IEDI na Imprensa - Recuperação perde forças e produção industrial cai de novo, 0,3% em agosto
O Globo
Desde o fim de 2015 a indústria não apresentava dois recuos seguidos. Em julho, houve variação negativa de 0,1%
Daiane Costa
A recuperação da indústria perdeu forças. Em agosto, a produção caiu novamente, 0,3%, em relação a julho. Há quase três anos o setor não ficava dois meses seguidos no vermelho, nessa comparação. E, apesar de ainda acumular expansão de 2,5% no ano e de 3,1% em 12 meses, o atual patamar de produção é inferior (1,1%) ao registrado em dezembro de 2017. A queda deste mês foi motivada, principalmente, pelo recuo da produção de derivados de petróleo e biocombustíveis, acentuada pela paralisação da Refinaria de Paulínia, em São Paulo, devido a uma explosão. Mas também voltou a haver espalhamento de resultados negativos pelas atividades.
- Passada a volatilidade da greve dos caminhoneiros, vimos um arrefecimento da produção e maior espalhamento de resultados negativos, afetando segmentos que correspondem a 80% do setor - resume André Macedo, gerente de Indústria do IBGE, em referência aos grupos de bens intermediários e de bens de consumo semi duráveis e não duráveis, que caíram, respectivamente, 2,1% e 0,6%.
A previsão dos analistas ouvidos pela Bloomberg era que a indústria crescesse 0,4% em agosto. Em julho, havia recuado 0,1%. Para Rafael Cagnin, economista do IEDI, 2018 caminha para ser um ano "perdido", tendo em vista que as projeções apontam para um desempenho que, no máximo, chegará ao mesmo do ano passado, quando o setor cresceu 2,5%:
- Não conseguimos dar um passo à frente em relação à trajetória favorável estabelecida em 2017. Devemos terminar o ano mesmo patamar de crescimento do ano passado. O setor tem dinamismo e está crescendo, mas não consegue ter um processo consistente.
O economista aponta inúmeras razões para esse desempenho aquém do esperado no início do ano: o cenário político eleitoral conturbado estancou investimentos, a geração de empregos e consequentemente o consumo; o setor encontra dificuldades de autofinanciamento e a greve dos caminhoneiros ajudou a minar a confiança dos empresários:
- Só tivemos projetos muito marginais de investimentos, para modernização e proteção de competitividade; o BNDES reduziu financiamentos, a redução Selic (taxa básica de juros) não foi repassada para as tarifas finais e as empresas tiveram a rentabilidade afetada com a crise, e não conseguem se autofinanciar. Além disso, a capacidade ociosa ainda é alta porque o desemprego inibe o consumo.
Luana Miranda, economista do Ibre/FGV acrescenta a esses ingredientes um cenário externo adverso para os emergentes como o Brasil, devido a guerra comercial estabelecida pelos EUA com outros países do mundo e da crise argentina, um dos principais parceiros comerciais do Brasil.
- Desde 2017 estamos numa trajetória de recuperação lenta e gradual e, como esse ano perdemos o dinamismo, a sensação é de piora. Mas temos de lembrar que em 2016 a indústria foi muito mal, ao contrário do ano passado. Então, este ano, não temos mais uma base de comparação tão baixa - pondera Luana, que prevê expansão de 2,2% para o setor este ano.
Macedo ressalta que, desde o final de 2015, o setor não apresentava dois recuos consecutivos. Com os últimos resultados, a produção industrial voltou ao patamar de abril de 2018, anterior à greve dos caminhoneiros. Segundo o gerente do IBGE, esse patamar é, ainda, 1,1% inferior ao que o setor se encontrava em dezembro de 2017. Ou seja, passados oito meses deste ano, a indústria piorou sua produção, em relação ao pequeno avanço que havia registrado no fim do ano passado.
Derivados do petróleo influenciam queda
Em agosto, na comparação com julho, dois dos quatro grandes grupos registraram queda na produção: bens intermediários (-2,1%) e bens de consumo semi duráveis e não duráveis (-0,6%) que, juntos, representam 80% da produção industrial. Das 26 atividades pesquisadas, 14 tiveram queda. O principal comportamento negativo foi o de derivados de petróleo e biocombustíveis (-5,7%), que interrompeu a sequência de resultados positivos iniciada em março.
— Essa queda mais acentuada foi, de alguma forma, influenciada pela paralisação de uma refinaria importante, que interrompeu sua produção devido a um incêndio — explicou Macedo, referindo-se ao incidente ocorrido na Refinaria de Paulínia (Replan), em São Paulo, em 20 de agosto.
Ele também ressaltou que houve um número maior de paradas programadas para manutenção, no setor extrativo, o que também afetou a extração de petróleo.
Os setores de bebidas (-10,8%), extrativo (-2,0%) e de produtos alimentícios (-1,3%) completaram as atividades que mais impactaram negativamente a taxa de agosto.
As principais influências positivas foram dos segmentos de veículos automotores (2,4%), segmento farmacêutico (8,3%), de equipamentos de informática e produtos eletrônicos (5,1%) e atividade de celulose, papel e produtos do papel (2,0%).
No ano, no entanto, o setor segue no campo positivo. Acumula alta de 2,5%, com resultados positivos nas quatro grandes categorias econômicas, em 16 dos 26 ramos, 45 dos 79 grupos e em 52% dos 805 produtos pesquisados. Entre as atividades, a de veículos automotores, reboques e carrocerias (18,4%) exerceu a maior influência positiva na formação da média da indústria, impulsionada, em grande parte, pelos itens automóveis, caminhão-trator para reboques e semirreboques, caminhões e autopeças.