IEDI na Imprensa - Dificuldade em exportar evidencia baixa competitividade
Valor Econômico
Sergio Lamucci
Um dos sinais mais gritantes da falta de competitividade da indústria brasileira é o mau desempenho das exportações de produtos manufaturados. Em 2018, o volume exportado desses bens cresceu apenas 2,8%, ficando ainda 14,2% abaixo do nível máximo atingido em 2007. Em resumo, a quantidade de produtos manufaturados vendidos ao exterior no ano passado foi quase 15% menor do que o registrado há mais de uma década, segundo números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). Mudar esse quadro é um dos grandes desafios da indústria nas próximas duas décadas, e será um grande termômetro para verificar se o segmento voltou a se tornar mais competitivo.
"É verdade que o impacto da crise da Argentina é forte, mas o problema está longe de ser apenas isso", diz Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). Ainda que a recessão no país vizinho ajude a explicar a falta de fôlego das vendas de manufaturados do país, o problema vai muito além disso, avalia Almeida. "O desempenho atual é uma lástima."
Nesse quadro de falta de competitividade, o país não tem no mercado externo uma válvula de escape em caso de forte desaceleração da economia doméstica, segundo ele. Boa parte das empresas industriais enfrenta muitas dificuldades para concorrer no exterior, não conseguindo exportar uma parcela maior da produção quando a demanda interna cai. "Quando havia crise no mercado interno, as empresas buscavam a opção de um mercado mais forte no exterior", diz Almeida. "Era como se fosse um estabilizador automático. Isso não ocorre mais."
O economista Paulo Morceiro diz que o país perde uma fonte de crescimento adicional por ter uma indústria pouco competitiva. Grande parte das empresas industriais brasileiras não conseguem competir no mercado externo. Pesquisador do Núcleo de Economia Regional e Urbana da Universidade de São Paulo (Nereus), Morceiro observa que, desse modo, o Brasil deixa de se beneficiar do dinamismo da economia de outras economias. "É o que os países asiáticos fazem", diz ele, também pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) da USP.
Nesse cenário, o Brasil viu encolher a sua participação nas exportações globais de produtos manufaturados nas últimas décadas. No começo dos anos 1980, essa fatia chegou a ser ligeiramente superior a 1%. Em 2017, o percentual estava em 0,61%, de acordo com números da Confederação Nacional da Indústria (CNI) calculados com base em estatísticas da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Para Morceiro, uma das medidas fundamentais para tirar a indústria da crise em que se encontra é justamente estimular exportações. Isso passa por mecanismos de financiamento das vendas externas, por acordos comerciais que ampliem o acesso dos produtos brasileiros a novos mercados e por impedir a sobrevalorização do câmbio por longos períodos, na visão de Morceiro.
A baixa produtividade da economia brasileira é uma das causas da crônica dificuldade da indústria do país competir no exterior. O IEDI destaca estudo da consultoria McKinsey sobre os ganhos de eficiência em várias economias. De 1990 a 2018, a produtividade do trabalho no Brasil cresceu a uma média de apenas 1,3% ao ano. Mesmo nos EUA, "onde a produtividade já é bastante elevada", o crescimento médio foi maior do que no Brasil, alcançando o ritmo de 1,9% ao ano, nota o IEDI.
Nessas quase três décadas, os ganhos de eficiência de vários outros países emergentes foram muito maiores que no Brasil. Na China, a produtividade do trabalho avança com muita força, a um ritmo de quase 9% anuais. Desse modo, ela já está muito próximo do nível brasileiro. "Índia, Chile e Rússia também se saíram melhor que o Brasil", nota o IEDI. A produtividade indiana cresceu 5% anuais de 1990 a 2018, enquanto a chilena subiu 3% e a russa, 1,5%, de acordo com os números da McKinsey.
"O pior é que o problema corre o risco de se agravar", adverte o IEDI. "Com as mudanças tecnológicas em curso no mundo, o esforço para reverter esse quadro da produtividade brasileira pode se tornar cada vez maior." Pelo estudo da McKinsey, o nível da produtividade brasileira ainda é superior ao da China e da Índia, embora tenda a ser rapidamente superado pela primeira, dado que a eficiência pouco avança por aqui, ao passo que dispara na economia chinesa. Chile e Rússia já são mais produtivos no trabalho do que o Brasil.
Uma economia de baixa produtividade cresce pouco e tem dificuldades para exportar. Os números da McKinsey dão uma ideia das dificuldades do Brasil para se tornar mais eficiente e ser mais competitivo no mercado externo nos próximos 20 anos.