IEDI na Imprensa - Economistas veem sinal de desaceleração do crédito a empresas
Valor Econômico
Sergio Tauhata
A área de Indicadores e Estudos Econômicos da Boa Vista, especializada em risco de crédito, aponta para sinais de uma desaceleração nas concessões de crédito para as empresas em abril diante dos dados do mercado divulgados pelo Banco Central hoje.
“O ritmo de crescimento dos novos empréstimos com recursos livres para pessoas jurídicas, já descontados os efeitos da inflação, recuou de cerca de 10% para 7,9%” no mês passado.
Para os economistas, “ainda é cedo para afirmar que o atual ciclo de expansão do crédito às empresas já esteja próximo ao fim, mas esse dado de abril não deixa de ser um alerta quando analisado no contexto de rápida deterioração do cenário econômico”.
A Boa Vista chama a atenção para a queda da confiança das empresas observada nos últimos meses. “Diante da revisão para baixo das expectativas para o crescimento da economia e da menor confiança, os empresários tendem a adotar uma postura mais cautelosa, adiar investimentos e evitar o endividamento”, afirmam.
Conforme os economistas, a lenta recuperação da economia tende a encurtar os ciclos de expansão do crédito. “O fraco crescimento da renda limita a capacidade de endividamento tanto das empresas quanto das famílias. Também nas operações para pessoas físicas já se nota uma lenta desaceleração desde o ano passado.”
A inadimplência segue estável e próxima dos menores patamares da história. Considerando as operações com recursos livres, ela atingiu 2,7% em abril, ante 2,8% em março. No caso das pessoas físicas, ela ficou em 4,7%.
“Sem recuperação da atividade econômica e do mercado de trabalho, aumenta a probabilidade de que o crescimento dos empréstimos observado nos últimos meses resulte em aumento da inadimplência, o que ainda não estava no radar”, alertam os especialistas da Boa Vista.
Já o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) avalia que os números do setor de crédito mostram sinais de freio na retomada do mercado para pessoa jurídica. “Os dados do BC mostram que, mal começou a melhorar, e o quadro do crédito corporativo já dá novos sinais de retrocesso”, afirmaram os analistas da entidade.
Segundo o IEDI, em abril, assim como em março, as concessões cresceram muito pouco em termos reais, "sinalizando um giro muito baixo dos negócios, mas também o constrangimento de alguns canais de financiamento, notadamente o BNDES”.
Os novos empréstimos às empresas, que em termos reais tinham registrado expansão de 18% no 3º trimestre do ano passado, cresceram apenas 9,5% no mesmo período de 2019.
Descontada a inflação medida pelo IPCA, a variação anualizada em abril das concessões de financiamentos corporativos atingiu 2,6%.
O instituto apontou como principais fatores dessa perda de fôlego a desaceleração do crédito do BDNES, a retração do crédito rural e a volatilidade do financiamento imobiliário. “Assim, a expectativa de o crédito corporativo deixar de ser um obstáculo para a recomposição do financiamento geral da economia pode vir a ser frustrada, caso persista este encolhimento do ritmo de contratação de novos empréstimos às empresas”, disseram os economistas do IEDI.
Os especialistas do instituto também apontam para o aumento das taxas nominais de juros do crédito com recursos livres para pessoa física. Segundo o IEDI, as taxas cobradas das famílias nessas modalidades progrediram de 50,8% ao ano no 4º trimestre de 2018 para 52,7% a.a. no 1º trimestre deste ano e para 53,6% a.a. em abril. “O crescimento do crédito às pessoas físicas pode vir a arrefecer em resposta à evolução das taxas médias de juros”, alertaram os analistas.
O fator juros também pode estar pesando no segmento corporativo. De acordo com o IEDI, desde final do ano passado, as taxas nominais destes empréstimos para pessoas jurídicas pararam de cair. “Os dados podem estar sugerindo que o ciclo positivo de expansão do crédito, propiciado pelas reduções passadas da taxa básica de juros Selic começa a se esgotar.”