IEDI na Imprensa - Indústria cresce 0,2% em outubro e decepciona
O Estado de São Paulo
Apesar de interromper três quedas consecutivas, avanço da produção não anima mercado que esperava uma recuperação mais forte
Vinicius Neder
O desempenho da indústria voltou a frustrar expectativas em outubro, ao registrar alta de apenas 0,2% na produção industrial na comparação com setembro, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta veio no piso das projeções de analistas consultados pela Projeções Broadcast e, embora tenha quebrado uma sequência de três meses seguidos de queda, não amenizou a decepção de quem começou o ano esperando uma recuperação mais forte.
Para Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), não dá nem para falar em recuperação, porque, após a saída da recessão, a indústria parece mais numa “fase de baixo crescimento”. “A indústria saiu do atoleiro e sentou no barranco”, disse Cagnin.
Segundo especialistas, o quadro de frustração em 2018 foi formado por uma combinação de eventos negativos. Foram eles, a greve dos caminhoneiros, em maio, o agravamento da crise econômica na Argentina, que atinge as exportações de manufaturados, e as incertezas do processo eleitoral. Tudo isso ocorreu num ambiente de baixa demanda interna, com uma dinâmica de emprego e renda que não favorece o consumo.
“Quando a gente observa o acumulado do ano, há um movimento de redução na intensidade do ritmo da produção, muito em função desse período mais recente”, afirmou André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), do IBGE.
Comparação. O arrefecimento no ritmo de recuperação fica claro na comparação do cenário atual com o da virada de 2017 para 2018. No acumulado até outubro, a produção industrial registrou alta de 1,8%, ante o avanço de 4,4% que se acumulou no primeiro quadrimestre, antes, portanto, dos eventos que levaram à frustração do ritmo de recuperação. Com a perda de ritmo, o nível da produção registrado em outubro está 3,5% abaixo do de dezembro de 2017.
Tanto Macedo, do IBGE, quando Cagnin, do IEDI, não descartam a possibilidade de o crescimento da produção industrial em 2018 ficar abaixo dos 2,6% de 2017.
Em três anos de recuo, entre 2014 e 2016, a produção industrial amargou queda de 16,7%. O nível de produção de outubro está no mesmo patamar de março de 2009, quando a indústria ainda estava combalida pela crise internacional de 2008.
“A produção não tem mostrado sinal forte de recuperação. No curto prazo, ainda não deve se recuperar de forma acentuada. Já no médio e longo prazos, a expectativa é de um quadro mais favorável”, disse o economista Mauricio Nakahodo.
Isoladamente em outubro, o desempenho da indústria foi afetado pelas quedas de 2,0% na produção de produtos alimentícios e pelo recuo de 3,7% na atividade de metalurgia. O crescimento foi puxado pelas indústrias extrativas (com alta de 3,1%), de máquinas e equipamentos (8,8%) e veículos automotores (3,0%). No caso de máquinas e equipamentos, a produção de caminhões foi destaque, segundo Macedo. Ainda ontem a Mercedez-Benz anunciou que vai abrir 600 vagas e, com isso, retomar o segundo turno da linha de caminhões, o que não acontecia desde 2014.
Carros. A volatilidade no desempenho do setor automobilístico corrobora o quadro de recuperação lenta, disse Macedo. O pesquisador do IBGE lembrou que a crise econômica na Argentina atingiu em cheio a exportação de carros, que tem no país vizinho seu principal mercado e, até o início do ano, compensava a fraqueza da demanda interna.