IEDI na Imprensa - IEDI: Greve e crise Argentina pioraram indústria que já estava frágil
Valor Econômico
Ana Conceição
A greve dos caminhoneiros, em maio, e a recessão da Argentina, cujos efeitos foram sentidos principalmente a partir do meio do ano passado, pioraram a situação de uma indústria que já andava frágil antes mesmo desses eventos, afirma Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial (IEDI).
“Não havia um processo de ganho de robustez e com isso o setor ficou muito vulnerável a esses revezes pontuais. Não dá para culpar só a greve, nem a Argentina”, diz ele a respeito do crescimento de apenas 1,1% na produção industrial de 2018, informada nesta sexta-feira (1º de fevereiro) pelo IBGE.
Cagnin anota a desaceleração da indústria no período. No quarto trimestre de 2017, houve alta de 5% sobre o mesmo período do ano anterior, que cedeu para alta de 2,8% no primeiro trimestre de 2018, 1,8% no segundo trimestre, 1,2% no terceiro e, enfim, queda de 1,1% no quarto, ante os mesmos períodos do ano anterior.
Essa fragilidade decorre da própria falta de força da atividade econômica, diz. O desemprego segue muito elevado e a renda não teve o “bônus” da queda da inflação como em 2017 e os investimentos foram muito tímidos, enumera. “Não há motor para crescer”, diz o economista, apontando a queda na produção de bens de capital para a própria indústria. “A recomposição do investimento ficou concentrada na agricultura. Sem algo mais generalizado fica difícil uma recuperação do setor.”
As concessões e privatizações planejada pelo governo, se realizadas, podem ter impacto na indústria, mas não no curto prazo, assim como outras medidas, como o alívio na tributação. “Medidas sistêmicas de competitividade demoram [para fazer efeito]”, diz.
O IEDI não faz estimativas, mas Cagnin cita riscos à produção neste ano. A abertura unilateral do mercado, como já aventada pelo governo, é uma delas, especialmente se for feita de uma vez. “Depois de cinco anos de obsolescência do parque industrial, nossa competividade e produtividade foram prejudicadas. Uma redução unilateral de alíquotas aumentaria a importação de forma instantânea em um momento muito frágil da recuperação.”
A confiança da indústria melhorou puxada pelas expectativas, como mostrado pelo índice da Fundação Getulio Vargas (FGV), mas quanto disso vai se traduzir em atividade vai depender do avanço da agenda de reformas. “Há ainda muita incerteza”, diz o economista.
No lado externo, o ano também não deve ser fácil. O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial apontam desaceleração do comércio mundial, ou seja, mais concorrência e justo num momento em que a economia da Argentina continuará em queda.