IEDI na Imprensa - Indústria ligada à economia internacional tem mais dinamismo, diz IEDI
Valor Econômico
Segundo o economista Rafael Cagnin, a indústria extrativa e os segmentos influenciados pelo agronegócio, como bens de capital, conseguem escapar do comportamento mais negativo daqueles ligados ao mercado doméstico
Lucianne Carneiro
Os setores da indústria brasileira mais ligados ao comportamento da economia mundial, como a extrativa e os segmentos influenciados pelo agronegócio, como bens de capital, conseguem mostrar mais dinamismo e escapar do comportamento mais negativo daqueles ligados ao mercado doméstico. A avaliação é do economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) Rafael Cagnin.
“A indústria tem, hoje, dois eixos. O de bens de consumo, que está com o freio de mão puxado e que é mais ligado ao mercado doméstico, e o de bens de capital, com maior dinamismo. A recuperação da economia mundial ajuda o agronegócio e a indústria extrativa. E o agro mobiliza os bens de capital”, explica ele.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) divulgou na quarta-feira (2) que a produção industrial caiu 1,3% em abril, frente a março, a terceira taxa negativa seguida na série frente ao mês anterior (com ajuste sazonal), período no qual acumulou queda de 4,4%. A retração foi disseminada: ocorreu em 18 dos 26 ramos pesquisados e em duas das quatro grandes categorias econômicas.
Com um comportamento diferente, a indústria extrativa mineral avançou 1,6% em abril, após alta de 5,7%, e foi a principal influência positiva no resultado, considerando as diferentes atividades. Na divisão das categorias econômicas, destaca-se a produção de bens de capital, que avançou 2,9% na passagem entre março e abril. No resultado acumulado de janeiro a abril, a alta é de 36,4%, bem acima dos 10,5% da indústria geral.
Dentro de bens de capital, os que mais se destacam são aqueles para agricultura (com alta de 60,4% em 2021, até abril), para transporte (aumento de 50%) e para construção (crescimento de 51,5%).
“O agro mobiliza os bens de capital, não só aqueles voltados para agricultura como também para transporte. É um ritmo muito diferente da indústria que depende do mercado doméstico. Além disso, tem também a construção, que não parou ao longo da pandemia”, afirma Cagnin.
Para além desses dois eixos com comportamentos distantes, o economista aponta o fraco desempenho da indústria de bens intermediários, que responde por 55% do setor. Ela vem enfrentando as dificuldades ligadas ao mercado doméstico, além das restrições em função dos baixos estoques.
“O núcleo-duro da indústria, que são os bens intermediários, está parado, com crescimento muito baixo. A situação ainda é agravada pela dificuldade na obtenção de insumos, que se retroalimenta”, aponta ele.
Diante das incertezas que continuam a rondar a economia, diz Cagnin, o processo de recomposição de estoques ainda é lento, após a queima ocorrida ao longo de 2020. “O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) mostrou uma recomposição de estoques, mas este processo ainda está em curso em muitos setores. O problema só vai se resolver com um aumento mais forte de produção”, afirma.