IEDI na Imprensa - Mais da metade da indústria caminha para mais um ano perdido em 2018
Valor Econômico
Bruno Villas Bôas
A recuperação da indústria perdeu forças neste ano. De 93 segmentos do setor, 49 pioraram seu desempenho de janeiro a agosto em relação ao mesmo período do ano passado - o que significa que cresceram menos ou que tiveram perdas maiores de produção. Desta forma, pouco mais da metade (52%) da indústria caminha para mais um ano, no mínimo, decepcionante.
Conforme levantamento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), com base na Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, a piora de desempenho atingiu fabricantes de setores variados. São desde fabricantes de equipamentos de informática até produtores de sabão e detergente, passando por calçados, alimentos e transformadores elétricos.
Essa desaceleração espraiada das atividades ajuda a entender o menor otimismo do mercado com o crescimento da indústria neste ano. Em abril, analistas previam no boletim Focus, do Banco Central, crescimento de 4,2% da produção em 2018. Esta previsão foi paulatinamente reduzida nos últimos meses. No boletim mais recente, os analistas esperavam alta de 2,6% da produção neste ano.
Para Rafael Cagnin, economista do IEDI e autor do levantamento, diferentes fatores estão por trás da piora dos resultados neste ano: o cenário externo menos favorável, a transmissão apenas parcial da queda da taxa de juros (Selic) para o crédito de empresas e consumidores, além das incertezas eleitorais. Para ele, a economia está carente de um "driver" capaz de impulsionar a indústria.
"Os dados mostram que nenhum passo adicional está sendo dado para superar as perdas do setor na recessão, de 2014 a 2016. Existe hesitação e perda de ímpeto do setor. A transmissão da queda da Selic para os juros na ponta poderia ter sido um 'driver' da indústria, mas não foi. No ano passado, por exemplo, tivemos a liberação do FGTS e do PIS/Pasep desempenhando esse papel", disse Cagnin.
Essa perda de fôlego é percebida pelo desempenho agregado da indústria. De janeiro a agosto, a produção cresceu 2,5% frente a igual período do ano passado. Esse ritmo era mais acentuado nos primeiros meses do ano. De janeiro a abril, a produção chegou a crescer 4,5% na comparação interanual. Foi o período que antecedeu a greve dos caminhoneiros, que golpeou o setor em maio.
"As perdas da paralisação foram até recuperadas, mas os efeitos indiretos sobre a confiança ficaram. A greve revelou que o governo não tinha mais força política para avançar nas reformas e isso acabou afetando as expectativas", disse Jonathas Goulart, coordenador de Estudos Econômicos da Firjan, ao explicar a desaceleração do setor nos meses mais recentes deste ano.
De acordo com o levantamento do IEDI, 41 segmentos da indústria tiveram resultados melhores de janeiro a agosto de 2018 na comparação com o mesmo período do ano passado. Essa melhoria abrange um perfil diversificado de fabricantes, como de caminhões e ônibus, celulose, pilhas e baterias, produtos farmacêuticos. Outras três atividades ficaram estáveis.
Para frente, indicadores antecedentes já disponíveis sugerem uma redução da produção industrial em setembro, segundo analistas de bancos e consultorias. Eles citam dados como a queda de 3,6% da confiança do setor em relação a agosto, além do recuo de 7,8% da produção de veículos nessa base de comparação. A produção da indústria de setembro será divulgada nesta semana pelo IBGE.
Segundo Rodrigo Nishida, economista da consultoria LCA, o setor deve recuar 1% na passagem de agosto para setembro, com ajuste. Apesar de o número indicar uma terceira queda consecutiva, a produção deve encerrar o trimestre com avanço expressivo de 3,2%, frente ao segundo trimestre. Se confirmado, será o maior avanço desde o quarto trimestre de 2009 (4,7%).
"Por trás do avanço trimestral está sobretudo a baixa base de comparação, da mesma forma como o avanço de 2009, que ocorreu após perdas originadas da crise financeira internacional. Na verdade, a indústria está agora em ritmo lento e em dificuldade para se recuperar por fatores conjunturais e também específicos de alguns setores", disse o economista da LCA.