IEDI na Imprensa - Mesmo com cenário político definido, emprego industrial patina até 2019
DCI
Apesar do aumento na confiança do setor, empresas ainda não se animam para contratar neste ano, à espera das reformas que a equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro prometeu realizar
Ricardo Bomfim
As incertezas acerca do cenário eleitoral passaram, mas o emprego na indústria ainda custa a engatar um avanço consistente e as expectativas para uma retomada mais forte já foram adiadas para 2019.
Nesta segunda-feira (03), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou que o emprego teve queda de 0,2% em outubro em relação a setembro. “Com a revisão dos números dessazonalizados dos meses anteriores, o emprego passou a registrar a sexta queda consecutiva. A retração mensal tem sido pequena. No período, o recuo acumulado é de 1%”, apontou em nota a entidade.
Para o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Rafael Cagnin, uma retomada mais firme do emprego no setor depende da capacidade do novo governo de aprovar as reformas em 2019, o que estimularia os fabricantes a realizarem mais investimentos e, consequentemente, mais contratações. “O ano de 2018 de certo modo é frustrante, porque perdemos dois terços do ritmo de crescimento do final do ano passado”, analisa.
Já o economista do Banco MUFG, Mauricio Nakahodo, conta que o emprego sempre reage com defasagem e depende da confiança do empresário para poder ter qualquer tipo de recuperação. “O que faria o empregador contratar mais trabalhadores seria uma sinalização favorável em termos de ajuste fiscal e políticas econômicas sólidas. Isso iniciaria um ciclo virtuoso”, acredita o especialista.
O ano de 2019, para Nakahodo, envolverá um melhor acesso ao crédito, com os juros mantidos em patamar baixo e a inadimplência em queda. Além disso, a inflação, ao que as projeções de economistas apontam, deve se manter na trajetória atual de desaceleração. “Se continuar, os trabalhadores terão, nos próximos anos, um aumento no poder de compra, o que também sustentará o consumo das famílias”, explica ele.
Por fim, uma reforma tributária também ajudaria a melhorar o ambiente de negócios do País, ao passo que a reforma da Previdência permitiria que o governo reduzisse os gastos. “São medidas importantes do próprio ponto de vista econômico.”
Apesar da queda no emprego, a massa salarial real dos trabalhadores da indústria brasileira cresceu 0,3% de setembro para outubro. Em relação ao mesmo mês de 2017, contudo, houve queda de 2,5%.
PMI
Outro indicador industrial relevante publicado nesta quarta foi o Índice Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês), do IHS Markit Brasil Manufacturing. A leitura de novembro foi a melhor nos últimos oito meses, saltando 1,6 ponto em outubro, para 52,7 pontos no mês passado.
Dentre os setores analisados, o de bens de consumo foi o que liderou a alta na atividade fabril. Ao mesmo tempo, a confiança empresarial foi para o melhor nível da série histórica, puxada por reajustes leves nos custos dos insumos e taxas de produção.
Rafael Cagnin destaca que o PMI é um indicador mais volátil por trabalhar com pontos mais subjetivos como a percepção de avanço no ambiente econômico pelos empresários. “Esse dado só terá mais peso se for comprovado por uma persistente melhora”, avalia o economista do IEDI.
Na sua visão, as idas e vindas têm sido comuns desde a greve dos caminhoneiros, que interrompeu o movimento forte de recuperação da economia que se anunciava.
“O número do emprego é coerente com o quadro de ímpeto menor da indústria, enquanto o PMI, como mede percepção de forma mais subjetiva, de curto prazo, ainda é algo a ser comprovado”, comenta o analista.
Nakahodo também vê a força do PMI como uma oscilação de curto prazo, mas avalia que os próximos meses devem ter um cenário mais claro de melhora nos indicadores. “Há uma tendência para expansão de investimentos produtivos.”
Cagnin conclui que as dificuldades no emprego tendem a ser superadas à medida em que o cenário político pós-eleitoral ganhar clareza.