IEDI na Imprensa - Superávit comercial cai 9% no 1º semestre
Valor Econômico
Ana Krüger e Marta Watanabe
O Ministério da Economia atualizou a projeção de saldo comercial para 2019. O superávit antes estimado em US$ 50 bilhões para este ano subiu para US$ 56,7 bilhões. As exportações devem fechar o ano com queda de 2%, e as importações, com recuo de 1,9%. De acordo com dados divulgados ontem pela Secretaria de Comércio Exterior, a corrente de comércio deve registrar retração de 2% em 2019.
O secretário de Comércio Exterior, Lucas Ferraz, explica que no primeiro trimestre havia expectativas melhores da conjuntura econômica. Porém, ao longo do segundo trimestre, foram piorando. Ferraz afirma ainda que os números refletem a desaceleração da economia global e projeta que o comércio exterior no Brasil deve encerrar o ano com números semelhantes aos do ano passado. "A expectativa para o comércio internacional brasileiro neste ano não é extraordinária pelo quadro global e pela recuperação lenta da economia doméstica. A expectativa é bastante conservadora."
Os números foram apresentados na divulgação dos resultados da balança comercial de junho. O mês teve superávit de US$ 5,019 bilhões, retração de 4,2% na comparação com junho do ano passado pela média diária.
O saldo do mês é resultado de US$ 18,05 bilhões em exportações (retração de 0,83% contra junho do ano passado, considerando a média diária) e US$ 13,03 bilhões em importações (alta de 0,51%). Considerando o acumulado de janeiro a junho, o superávit da balança comercial foi de US$ 27,13 bilhões, um recuo de 8,9% na comparação com um ano antes pela média diária. No período as exportações chegaram a US$ 110,9 bilhões, com retração de 1,8% contra mesmo período de 2018. As importações até junho somaram US$ 83,77 bilhões, com alta de 0,8% na média diária.
A balança comercial encerrou o primeiro semestre com certa decepção nas importações, que reagiram menos do que se esperava, avalia José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior (AEB). No lado das exportações, a queda no acumulado é menor do que se imaginava inicialmente, por causa de oscilações no preço do minério de ferro e aumento da demanda por carnes pela China. Com base no comportamento da balança no primeiro semestre, a AEB deve fazer neste mês a revisão das projeções para 2019, diz Castro. As estimativas da AEB apontam atualmente queda de 8,6% nos embarques e alta de 2,8% nas compras externas para este ano, contra 2018.
"As importações brasileiras estão mais fracas que o esperado em razão do fraco desempenho da atividade doméstica", diz Castro. A nova projeção para o ano deverá indicar um crescimento ainda mais modesto que o estimado pela AEB para as importações.
"A elevação de 0,8% dos desembarques no primeiro semestre reflete o tropeço da economia nesse período", diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). "É um crescimento perto de zero depois de uma alta de 20% em 2018."
O pior resultado coube à importação de bens de consumo, que caiu 7,1% no primeiro semestre de 2019 em relação a igual período do ano passado, considerando a variação pelo valor absoluto, sem considerar a média por dia útil. "Uma realidade totalmente diferente daquela da primeira metade de 2018 quando crescia a um ritmo de 16,5%", destaca Cagnin. A compra externa de bens intermediários, segundo ele, não chegou a cair, mas sofreu importante desaceleração. O boletim do IEDI destaca que essa importação cresceu 12,1% em 2018 e agora na primeira metade de 2019 subiu apenas 1,1%, considerando também a variação dos valores absolutos.
No lado das exportações, destaca Castro, o Brasil já embarcou cerca de 63% das 72 milhões de toneladas de soja projetadas para o ano, volume abaixo das 83 milhões de toneladas exportadas em 2018. Apesar disso, as oscilações para cima no preço do minério de ferro e do petróleo devem contribuir para um desempenho melhor do que o esperado para as exportações neste ano, diz Castro. Outro fator que deve favorecer as vendas ao exterior, de acordo com Castro, é a demanda maior por carnes pela China, em razão da peste suína, o que deve também elevar preços.
No campo dos manufaturados, porém, o efeito da crise argentina ainda deve-se manter ao longo do segundo semestre. Cagnin destaca que os embarques de automóveis de passageiros caíram de US$ 3,04 bilhões para US$ 1,95 bilhão de janeiro a junho de 2018 para igual período deste ano. A queda de US$ 1,08 bilhão representa 37% do recuo de US$ 2,9 bilhões das exportações totais no primeiro semestre do ano. A crise argentina, diz Cagnin, tem grande influência sobre o recuo na exportação de automóveis. "Mas a queda na exportação brasileira de manufaturados, apesar de puxada pelo setor automotivo, está disseminada por diversos setores com perfil mais diversificado", diz ele.