IEDI na Imprensa - Vacinas e energia criam déficit de US$ 1,3 bi na balança em novembro
Valor Econômico
Saldo negativo é atípico para a época do ano, mas especialistas acreditam na volta do superávit em dezembro
Mariana Ribeiro e Marta Watanabe
Demanda por vacinas, crise hídrica e alta de preços de petróleo impulsionaram importações e contribuíram para um déficit da balança comercial de US$ 1,3 bilhão em novembro. O saldo negativo é considerado atípico para o período do ano, apontam especialistas em comércio exterior, mas o que se espera é que o resultado da balança volte ao campo positivo já em dezembro, mantendo as expectativas de um superávit comercial robusto em 2021. No acumulado do ano até novembro, o saldo positivo é de US$ 57,2 bilhões.
O déficit de novembro resultou de US$ 20,3 bilhões em exportações e de US$ 21,6 bilhões em importações, segundo dados divulgados ontem pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex/ME). O saldo negativo de novembro foi o segundo de 2021 e, considerando o mês, o primeiro desde 2014, quando o resultado da balança ficou negativo em US$ 2,7 bilhões.
O mês de novembro, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), reuniu exportação perdendo volume e preços ainda altos, mas em níveis mais ajustados para produtos importantes da pauta brasileira. No total das exportações, o valor subiu 23,2%, mas houve queda de 5,6% no volume e avanço de 24,1% nos preços, sempre na comparação com novembro do ano passado.
Ao mesmo tempo, diz Castro, os dados de importação refletiram em cheio preços altos de commodities energéticas, entre outros itens. O subsecretário de Inteligência e Estatísticas de Comércio Exterior, Herlon Brandão, afirmou que tem sido observada uma aceleração dos preços dos bens importados. O movimento concentra-se em alguns segmentos, como combustíveis, energia elétrica, adubos e fertilizantes e medicamentos, disse, citando as vacinas. Os valores importados subiram 53,1% em novembro em relação a igual mês de 2020, na média diária, segundo a Secex. A quantidade aumentou 4,5% e os preços giraram mais fortemente, em 34,7%.
No acumulado do ano, porém, o quantum é fator predominante nas importações, com alta de 23,4% de janeiro a novembro de 2021 contra iguais meses do ano passado. Em igual critério preços avançaram 12,9%, e o valor importado, 39,7%, pela média diária. As exportações subiram 34,9% em valor, com alta de 3,1% no volume e de 28,8% nos preços.
Nas importações de bens da indústria extrativa, Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), destaca o gás natural, com 925% de alta no valor dos desembarques em novembro em comparação com igual período de 2020. Isso, diz, está relacionado com a saída contratada para contornar a crise hídrica. Ele destaca, porém, que o quadro aparentemente conjuntural pode se tornar estrutural. Problemas climáticos, diz, tendem a ser cada vez mais frequentes, o que demanda medidas no sentido de explorar fontes mais limpas, como a eólica e a solar, evitando mais esse ponto de vulnerabilidade. No acumulado do ano até novembro a importação do gás natural subiu 273,6%.
No curto prazo, diz a economista Yasmin Riveli, da Tendências, a expectativa é que o saldo mensal volte para o campo positivo em dezembro. O movimento estaria em linha, entre outros fatores, com a sazonalidade menos favorável às importações e com a esperada retomada gradual dos embarques de carne bovina para a China. Ao fim do novembro, lembra ela, o país asiático anunciou a liberação da compra de lotes de carne que já tinham certificação sanitária antes do embargo. Em boletim divulgado ontem, ela destaca, por outro lado, fatores que podem limitar altas mais expressivas das receitas de exportação. Entre eles, a queda mais recente dos preços do petróleo e a elevação das incertezas globais diante da variante ômicron.
As importações, aponta Yasmin, devem seguir impulsionadas por adubos e fertilizantes químicos, em linha com o avanço do plantio das novas safras de soja e milho, além dos combustíveis, com a gradual volta da mobilidade interna. Por outro lado, relata, a sazonalidade negativa de dezembro, o recente recuo dos preços do petróleo, o menor ímpeto da atividade interna e o câmbio desvalorizado surgem como limitantes. A Tendências projeta superávit de US$ 59,3 bilhões em 2021.