IEDI na Imprensa - Empresas têm primeiro sinal positivo em 25 meses
Valor Econômico
Sérgio Tauhata
O mês de agosto trouxe um sinal positivo para o crédito corporativo no Brasil, o primeiro em anos. O que significa essa indicação do relatório de crédito do Banco Central, no entanto, divide os economistas consultados pelo Valor. A maioria vê motivos para ser mais otimista com o comportamento futuro dos empréstimos para empresas, mas há quem veja apenas um indício de que o pior já passou, embora a volta ainda permaneça longe.
Depois de 25 meses de quedas consecutivas, as concessões de crédito às pessoas jurídicas voltaram a crescer em agosto na comparação com o mês anterior. De acordo com os dados do BC, as concessões de financiamentos para clientes corporativos aumentaram 15,9% em agosto na comparação com julho, para R$ 119 bilhões. A alta foi puxada por um crédito específico na modalidade de recursos livres para exportação. Mas mesmo tirando essa operação, as concessões cresceriam 8,6%.
Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), "ainda é cedo para falar em reversão da crise do crédito para empresas". Nos cálculos do instituto, ao longo da crise econômica, o estoque das operações em relação ao PIB recuou mais de 6 pontos percentuais entre dezembro de 2015 e agosto deste ano. "É como se tivéssemos regredido oito anos, já que a relação crédito corporativo/PIB voltou ao nível de junho de 2009 [22,2%]", informou a equipe do IEDI em relatório.
Para a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thais Zara, apesar de ainda isolado, o dado de agosto sinaliza sim uma tendência de melhora para o crédito às companhias. "A gente enfatiza há bastante tempo que teríamos primeiro uma melhora do crédito para pessoa física, que já mostra evolução há alguns meses, e depois isso passaria para a pessoa jurídica", pondera.
Conforme Thais, além da subida das concessões de crédito livre para as empresas, outros números corroboram a visão de início de uma retomada, como "a diminuição expressiva da inadimplência das pessoas jurídicas e a queda da taxa de juros para recursos livres".
A visão de Bruno Lavieri, sócio da 4E Consultoria, porém, segue uma outra linha em que o sentimento predominante seria alívio e não otimismo. O primeiro sinal positivo do crédito para empresas no Brasil em mais de dois anos pode sinalizar, conforme o consultor, apenas que a modalidade pode ter parado de cair. E a consequência natural seria entrar em um processo de acomodação antes de voltar a subir. "Minha avaliação continua sendo a de que o crédito corporativo está encontrando o fundo do poço em termos de concessões livres e aos poucos pode voltar a crescer", afirma o economista.
Lavieri cita o crédito direcionado, em que o BNDES tem grande peso, "que continua em queda de dois dígitos". Segundo dados do Banco Central, as concessões de financiamento do banco de fomento recuaram 33,3% em agosto na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Para o sócio da 4E, a expectativa é de a demanda por parte das empresas se manter retraída ao longo de 2018 devido às incertezas políticas e ao ano eleitoral. "As empresas têm grande ociosidade e por isso não demandam investimentos; além disso, não faz sentido fazer grande investimento em capacidade antes das eleições."
Apesar de o cenário de crédito para pessoa jurídica ainda estar tomado de incertezas, o das pessoas físicas tem mostrado um fôlego mais sólido. Segundo o Banco Central, os empréstimos para indivíduos se mantêm em crescimento contínuo há dez meses. O saldo de crédito para pessoa física subiu 0,7% em agosto na comparação com o mês anterior, conforme os números divulgados ontem.
Para Thais, da Rosenberg, a inadimplência da pessoa física entre 15 e 90 dias, considerado um indicador antecedente, reforça a sinalização de que o crédito para famílias continuará a se fortalecer. A taxa apresentou forte queda e atingiu o menor patamar da série. Já a inadimplência acima de 90 dias está estável e tem leve tendência de queda. "Isso é um bom sinal para a retomada das concessões a juros mais baixos e reforça a nossa percepção de que continuará a normalização do mercado de crédito para pessoa física."