IEDI na Imprensa - PIB de 1,1% revela país estagnado
O Globo
Analistas avaliam que, sem a reforma da Previdência, Brasil continuará estagnado. Eles veem também riscos externos que podem frear ainda mais a retomada lenta da economia depois da recessão de 2015 e 2016
Daiane Costa, Gabriel Martins, João Sorima Neto, Leo Branco e Ana Paula Ribeiro
Em 2018, pelo segundo ano consecutivo, a economia brasileira cresceu apenas 1,1% e está no mesmo patamar de seis anos atrás. Previsões apontam para 2,2% este ano se for aprovada a reforma da Previdência. Indústria cresceu após quatro anos em queda. Aeconomia brasileira se recupera a passos lentos e com fragilidades. Pelo segundo ano consecutivo pós-recessão, o Produto Interno Bruto (PIB) teve alta de apenas 1,1% em 2018, informou o IBGE ontem. Numa lista de 42 países, o desempenho deixa o Brasil na 40ª posição. As previsões para este ano apontam para alta de 2,2%, desde que a reforma da Previdência seja aprovada, fator considerado imprescindível para retirar o país da estagnação. Sem as mudanças nas aposentadorias, analistas veem risco de o crescimento minguar. Qualquer solavanco, tanto no cenário externo como doméstico, pode fazer o PIB recuar.
A economia brasileira está produzindo hoje o mesmo que em 2012. Segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, o PIB ainda está 5,1% abaixo do seu pico, atingido no primeiro trimestre de 2014. Quando se considera o PIB per capita, queéo PIB di vidi dope lapo pulação e serve como indicador debem-estar, o Brasil ainda está 9% aba ixodo patamar do primeiro trimestre de 2014, de acordo com as contas do economista-chefe para América Latinado Goldman Sachs, Alberto Ramos.
—Há dois grandes riscos para a economia em 2019. O maior dele sé a reformada Previdência ser desidrata dano Congresso. Senão for aprovada deforma afazer ao menos 70% da economia prevista, vai azedar o mercado. A outra é um aumento da volatilidade externa, afastando investimentos estrangeiros do Brasil —diz Silvia Matos, economista do Ibre/FGV, que prevê alta de 2,1% do PIB este ano.
EXPECTATIVAS FRUSTRADAS
Para Sergio Vale, economistachefe da MB Associados, se a reforma não passar, o país voltaria à recessão no já no segundo semestre deste ano. Segundo Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria Integrada, há 30% de chances de o texto não passar no Congresso.
Em 2018, indústria e investimentos voltaram acrescer. E os dois componentes de maior peso no PIB, os serviços e o consumo das famílias, aceleraram sua recuperação. O primeiro teve alta de 1,3%, frente ao 0,5% de 2017, e o segundo, de 1,9%, em relação ao 1,4% do ano anterior. São esses mesmos setores que devem continuar ajudando a economia acresceres teano.
O cenário no início de 2018 era diferente. Havia a expectativa de crescimento de 2,7%. Masa greve dos caminhoneiros, o cenário eleitoral mais turbulento doque o esperado e um cenário externo adverso para mercados emergentes, como o Brasil, minaram uma expansão maior da economia.
Na avaliação do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), em 2018 houve uma acomodação da economia em nível baixo: 1,1% na primeira metade do ano e 1,2% na segundo semestre.
O esforço para crescer na casa de 2% em 2019 não será pequeno. Em 2018, a economia brasileira teve expansão média de 0,3% por trimestre. Este ano, precisa dobrar a performance para alcançar os 2,1% projetados pela Silvia, da FGV.
Flavio Serrano, economista sênior do banco Haitong, avalia que o baixo crescimento deve conter a expansão no primeiro semestre:
— O efeito de carregamento (o quanto o crescimento do ano anterior influencia o do ano corrente)para 2019 vai ser só de 0,4%. Para crescer perto de 2%, que não é um resultado espetacular, vamos ter que ralar muito.
Luis Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC, diz que as amarras que impedem que o PIB cresça mais fortemente estão ligadas às incertezas por parte dos investidores:
— Não é possível que a recuperação da economia esteja lenta somente por causa da questão fiscal. Boa parte dessas amarras têm a ver com um cenário generalizado de incertezas.
O economista diz que a indústria vai sofrer com a redução da extração de minério da Vale, depois da tragédia de Brumadinho:
— Certamente, terá reflexo na indústria do primeiro trimestre deste ano. Em relação ao resultado anual, talvez o reflexo negativo não seja tão significativo.
DEMANDA INTERNA AVANÇOU
O crescimento veio pelo demanda interna. Não fosse o setor externo, que voltou a contribuir negativamente para o PIB, o Brasil poderia ter crescido 1,6% em 2018, segundo Rebeca, do IBGE. As exportações cresceram 4,1%, prejudicadas pela recessão Argentina, principal compradora de automóveis do Brasil, e pela safra menor de grãos. Em 2017, as vendas externas tinham crescido 5,2%.
O crescimento brasileiro ficou na lanterna entre 42 países. Só foi maior que a expansão do Japão (0,8%) e o da Itália (0,7%), de acordo com o levantamento feito pela agência de classificação de risco Austin Rating.
O economista-chefe da agência, Alex Agostini, observa que o Brasil ficou atrás até mesmo de países que tiveram crises econômicas recentes, como Portugal, que cresceu 2,1% no ano passado, e Espanha, que teve expansão de 2,5% do PIB em 2018.
—Precisamos investir muito mais para reduzir o contingente de 12 milhões de desempregados. Há um problema sério de confiança na economia que leva a esse investimento baixo —diz Agostini.