IEDI na Imprensa - Superávit soma US$ 20 bi no acumulado até abril
Valor Econômico
Fábio Pupo e Marta Watanabe
A balança comercial brasileira continua registrando crescimento das importações, diminuindo o superávit do país na comparação com o ano passado. O saldo de US$ 20,1 bilhões registrado de janeiro a abril representa uma queda de 6% frente ao mesmo período de 2017, indicando uma atividade aquecida (com demanda por importados). Mesmo assim, a previsão do governo para o saldo do ano já começa a ser revista diante de uma economia menos acelerada do que o previsto.
Segundo Herlon Brandão, diretor de Estatísticas e Apoio às Exportações do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), a área técnica do governo começou a fazer revisão do superávit para este ano. A revisão acontece em função de uma expectativa menor no ritmo das importações como reflexo de um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) também menor que o originalmente imaginado. Hoje, a expectativa oficial é de superávit comercial de US$ 50 bilhões ao fim de 2018. No ano passado o saldo positivo foi recorde, de US$ 67 bilhões.
No primeiro quadrimestre a balança computou exportações de US$ 74,299 bilhões (alta de 7,7%) e importações de US$ 54,209 bilhões (avanço de 14,5%). "A importação está mais alta como consequência da atividade econômica aquecida a tendência é que a demanda continue forte. Esperamos que as exportações também cresçam, mas em ritmo menor", disse Brandão. O principal crescimento em termos percentuais nos embarques no acumulado do ano foi em manufaturados (15,9%), seguido por semimanufaturados (4,2%) e básicos (2,6%).
Já nos desembarques, o maior avanço foi em combustíveis e lubrificantes (34,8%), seguido por bens de capital (23,2%), bens de consumo (17,1%) e bens intermediários (9,1%). Continua chamando a atenção a importação de veículos, que no acumulado do ano sobe 64,3%, para US$ 1,317 bilhão. O movimento é registrado após o fim do Inovar-Auto, programa de benefício à indústria nacional de automóveis que impunha uma alíquota adicional de 30 pontos percentuais de IPI aos fornecedores estrangeiros que não se enquadravam no regime automotivo e expirou em 31 de dezembro.
Já na comparação mensal, chama a atenção o fato de as exportações brasileiras terem recuado pela primeira vez no ano. A retração foi de 3,4%, considerando a média diária. Para Brandão, no entanto, o movimento foi pontual. "É mais provável que esse crescimento dos quatro meses [avanço de 7,7% pela média diária] se mantenha ao longo do ano", disse. No caso das importações em abril, o principal avanço foi em bens de capital (com 36,2%) - o que sugere investimentos por parte da indústria na capacidade instalada do país.
Para Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), a queda das exportações ocorrida em abril pode não se repetir no próximo mês, mas alguns aspectos exigem atenção redobrada. Um deles, destaca, é a disseminação da queda, que atingiu tanto os produtos básicos, como os manufaturados e semimanufaturados.
Cagnin ressalta também que antes mesmo da queda em abril as exportações já vinham desacelerando de maneira forte. O ritmo de crescimento mensal na comparação interanual pela média por dia útil recuou pela metade entre dezembro de 2017 e março de 2018, ao passar de 21% para 9,6%, antes de entrar no vermelho em abril. O desempenho, diz, é frustrante, já que o contexto internacional promete, segundo as estimativas mais recentes, um maior dinamismo para o comércio exterior em 2018. "A indústria e a economia como um todo perdem um motor importante para a recuperação se houver uma desaceleração muito grande das exportações."
O saldo da balança comercial de petróleo e derivados cresceu nos primeiros quatro meses do ano em função principalmente da valorização da commodity, revertendo tendência de queda registrada no mês passado. De janeiro a abril, o superávit foi de US$ 2,5 bilhões. As exportações de óleo bruto e combustíveis aumentaram 19% pela média diária e alcançaram US$ 9,354 bilhões no acumulado do ano. As importações cresceram em ritmo mais forte. Nesse caso, houve expansão de 24,6%, em US$ 6,854 bilhões.
O movimento de desvalorização do real frente ao dólar ainda é recente para influenciar os dados da balança, diz Brandão. "Essas variações cambias têm que ter mudança grande e permanente. Já as mais pontuais não afetam decisões de importadores e exportadores. Em prazo curto, a variação cambial não afeta a balança comercial."