IEDI na Imprensa - Indústria quer mais ênfase no papel de banco de fomento
Valor Econômico
Ana Conceição
Industriais esperam que a nova gestão do BNDES reforce seu papel de instituição de fomento ao setor produtivo e à infraestrutura, uma agenda que parece ter ficado em segundo plano diante das exigências de devolução de recursos ao Tesouro e de diminuição da carteira de seu braço de participações. O setor produtivo também vê com preocupação as propostas que reduzem o funding da instituição.
Pedro Wongtschowski, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), considera que o papel central do BNDES é financiar a inovação, exportação, infraestrutura, pequenas e médias empresas. O executivo, que preside o conselho de administração da Ultrapar, diz que o banco de fomento também deveria ter um papel maior na formulação e preparação de editais de concessões, parcerias público-privadas e formatação de privatizações. "O Ministério da Economia precisa do BNDES para fazer isso de maneira rápida e benfeita. E esse conhecimento está subaproveitado no banco", diz.
Wongtschowski não partilha da avaliação de alguns segmentos do setor produtivo de que sob a gestão de Joaquim Levy o BNDES tornou-se mais lento na avaliação de projetos e desembolso de recursos.
A despeito de a demanda por recursos estar deprimida no setor industrial, ele vê com preocupação a proposta que dá fim aos repasses do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) ao BNDES, incluída no relatório da reforma da Previdência na Comissão Especial da Câmara. "Esses recursos representam 35% do funding do BNDES. Não concordo que se abra mão disso."
João Carlos Marchesan, presidente do conselho de administração da Abimaq (associação dos fabricantes de bens de capital), preferia ver no comando do BNDES alguém preocupado com políticas de fomento ao setor produtivo. "É preciso alguém com uma visão de empresário, que olhe para o desenvolvimento. Não alguém que tenha visão de banqueiro", disse o executivo. Por visão de banqueiro, ele define alguém mais preocupado com as finanças da instituição que com as políticas de fomento ao setor produtivo. Marchesan diz que não tem opinião formada sobre a gestão de Joaquim Levy.
Dono de uma fabricante de implementos agrícolas, Marchesan vê com preocupação o esvaziamento do BNDES, cujos desembolsos tiveram forte queda nos dois últimos anos, e com as propostas que tiram recursos do banco. "O BNDES não pode perder de vista o propósito para o qual foi criado, que é o de ser um banco de fomento", afirma. Marchesan diz que a instituição pode tocar as privatizações, como quer o governo, e ao mesmo tempo financiar projetos do setor produtivo.
Para ele, os bancos privados não são capazes de financiar a indústria. Ainda que a TLP tenha aproximado das taxas do BNDES a aquelas praticadas no mercado, suas linhas de financiamento ainda são competitivas, e seus prazos, mais longos.
Rubens Ometto, dono da Cosan, disse que não vê com preocupação a demissão de Joaquim Levy. "O BNDES perdeu importância. O presidente quis trocar, trocou", disse. (Colaborou Camila Souza Ramos)