IEDI na Imprensa - Analistas estimam 5º mês de fraqueza na indústria
Valor Econômico
Ana Conceição
A indústria teve mais um mês de atividade fraca em novembro, o quinto em sequência, mostrando que continuou com dificuldade de recuperar-se no segundo semestre de 2018.
Média das estimativas de 27 consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data aponta que a produção do mês aumentou apenas 0,1% sobre outubro, feito o ajuste sazonal. Esse resultado se segue a quedas em julho (-0,2%), agosto (-0,7%) e setembro (-1,8%) e uma pequena alta em outubro (0,2%).
Se realizada a média das projeções, a atividade industrial ainda ficaria num nível abaixo do registrado em abril, um mês antes da greve dos caminhoneiros, que durou 11 dias em maio e desorganizou a produção.
O intervalo das estimativas é amplo - vai de queda de 0,7% a alta de 1,4%, mostrando que o que ocorreu com o setor no penúltimo mês de 2018 está longe de um consenso. Na comparação com novembro do ano anterior, a média das estimativas é queda de 0,2% na produção. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai divulgar o dado na manhã de hoje.
Os indicadores coincidentes da indústria foram em sua maioria negativos. A fabricação de veículos caiu 1,6% em novembro ante novembro de 2017, segundo dados da Anfavea (que reúne as montadoras), e recuou 7,6% ante outubro, no ajuste sazonal feito pelo Itaú Unibanco. Apesar de a demanda do mercado interno continuar em alta, a queda nas exportações para a Argentina tem feito recuar a produção desse segmento. E o banco estima nova queda na produção de veículos em dezembro, de 1,5% ante novembro, feito o ajuste sazonal.
A exportação de manufaturados em geral deixou a desejar em 2018, o que contribuiu para a fraqueza da indústria no ano passado, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). Cálculo feito pela entidade mostra que, sem contar as plataformas de petróleo, as vendas externas de produtos fabricados no Brasil cresceram apenas 1,5% no ano passado, em dólar.
O Bradesco aponta que a recuperação da indústria tem sido mais moderada do que aquela observada no comércio, o que pode ter limitado a velocidade de retomada do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre do ano passado, estimado pelo banco em crescimento de 0,1% sobre o terceiro trimestre. Para a produção industrial, a projeção é de queda de 0,3% ante outubro.
De fato, a confiança do setor industrial tem crescido num ritmo bem menor que a dos outros setores, emperrando uma recuperação mais forte. O Índice de Confiança da Indústria de Transformação, elaborado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), subiu apenas 0,2 ponto em novembro, após cair um total de seis pontos nos três meses anteriores. As expectativas, contudo, não se recuperaram e se mantiveram em queda pelo terceiro mês consecutivo. Em dezembro, o indicador de confiança ganhou 0,50 ponto, mas as expectativas seguiram negativas.
Outros indicadores de novembro que vieram no campo negativo foram a produção de aço bruto, com queda de 6,1% frente ao mesmo mês de 2017, segundo o Instituto Aço Brasil. A expedição de papelão ondulado caiu 1,3% em novembro sobre outubro, feito o ajuste sazonal, segundo a ABPO, entidade do setor. O índice de evolução da produção da Confederação Nacional da Indústria (CNI) caiu de 54,7 para 48,3 de outubro para novembro. A utilização da capacidade instalada ficou estável em 69%.
No lado positivo, o fluxo pedagiado de veículos nas estradas da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) e da Tendências Consultoria mostrou aumento de 0,6% no trânsito de veículos pesados. Foi a segunda alta consecutiva, mas que não compensou a queda de setembro (-1,5%). "Os ganhos limitados dos últimos meses são consistentes com o atual desempenho da produção industrial, que tem tido relativa perda de velocidade em seu processo de recuperação", afirma Thiago Xavier, economista da Tendências, em nota.