IEDI na Imprensa - Investimento cai e produção industrial deve ficar estagnada até o fim do ano
DCI
Impactado por incertezas política e econômica desde o 2º trimestre, o setor não consegue crescer de maneira consistente e movimentações positivas após as eleições só teriam reflexo em 2019
Ricardo Casarin
Com investimentos reduzidos desde o 2º trimestre, a produção industrial deve seguir estagnada até o final do ano. O consumo de bens duráveis e de bens de capital movimenta a economia, mas não promove crescimento consistente.
“Não há expectativa de melhora esse ano, nem de recessão: a economia vai andar de lado. Essa estagnação é consequência das incertezas do cenário econômico e político, que desde abril causou uma desaceleração dos investimentos”, aponta o professor de economia do Insper, Alexandre Chaia.
Para o especialista, essa desaceleração preocupa, mas não surpreende. “Já era esperado, entre abril e maio iniciou-se uma perda de interesse dos investidores, por conta da greve dos caminhoneiros, guerra comercial entre EUA e China, não aprovação de reformas pelo governo e incerteza quanto ao resultado das eleições.” Na visão de Chaia, esse conjunto de fatores criou uma insegurança que deve refletir em retração no 3º trimestre. Ele avalia que mesmo que o resultado das eleições anime os investidores, isso não deve ter impacto ainda em 2018. “Pode voltar a ocorrer uma retomada em novembro, mas só vai refletir no ano que vem. Havia expectativa de este ser um ano bom, mas vai acabar sendo decepcionante.”
De acordo com pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (02), o desempenho acumulado da produção industrial nos oito primeiros meses do ano é positivo, com destaque para bens de capital (aumento de 9%) e bens de consumo duráveis (melhora de 13,8%). “Bens duráveis tem a ver com a demanda final, com mais apelo ao consumidor, como automóveis, influenciado por um otimismo moderado. Mas não é o suficiente para manter o crescimento para o próximo ano”, diz Chaia.
O coordenador de economia e finanças do Ibmec/RJ, Ricardo Macedo, vê influência do setor automotivo também no segmento de bens de capital. “Esse consumo foi favorecido pelos juros baixos, estimulou a venda de reboques, caminhões e tratores.” Ele prevê a possibilidade da sazonalidade de final do ano compensar o desempenho fraco da produção. “A indústria de papelão começa a ter uma produção maior, em decorrência dessa sazonalidade. Mas a tendência é de crescimento pequeno em 2018.”
Balanço
Segundo levantamento do IBGE, a produção industrial nacional caiu 0,3% em agosto ante o mês anterior. Foi a segunda queda consecutiva do ano. Em julho, o indicador havia caído 0,2%. “Desde dezembro de 2015, não se via dois meses em sequência de resultados negativos”, declarou o gerente da pesquisa do IBGE, André Macedo. Ele ressalta que mesmo com esses dois movimentos de queda, a produção industrial retomou os níveis de produção de abril, antes do impacto da paralisação dos caminhoneiros.
Na análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), a indústria se mostra claramente sem dinamismo desde a virada do semestre. “Não cabe creditar este pífio resultado a efeitos reminiscentes da paralisação dos caminhoneiros, dado que já se passaram três meses do forte distúrbio da produção ocorrido em maio e mais do que compensado em junho. O que temos é um retorno ao padrão insatisfatório de desempenho que tem caracterizado 2018 desde seu início. A indústria não consegue ir adiante”, assinala o relatório.
Para André Macedo, o ritmo da produção é afetado por fatores como a demanda doméstica ainda não recuperada, o grande contingente de trabalhadores desempregados e também por questões relacionadas ao mercado internacional como, por exemplo, as exportações para a Argentina. “O ambiente de incertezas afeta as decisões de consumo por parte das famílias e de investimento pelos empresários, o que explica muito do comportamento do setor industrial nesse momento.”
Para Chaia, um ritmo mais forte de crescimento depende do campo político. “O mercado vai esperar as eleições para ver qual norte econômico será dado. Também há possibilidade do governo atual conseguir negociar algum ajuste até o final do ano e dar alguma esperança para o empresariado voltar e investir e o País crescer com mais força em 2019.”