, um encolhimento de 24%. A faixa de crescimento expressivo (+7% a +10%) ficou estável, com 6 ramos industriais e a de crescimento fraco cresceu 21%, passando de 14 para 17 segmentos.
As faixas que mais se ampliaram de um semestre a outro foram, entretanto, aquelas que ainda denotam crise. O número de ramos classificados como em crise moderada, isto é, com contração de -1% a -4%, subiu de 11 para 13, o que representa um alta de 18%. Quem mais ganhou integrantes foi a faixa de crise intensa, cuja perda de produção foi de -4% a -10%. Neste caso, o número de ramos subiu de 9 para 16.
Em síntese, o grupo de segmentos com crescimento intenso foi quem mais diminuiu ao benefício da ampliação do grupo com crise intensa, o que sugere que a desaceleração da indústria total foi acompanhada da mudança de sinal com acentuada volatilidade em muitos ramos. Expressivas taxas de crescimento deram lugar a fortes quedas do final do ano passado para o início deste ano.
Quase nenhum dos integrantes da faixa de crise intensa no 1º sem/18 pertenciam a ela no 2º sem/17. Agora, estão lá classificados ramos de bens de consumo semi e não duráveis, bem como alguns intermediários, a exemplo de: calçados e partes para calçados (-4,5%), curtimento e outras preparações de couro (-8,8%), produtos de fumo (-7,6%), resinas, elastômeros e fibras artificiais e sintéticas (-4,4%), tintas, vernizes e esmaltes (-6,3%), cloro e álcalis (-7,3%), químicos orgânicos (-7,3%), entre outros.
A despeito da deterioração do quadro, mais nenhum ramo encontra-se em crise fulminante (quedas mais intensas que -20%) e o número daqueles em crise grave (-10% a -20%) manteve-se constante. Neste último caso foram 5 ramos: artigos de joalheria, bijuteria e semelhantes (-19,6%), tanques, reservatórios metálicos e caldeiras (-18,1%), artigos de malharia e tricotagem (-18%), brinquedos e jogos recreativos (-12,5%) e artefatos para pesca e esporte (-11%).