IEDI na Imprensa - Produção industrial tem leve alta de 0,3% em abril, mas ainda acumula queda de 2,7% no ano
O Globo
Indústria extrativa teve tombo de 9,7% com paralisações em minas da Vale após tragédia de Brumadinho
Bárbara Nóbrega
A produção industrial voltou ao campo positivo em abril, com uma leve alta de 0,3% em relação a março, já com ajuste sazonal. As informações foram divulgadas pelo IBGE nesta terça-feira. O resultado ficou abaixo do previsto pelo mercado. Na média, segundo analistas consultados pela agência Bloomberg, a projeção era de uma alta de 0,7% na indústria em abril.
Mesmo com o resultado positivo, após recuo de 1,3% em março, a indústria tenta recuperar o fôlego e permanece operando 17,3% abaixo do seu ponto máximo, alcançado em maio de 2011.
No ano, o setor ainda acumula queda de 2,7% na produção industrial e, segundo analistas, deve caminhar para o seu décimo ano de crise amargando, ao fim de 2019, um tombo de mais de 10% na última década.
Para Luana Miranda, pesquisadora da área de Economia Aplicada do FGV IBRE, o resultado positivo é apenas um respiro para a retomada da indústria.
— O resultado de 0,3% é um alento, mas não podemos inferir que a indústria vai deslanchar. Ele veio mais negativo do que esperávamos, por conta da extrativa-mineral. O impacto da Vale está sendo muito grande desde fevereiro. Por outro lado, a indústria da transformação surpreendeu positivamente, crescimento na margem, 1,2% em relação ao mês de março. A industria é muito afetada pela confiança, e esse é o principal tópico a ser discutido no momento.
Com a paralisação de atividades em várias minas da Vale após a tragédia de Brumadinho, a indústria extrativa teve um tombo de 9,7% em abril. É o quarto resultado negativo consecutivo para o segmento, representando o maior impacto negativo no resultado da indústria.
Segundo André Macedo, gerente de Indústria do IBGE, o resultado negativo no acumulado no primeiro quadrimestre deste ano, no entanto, não é influenciado apenas pelo setor extrativo. Fatores conjunturais internos, como o consumo das famílias, o índice de confiança e o mercado de trabalho não podem ser desconsiderados.
— Mesmo expurgando o setor extrativo, ao fazer uma comparação interanual, o resultado da indústria de transformação ainda assim permaneceria em queda no acumulado no ano. Onde há uma queda de 2,7% no total da indústria em 2019, teria um resultado negativo um pouco menos intenso, de 1,3%. Teríamos um sentimento de queda menor do que quando incorporo a extrativa na conta, mas isso é extremamente razoável quando percebemos que os fatores conjunturais que vem explicando a indústria ao longo dos últimos anos permanecem.
De acordo com um relatório divulgado pelo Ipea, na semana passada, a ruptura da barragem da Vale em Brumadinho (Minas Gerais), ocorrida no fim de janeiro, teve impactos imediatos diretos sobre a produção de minério de ferro nos primeiros meses do ano.
Após esse desastre, nos meses de fevereiro e março, uma série de outras interrupções de operações de extração de minério se sucederam, o que aumentou a perda de produção no primeiro trimestre. Parte dessas interrupções foram voluntárias, por exemplo, a decisão da empresa de avançar o processo de descomissionamento de todas as suas barragens a montante.
De acordo com o Ipea, as chuvas acima do normal no Maranhão também atrapalharam o transporte e a produção do minério no chamado Sistema Norte. Mas este último efeito é temporário e deve ser revertido nos próximos períodos, ao contrário dos reflexos do acidente em Brumadinho, que devem se estender por todo 2019.
Por outro lado, setores como veículos automotores, reboques e carrocerias (7,1%), máquinas e equipamentos (8,3%), outros produtos químicos (5,2%) e produtos alimentícios (1,5%) tiveram alta.
A expansão de 20 dos 26 segmentos, no entanto, não representa um sinal de recuperação para a indústria. Para Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), fatores sistêmicos como a queda nos índices de confiança, que influenciam nas decisões de investidores e no consumo das famílias, e o desemprego muito elevado frustram a expectativa de retomada.
— O resultado não foi dos melhores, vemos o quadro recessivo que já havia se desenhado no final do ano passado. Há a necessidade da melhoria da confiança. Nas condições atuais, a aprovação da reforma da Previdência é mais um teste de fogo para passar um conjunto amplo de reformas do que o estopim para acelerar o crescimento. Medidas de curto prazo ajudariam mais a tirar a tirar a indústria desse patamar do que as de longo prazo, como a reforma. Poderíamos, por exemplo, usar uma parcela de recursos a partir das privatizações de empresas para restaurar obras públicas que foram interrompidas por conta da crise e criar condições para que o produtor nacional traçasse estratégias mais agressivas frente ao mercado externo.
Revisão das projeções
Na última semana, o IBGE divulgou o primeiro resultado do PIB (Produto Interno Bruto) sob governo do presidente Jair Bolsonaro, no qual o conjunto de bens e serviços produzidos no país recuou 0,2% no primeiro trimestre em relação ao fim de 2018.
Em abril, o boletim Focus, da Banco Central, tinha como previsão o crescimento de 2% para a Produção Industrial. No entanto, em seu relatório mais recente, publicado um dia após a divulgação do PIB, o BC apresentou uma perspectiva de 1,49% para o crescimento da indústria.
Para a pesquisadora da Economia Aplicada do FGV IBRE, o resultado relativo ao mês de junho será primordial para compreender o comportamento da indústria, podendo gerar revisão das projeções para o segundo semestre e para o PIB anual. Para o instituto, a previsão atual para o crescimento é de 1,2% em 2019.
— O resultado de 0,3% é um alento, mas não podemos inferir que a indústria vai deslanchar. A produção industrial do mês de junho é muito importante para entendermos para onde estamos indo. Ao compararmos os anos de 2018 e 2019, o resultado de abril do ano passado foi acima da média, enquanto o de maio de 2018, por causa da greve dos caminhoneiros, foi muito ruim. Seria adequado comparar junho deste ano com junho do último ano, pois são meses que não tem fatores que influenciariam na comparação mês contra mês, podendo nos fazer revisar as nossas projeções para o segundo semestre e até mesmo para o PIB do ano — ressalta Luana.
Em março, a produção industrial caiu 1,3% em relação a fevereiro e voltou para o campo negativo no acumulado em 12 meses (-0,1%), depois de 18 resultados positivos seguidos. Dos resultados apresentados para os quatro primeiros meses deste ano, a alta de 0,3% representa o segundo resultado positivo em 2019.