IEDI na Imprensa - Pressionada pelo setor farmacêutico, indústria recua 0,8% em janeiro
O Globo
Pesquisa do IBGE mostra uma retração generalizada dos setores, apresentando queda de 2,6% em relação ao mesmo mês do ano anterior
Bárbara Nóbrega
A indústria brasileira começou o ano sem fôlego, com perda continuada de dinamismo. Em janeiro, a produção industrial registrou queda de 0,8% na comparação com o mês imediatamente anterior, divulgou o IBGE nesta quarta-feira. Pelo terceiro mês consecutivo sem recuperação industrial, a pesquisa mostra uma retração generalizada dos setores. Em relação a janeiro de 2018, a indústria recuou 2,6% e registrou o pior desempenho em bens de capital, que caiu 7,7%, ocasionada pela diminuição na produção de máquinas e equipamentos para a própria indústria.
Entre as categorias, o principal impacto negativo de janeiro em relação ao mês anterior foi na indústria farmacêutica, com queda de 10,3%. Além disso, a produção de bens de capital (máquinas e equipamentos) apresentou variação negativa de 3%.
— Com base no mês imediatamente anterior, o principal impacto de queda vem da área farmacêutica, que vinha crescendo em dois meses em sequência, principalmente ocasionada pelo fator pontual das férias coletivas tiradas pelos funcionários em janeiro, e não em dezembro, diminuindo a produção. Porém, é um setor cujas taxas oscilam bastante mês a mês — destacou André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE.
Em relação a dezembro de 2018, houve perda em 13 dos 26 ramos pesquisados pelo IBGE. O recuou acentuado dos bens de capital no primeiro mês do ano refletem a fraqueza de investimentos no setor.
— A perda do ritmo da indústria, principalmente no segundo semestre do ano passado, ainda mostra impactos vindos por conta da crise na Argentina. Há incerteza na economia, o que posterga os investimentos, impactando o resultado dos bens de capital. Estamos com investimentos meio travados para a indústria como um todo. Os bens de consumo semi e não duráveis apresentam resultado negativo porque as famílias estão postergando o consumo, principalmente por conta da alta taxa de desemprego — explica Luana Miranda, pesquisadora da área de Economia Aplicada do FGV-IBRE.
As variações negativas mostram que alguns setores têm mais dificuldades do que outros para se recuperar, mas a demanda de um ramo industrial por outro impacta no resultado geral.
— É um desempenho muito decepcionante de um setor que precisa recuperar 17% em relação ao pico atingido em maio de 2011. A disseminação das taxas negativas mostra que há um problema de recuperação.A categoria de bens intermediários, embora não seja a que mais retroagiu em janeiro, apresenta cinco meses consecutivos de queda. Chamo atenção porque é o eixo do sistema industrial, porque produz insumo para os outros setores industriais. A fragilidade é acumulativa — explica Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
A indústria extrativa, com sua queda de 1%, também foi outro setor que afetou a indústria brasileira em janeiro. No entanto, pondera Macedo, ainda não foi possível mensurar exatamente os efeitos da tragédia envolvendo a mineradora Vale em Brumadinho, Minas Gerais.
— Em relação aos resultados desse mês para o setor extrativo, considero colocar na conta dessa queda de 1% os efeitos do rompimento da barragem em Brumadinho como algo prematuro, uma vez que o desastre ocorreu no fim mês de referência para a pesquisa. Se influenciou para essa queda, foi uma contribuição pequena. Porém, não descarto os efeitos disso para os próximos meses.
No acumulado em 12 meses, a indústria registra alta de 0,5%. Atualmente, no entanto, a indústria brasileira opera no mesmo patamar de fevereiro de 2009.
— Estamos longe de manter uma trajetória contínua de resultados positivos no geral — destacou Macedo.
Resultados melhores no segundo semestre
Há, no entanto, uma perspectiva de melhora para a indústria no geral no que se refere aos resultados de fevereiro de 2019. Indicadores antecedentes, como os divulgados na última segunda-feira pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA), mostram que a produção de veículos cresceu 20% no mês em relação a fevereiro de 2018.
— Os indicadores antecedentes da indústria sobre o mês de fevereiro indicam uma recuperação. Atualmente projetamos um aumento de 1,9%, em relação a fevereiro de 2018, e 0,8% em relação a janeiro de 2019. Caso haja uma melhora em fevereiro, no entanto não podemos garantir que seja contínua. Esperamos resultados melhores para a indústria somente no segundo semestre e uma recuperação lenta especialmente nesse primeiro trimestre — explica Luana.
Embora o Brasil seja um dos dez maiores parques industriais do mundo, a recuperação da indústria brasileira também inclui acompanhar o avanço tecnológico mundial.
— Para que o setor possa crescer precisamos incorporar novas tecnologias e investir na indústria 4.0, para não ficarmos para trás. Não conseguimos sequer virar a página da crise, quanto mais acompanhar o nível tecnológico da indústria mundial. Os resultados positivos para este ano dependem muito da agenda econômica do governo, além do resgate de investimentos e a recomposição do investimento público— ressalta Cagnin.
Macedo chamou atenção ainda para o saldo negativo da média móvel trimestral, que teve variação negativa de 0,2% nos três meses encerrados em janeiro deste ano frente ao nível do mês anterior.
— Isso confirma a falta de dinamismo que marca a indústria nos últimos meses—- explica André.
A queda de janeiro veio acima das expectativas do mercado financeiro. De acordo com sondagem da Bloomberg, os economistas projetavam um recuo de apenas 0,1% no primeiro mês do ano.