IEDI na Imprensa - Para IEDI, despesa financeira é 'pedra no caminho' das empresas industriais
O Globo
Arícia Martins
A situação patrimonial das empresas industriais no segundo trimestre mostrou uma reversão da melhora observada no início do ano. Segundo levantamento feito pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) a pedido do Valor, o quadro de recuperação da lucratividade, estabilização do nível de endividamento e alívio nas despesas financeiras, verificado no primeiro trimestre, não se sustentou.
No agregado de todas as companhias analisadas, a margem de lucro operacional (a relação entre o lucro antes de juros e impostos e a receita) caiu de 16,1% para 14,7% entre o primeiro e o segundo trimestres. No setor industrial, excluindo Petrobras e Vale da amostra, a medida que aponta a eficiência da operação também recuou, de 9,3% para 8,6%.
Já a margem líquida, que embute custos não relacionados diretamente à operação das empresas, ficou 2,7 pontos menor em igual comparação no total da amostra, ao recuar para 14,7%. No setor industrial, o indicador diminuiu de 4,9% para 3% entre o acumulado do primeiro trimestre e do primeiro semestre.
A margem bruta, por sua vez, teve redução mais modesta, ao passar de 30,5% para 29,8% em igual comparação, no total das empresas. Na indústria, sempre sem considerar resultados da Petrobras e Vale, o indicador teve leve alta no período, de 0,2 ponto, para 21,9%.
Os cálculos foram feitos com base nas demonstrações de resultados e balanços patrimoniais de 339 empresas não financeiras de capital aberto. Como nem todas as companhias divulgam informações contábeis referentes somente ao período abril-junho, a análise foi feita comparando os dados observados de janeiro a junho com os indicadores acumulados de janeiro a março. Segundo Rafael Cagnin, economista do Iedi e autor dos cálculos, esse método não compromete a comparação trimestral.
"Se houve recuo na maior parte dos indicadores entre o acumulado do primeiro trimestre e do primeiro semestre, o que trouxe os resultados para baixo foram os dados do segundo trimestre", aponta Cagnin. Nesse período, diz, houve piora relativa da situação patrimonial das empresas analisadas, tendência verificada também na indústria.
Segundo o Iedi, a deterioração dos indicadores de rentabilidade está relacionada à fraca evolução da atividade econômica - a produção industrial ficou praticamente estável no segundo trimestre, com alta de 0,2% frente aos três meses anteriores. "Esse quadro pode ter dificultado a ampliação da escala da produção, restringindo os ganhos advindos do esforço de redução de custos operacionais.
A "pedra no meio do caminho", de acordo Cagnin, são as despesas financeiras, que afetaram fortemente o lucro líquido das empresas analisadas no segundo trimestre. No primeiro semestre, as despesas financeiras líquidas do conjunto de companhias aumentaram 79% em relação a igual período de 2016. Na mesma ordem, o montante das variações monetárias e cambiais em relação à receita operacional quase dobrou, passando de 3,4% para 6,6%.
Na indústria, as despesas financeiras líquidas tiveram alta menos relevante entre o primeiro semestre de 2016 e de 2017, de 10,6%. O peso das variações monetárias e cambiais no fluxo de recursos das empresas industriais, no entanto, mais do que triplicou, ao avançar de 1,4% para 4,7%.
Para o Iedi, o Banco Central demorou para dar início ao ciclo de afrouxamento monetário. Além disso, o crédito para a pessoa jurídica segue caro, porque o repasse da queda da taxa Selic para os juros cobrados nos empréstimos está ocorrendo em ritmo lento. Isso permitiu que as despesas financeiras seguissem em ascensão, mesmo com a trajetória de redução da Selic.