IEDI na Imprensa - Após recorde em 2017, ministério prevê superávit de US$ 50 bilhões neste ano
Valor Econômico
Estevão Taiar e Cristiano Zaia
A balança comercial brasileira deve ter um superávit de cerca de US$ 50 bilhões em 2018, segundo estimativa do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic). Se confirmada a projeção, será o segundo maior saldo comercial desde 1989, inferior apenas ao resultado do ano passado - US$ 67 milhões -, divulgado ontem.
"Tanto as importações quanto as exportações devem continuar crescendo e atingir o maior valor dos últimos três anos, mas deve haver um aumento maior nas importações", disse o secretário de Comércio Exterior, Abrão Neto, durante a apresentação dos números da balança comercial do ano passado.
O resultado de 2017 ficou em linha com as estimativas mais recentes do ministério, que apontavam para superávit entre US$ 65 bilhões e US$ 70 bilhões. Em dezembro, as vendas para o exterior superaram as compras em US$ 5 bilhões. Em 2016, a balança comercial havia ficado positiva em US$ 47,692 bilhões.
No ano passado, as exportações somaram US$ 217,7 bilhões, alta de 18,5% em relação a 2016, maior resultado desde 2014. As importações totalizaram US$ 150,7 bilhões, resultado 10,5% maior que em 2016. As vendas foram puxadas principalmente por produtos básicos (alta de 28,7%), seguidas por semimanufaturados (13,3%) e manufaturados (9,4%).
Entre os produtos básicos, o destaque ficou para a soja em grão, cujos embarques cresceram 34,1%, para US$ 25,7 bilhões em relação ao ano passado. Depois vieram carne bovina, com alta de 17,7%, para US$ 5,075 bilhões, e milho em grão, com alta de 26%, para US$ 4,5 bilhões.
"O crescimento dos produtos básicos se deve muito à safra de grãos, que bateu recorde em 2017", afirmou o secretário. As vendas do agronegócio brasileiro subiram 11%, para US$ 95 bilhões, com destaque para carne, celulose e açúcar.
No setor de manufaturados, cresceram principalmente as exportações de automóveis - alta de 43,9% para US$ 6,6 bilhões.
Os desembarques foram puxados pelo crescimento das compras de combustíveis e lubrificantes (42,8%), bens intermediários (11,2%) e bens de consumo (7,9%). O destaque negativo ficou para os bens de capital (recuo de 11,4%), sinalizando um cenário de recuperação ainda lenta e incerta dos investimentos.
O quadro desenhado por analistas para este ano é semelhante ao projetado pelo ministério. Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da Barral M Jorge Consultores, também calcula que o superávit comercial ficará em torno de US$ 50 bilhões, principalmente por causa da expansão das importações.
"Com a retomada da economia, inevitavelmente, haverá esse crescimento das importações", diz Barral. O Itaú tem estimativa ligeiramente mais otimista, de US$ 55 bilhões, "em função dos preços médios de commodities mais baixos e da recuperação da atividade", diz a economista Julia Gottlieb em relatório." Os dados de dezembro já apontam nessa direção", afirma.
Para Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), em 2018 "o jogo deve ser um pouco mais equilibrado" entre importações e exportações. Ele, entretanto, não divulga projeções para a balança comercial.
Apesar do avanço de 10,5% das importações ao longo de 2017, Cagnin lembra que em dezembro elas já registravam crescimento de 16,5% em relação ao mesmo mês de 2016. "Isso já mostra um dinamismo um pouco melhor da economia brasileira", afirma o economista.
Abrão Neto também chamou atenção para a expectativa de crescimento da chamada "conta petróleo", que deve ter um aumento em relação ao superávit comercial de US$ 3,681 bilhões registrado em 2017. Esse crescimento deve vir principalmente do volume exportado.
Em 2017, os principais destinos das exportações brasileiras foram China, com US$ 50,2 bilhões, EUA (US$ 26,9 bilhões), Argentina (US$ 17,6 bilhões), Holanda (US$ 9,3 bilhões) e Japão (US$ 5,3 bilhões).
As vendas de produtos brasileiros para o mercado chinês aumentaram 35,3% no ano passado, puxadas pela soja em grão, petróleo bruto, minério bruto, carne bovina, celulose, minério de manganês, hidrocarbonetos, ferro-ligas, óleo de soja, entre outros produtos.
Para Barral, a alta dependência do mercado chinês é o principal risco para a balança comercial em 2018. "São vendas concentradas em poucos produtos, principalmente soja e minério de ferro, e grandes oscilações de preço podem prejudicar o valor recebido por essas vendas", afirma o economista.
A China foi também o maior vendedor de produtos para o Brasil. Em 2017, as importações chinesas somaram US$ 27,9 bilhões. Em seguida vieram EUA (US$ 24,8 bilhões), Argentina (US$ 9,4 bilhões) e Alemanha (US$ 9,2 bilhões). (Colaborou Ana Conceição, de São Paulo)