IEDI na Imprensa - Indústria decepciona em 2018 e produção vai crescer menos que no ano anterior
O Globo
Daiane Costa
A greve dos caminhoneiros, a crise argentina e uma incerteza política prolongada impactaram negativamente a indústria em 2018 e fizeram dela a grande decepção econômica do ano. Em 12 meses até novembro, divulgou nesta terça-feira o IBGE, a indústria acumula expansão de 1,8%. O resultado fechado do ano, que será conhecido no próximo mês, não deve ir muito além disso. Ficará abaixo das expectativas do início de 2018 e do desempenho de 2017.
Segundo as mais recentes projeções do mercado compiladas pelo Boletim Focus do Banco Central, o setor deve encerrar 2018 com alta de 1,91%. Há um ano, a expectativa era de crescimento de 3,14%. Em 2017, expandiu 2,6%. Em novembro, a produção industrial brasileira até voltou a crescer, depois de quatro quedas seguidas na comparação com o mês anterior, mas a alta foi de apenas 0,1%.
— Nesses quatro meses de queda seguidos (de julho a outubro), a perda acumulada foi de 2,8%, algo não visto desde o final de 2015, ainda que daquela vez tenha sido em intensidade maior. Isso mostra que o setor vem claramente num movimento de perda de ritmo. E a alta de 0,1% em novembro é bastante concentrada - avalia Andre Macedo, gerente de Indústria do IBGE.
Só para ter uma ideia do impacto negativo desses três eventos no setor (greve, incerteza política e crise na Argentina), até abril, quando eles ainda não haviam se manifestado, a produção industrial acumulava alta de 4,4% no quadrimestre. Já o acumulado dos primeiros cinco meses do ano, que contabiliza os efeitos da paralisação ocorrida no fim de maio, caiu para 2,1%. A greve causou perdas irrecuperáveis à produção, principalmente no setor de abate de animais e hortifruti. A condução do episódio pelo governo minou a confiança ao setor a partir de junho. A isso somou-se uma piora da crise argentina, que compra três quartos da produção automotiva nacional, e as dúvidas sobre quem seriam os candidatos à presidência. Juntas, frearam o consumo. Resultado, a produção encolheu ainda mais: de janeiro a outubro a expansão acumulada caiu para 1,8% e até novembro, dado mais recente, para 1,5%.
- Dos três grandes setores da economia (agricultura, serviços e indústria), ela foi a grande decepção. Teve uma trajetória muito parecida com a do PIB (Produto Interno Bruto), que começou o ano com expectativa de crescer mais. E, como representa cerca de 20% da atividade, pelo lado da oferta, contribuiu para que ela crescesse menos do que o esperado no começo de 2018 - avalia Lucas Souza, economista da Tendências Consultoria Integrada.
Para Souza, o abalo da confiança teve um forte peso nesse resultado. Segundo ele, a sondagem realizada pela Fundação Getulio Vargas mostrou que a confiança do setor caiu sete pontos de maio a outubro e ainda não foi recuperada.
- A indústria era o setor que estava puxando a economia no começo do ano porque é o que pode recorrer mais fortemente às exportações quando a demanda interna encolhe, mas teve um 2018 decepcionante e sucumbiu novamente. O setor de serviços deve sair do atoleiro, já aponta para uma estabilização e a agricultura vem bem porque foi beneficiada pelos preços dos commodities num patamar confortável - analisa Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
Em relação a novembro de 2017, a atividade recuou 0,9%. Segundo o IBGE, apesar de acumular alta em 12 meses (1,8%) e no ano (1,5%), o setor segue perdendo ritmo frente aos meses anteriores nessas duas comparações. A taxa de outubro foi revisada para baixo, de uma alta de 0,2% para queda de 0,1%.
Na passagem de outubro para novembro, somente os bens intermediários tiveram alta entre os quatro grandes grupos, de 0,7%. E somente dez dos 26 ramos pesquisados registraram expansão na produção. Entre as atividades, a influência positiva mais relevante foi a de produtos alimentícios, setor que avançou 5,9%, depois de quatro meses seguidos de queda, influenciado por alta na produção de açúcar, recuperando perdas passadas. Entre os ramos em queda, o pior desempenho foi o de veículos, que recuou 4,2%, eliminando o crescimento de 2,8% do mês anterior.
O recuo de 0,9% em relação ao mesmo mês do ano passado foi influenciado por três das quatro grandes categorias — bens intermediários, de consumo duráveis e semiduráveis e não duráveis —, cuja produção encolheu. Quatorze dos 26 ramos também ficaram negativos e 50 dos 79 grupos. O principal impacto negativo também foi de alimentos, queda de 5%, pressionado pela menor fabricação de açúcar cristal e o VHP, açúcar destinado às exportações, além de sucos concentrados de laranja, carnes e miudezas de aves congeladas.
No acumulado em 12 meses, todos os quatro grandes grupos apresentam expansão na produção. Destaque para os bens de consumo duráveis e de capital, que crescem 10,3% e 8,3%, respectivamente. A produção industrial ainda opera em um patamar 16,4% abaixo do pico da série histórica, atingido em maio de 2011. A pesquisa iniciou em 2002.
Em 2016, houve recuo de 6,4%, seguindo baixa de 8,3% em 2015 e de 3% em 2014. A produção não crescia de forma tão acelerada desde 2010 (+10,2%), conforme o IBGE. Apesar de positivo, o avanço reduz apenas parte da baixa acumulada de 2014 a 2016, de 16,7%.
As expectativas para 2019 são novamente positivas, na esteira de uma confiança na implementação de reformas pelo novo governo federal (da Previdência e tributária). A falta de clareza sobre o novo direcionamento do comércio internacional preocupa, analisa Luana Miranda, economista do IBRE/FGV:
- Como vamos reconstruir nosso comércio internacionall, quais serão nossos parceiros, a questão da Argentina é grave e não sabemos quando será resolvida. Precisamos reorganizar a pauta das exportações brasileiras e temos de esperar para ver como isso será feito.
IGP-DI: maior alta acumulada em dois anos
O Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) recuou 0,45% em dezembro, mas, ainda assim, terminou 2018 com a maior alta acumulada em dois anos, de acordo com os dados divulgados nesta terça-feira pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O índice encerrou o ano com alta acumulada de 7,10%, depois de ter recuado 0,42% em 2017 e registrar avanço de 7,18% em 2016.
Em dezembro, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-DI), que responde por 60% do indicador todo, teve queda de 0,82%, sobre recuo de 1,70% no mês anterior, encerrando 2018 com alta acumulada de 8,75%.
No IPA, os preços dos Bens Finais passaram a avançar 0,62%, depois de uma queda de 1,01% em novembro. O subgrupo combustíveis para o consumo recuou 3,02%, desacelerando a queda do mês anterior de 15,17%.
A pressão no varejo em dezembro aumentou, com o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-DI), que responde por 30% do IGP-DI, subindo 0,29%, sobre queda de 0,17% no período anterior. No ano, o IPC-DI acumulou alta de 4,32%.
No mês, a maior contribuição partiu do grupo Habitação, que passou a subir 0,20%, ante queda de 0,94%.
O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-DI), por sua vez, registrou em dezembro a mesma taxa de variação do mês anterior, de 0,13%, terminando o ano com alta acumulada de 3,84%.
O IGP-DI é usado como referência para correções de preços e valores contratuais. Também é diretamente empregado no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) e das contas nacionais em geral.