IEDI na Imprensa - Inadimplência de empresas desce a menor nível desde 2014
Valor Econômico
Talita Moreira
O desempenho do crédito em agosto, apresentado ontem pelo Banco Central (BC), confirma a tendência de queda gradual no risco das operações com empresas - segmento que rendeu muita dor de cabeça às instituições financeiras de 2015 em diante.
Os empréstimos a pessoas jurídicas nas modalidades com recursos livres (em que as taxas de juros são definidas livremente pelos bancos) tiveram inadimplência de 3,31% no mês passado. A taxa recuou 0,09 ponto percentual em relação a julho e chegou ao menor patamar desde abril de 2014.
A redução nos calotes das companhias foi decisiva para levar a taxa de inadimplência total do mercado de crédito com recursos livres a 4,21% em agosto, nível mais baixo da série histórica iniciada pelo BC em 2011. O indicador de pessoas físicas ficou estável, em 5%.
A inadimplência das empresas começou a melhorar de forma mais consistente neste ano, depois de os bancos colocarem o pé no freio na oferta de recursos e constituírem centenas de bilhões de reais em provisões contra perdas. Parte dessas reservas foi desfeita nos últimos meses, sinal de que o risco começou a diminuir.
As instituições financeiras têm indicado que só preveem uma retomada de fato do crédito a pessoa jurídica depois das eleições. Uma visibilidade maior sobre o cenário político é considerada necessária para que as empresas - especialmente, as grandes - voltem a investir. Entre os pequenos empreendimentos, se vê alguma melhora na demanda por recursos desde o segundo trimestre, mas os bancos têm se restringido a operações com garantias.
No entanto, mesmo com incertezas, sinais positivos começam a aparecer. As concessões de empréstimos e financiamentos para pessoas jurídicas evoluíram em agosto. O volume de novas operações foi de R$ 142,5 bilhões, alta de 11,4% em relação a julho. Capital de giro, desconto de duplicatas e antecipação de recebíveis de cartões foram as modalidades que mais se destacaram.
O estoque de crédito a pessoas jurídicas aumentou 0,9% em agosto, para R$ 1,434 trilhão. Na comparação anual, porém, ainda houve queda de 0,4%.
Entre julho e o mês passado, houve alta de 1,6% no saldo de operações com recursos livres e de 0,1% nos empréstimos direcionados. Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), os números indicam que pode ter chegado ao fim o encolhimento sistemático visto no crédito direcionado a empresas desde novembro de 2014.
"Embora o crédito a companhias não financeiras ainda esteja aquém do segmento de pessoas físicas, há sinais incipientes de que a desalavancagem das empresas possa estar no fim, pavimentando o caminho para a expansão do crédito", afirmou, em relatório a clientes, o analista Bruno Balassiano, do BTG Pactual. Ele alertou, porém, que um aumento da taxa de juros e a desvalorização podem elevar custos e afetar a demanda das empresas por novos recursos.
Até agora, isso não aconteceu. O BC mostrou leve redução da taxa de juros média cobrada nas operações com empresas, que passou de 20,6% ao ano em julho para 20,4% no mês passado. A queda melhora a capacidade de pagamento das empresas, o que contribui para alimentar a volta de um ciclo virtuoso no crédito.
No entanto, ainda é preciso saber o impacto que as eleições terão nessa retomada - o que vai depender, em grande parte, da mensagem que o vencedor das urnas dará sobre a economia. Por enquanto, as incertezas da disputa não mostram impacto sobre o crédito, disse na semana passada o presidente do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli. Segundo ele, a demanda está boa neste mês e houve, inclusive, uma melhora nas operações com micro, pequenas e médias empresas. No caso das grandes companhias, parte da demanda está sendo suprida pelo mercado de capitais.
Para Alberto Ramos, diretor de pesquisas do Goldman Sachs para América Latina, as eleições e o cenário externo mais desafiador podem afetar o processo de recuperação do crédito no Brasil. Ele afirmou, em relatório, que esses fatores podem ter impacto tanto na disposição dos bancos de emprestar quanto na demanda de empresas e pessoas físicas. (Colaborou Álvaro Campos)