IEDI na Imprensa - Produção industrial avança 1,1% em 2018, desempenho abaixo do ano anterior
O Globo
Em 2017, o setor havia crescido 2,6%. Veículos puxam o resultado do ano passado
Bárbara Nóbrega
A produção industrial brasileira encerrou 2018 com expansão de 1,1%, o segundo ano seguido de crescimento após três anos de queda, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira. Em 2017, o setor havia crescido 2,5%, o que mostra que a indústria, embora ainda em patamar positivo, desacelerou no último ano. Entre os fatores que contribuíram para o resultado estão a crise na Argentina, a greve dos caminhoneiros, a incerteza política e o mundo crescendo menos.
— Houve queda considerável da produção em maio, por causa da greve dos caminhoneiros. Houve um movimento de recuperação no mês de junho, embora tenha ocorrido uma redução nos meses seguintes. Foram quatro meses de recuo, com saldo negativo. Se comparamos o patamar (quanto o setor estava produzindo) que estava a indústria em junho, vimos que segunda metade do ano está marcada por uma redução no ritmo dessa produção — explica André Macedo, gerente de Indústria, do IBGE.
Entre as atividades econômicas, veículos automotores foram os que mais contribuíram para o resultado positivo no ano, com alta de 12,6%. Outras atividades que ajudaram foram a metalurgia, com avanço de 4%, e celulose, com variação positiva 4,9%. Entre as atividades que puxaram a indústria para baixo estão os produtos alimentícios que caíram 5,1%.
— No último ano, os bens de consumo duráveis foram alavancados principalmente por automóveis, com alta de 12,6%. Muito desse resultado está associado ao desempenho industrial do setor nos primeiros meses de 2018 — ressalta Macedo.
Segundo o gerente de Indústria do IBGE, para além da greve dos caminhoneiros, empresários e famílias se retraíram, esperando a definição do quadro eleitoral.
— Além disso, a crise argentina e o mercado de trabalho ainda fraco, com um contingente importante de trabalhadores fora do mercado também explicam o arrefecimento da produção no segundo semestre. O ano de 2018 fechou com uma velocidade menor do que como terminou o ano de 2017.
O número veio de acordo com as projeções dos especialistas. O Ibre, da Fundação Getulio Vargas (FGV), previa alta exatamente de 1,1%. A expectativa para a indústria em 2019 segue positiva. Segundo o mais recente Boletim Focus, do Banco Central (BC), a produção deve crescer 3,04% este ano.
— É importante perceber que o último ano a indústria teve duas fases diferentes. Entre janeiro a abril de 2018 ela cresceu 4,4% em relação a 2017, enquanto entre maio a dezembro retraiu 0,3%. Houve uma desaceleração no crescimento da indústria em relação ao índice acumulado no ano de 2017, que fechou positivamente pela primeira vez após a recessão. Não esperamos crescimento para o primeiro trimestre de 2019, mas aguardamos um cenário positivo para o segundo semestre do ano — explica a pesquisadora Luana Miranda, da área de Economia Aplicada do FGV IBRE.
Para a análise do resultado acumulado no último ano, a incerteza política foi um dos fatores levados em consideração. Diante das expectativas quanto a agenda do novo governo, economistas alertam para a importância em se discutir a reforma tributária.
— Todos ganham com a reforma tributária. Poderia facilitar a arrecadação, reduzir a sonegação fiscal, além de tirar um peso gigantesco das costas das empresas. Há muito esforço e gastos por parte do setor privado simplesmente para pagar tributos, devido a complexidade do nosso sistema tributário — comenta Rafael Cagnin, economista do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
De acordo com o economista, o crescimento industrial desse ano depende de dois fatores — o fator externo, referente a evolução da economia internacional, e do fator interno quanto a definição de uma agenda político-econômica mais detalhada.
— Nada garante que o crescimento industrial vai ganhar ritmo em 2019. A agenda do governo tem que ficar clara. Uma melhor comunicação reduz incertezas e facilita o planejamento para o futuro. Se não engrenarmos verdadeiramente em um ritmo de crescimento mais robusto, corremos o risco de baixíssimo crescimento — ressalta Cagnin.
Por conta do minério de ferro, o setor extrativo fechou positivo, pelo segundo ano seguido, com 1,3%. Em 2016, o setor registrou no acumulado do ano -9,4%, resultado referente ao ano seguinte ao desastre de Mariana, ocorrido em novembro de 2015.
Até outubro de 2015, a indústria extrativa - que representa 11% do total da produção industrial brasilera - acumulava expansão, nos dez meses daquele ano, de 6,9% e a indústria geral caía 7,5%. Após o desastre em Mariana, ambas encerraram o ano com resultados piores: 3,9% e -8,3%, respectivamente. No ano seguinte, a indústria extrativista amargou sinais negativos de janeiro a dezembro.
— É importante perceber que 2016 foi um ano de recessão. Não só a indústria extrativa foi afetada, mas também a indústria de transformação. Não podemos dizer que esse resultado foi efeito Mariana. A economia como um todo respondia por um período de crise — ressalta Luana.
Investimentos aumentam
Os chamados bens de capital (máquinas e equipamentos) que mostram o investimento na economia, subiram 7,4%, praticamente a mesma elevação, 7,6%, dos bens de consumo duráveis (eletrodomésticos, carros).
— Bens de capital tem uma expansão de 7,4% e esse avanço está diretamente relacionado à indústria automobilística, só que mais especificamente por conta dos caminhões. Isso também se dá por conta dos bens voltados para o setor de construção e para o setor agrícola — diz Macedo.
O gerente de Indústria do IBGE afirma que, apesar da alta de 1,5% na produção de alimentos no mês de dezembro, isso ocorreu depois de quatro meses de queda. O avanço não supera as perdas registradas entre junho a outubro. Desses, um elemento importante é o açúcar. Setor extrativo, com alta de 1,3%, e alimentícios foram os principal avanço em dezembro.
Segundo o economista do IBGE, a crise argentina provocou diminuição da produção de automóveis. Nos últimos meses do ano, houve queda, embora no ano tenha sustentado a pequena alta da indústria:
— No último ano, a crise argentina afetou as exportações, e a interrupção desse canal afeta a produção industrial. Para esse ano, pode-se esperar mais exportações. Todo ambiente de incerteza afeta as decisões do empresariado e famílias, nos investimentos e consumo. Em janeiro, houve um salto no nível de confiança, o que afeta positivamente a produção.
No campo de queda, a principal influência negativa envolve o setor alimentício. O açúcar, cuja safra foi mais destinada ao álcool, e a carne de aves, que sofreu com embargos nas exportações, contribuíram para o resultado.