IEDI na Imprensa - Produção cai em regiões mais importantes para a indústria
Valor Econômico
Queda se concentra em Estados que respondem por 50% do setor
Lucianne Carneiro
Os dados regionais da indústria brasileira, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram perdas concentradas, mas em locais com maior peso na produção nacional e de atividades diversificadas. Cinco dos 15 locais pesquisados tiveram queda na produção industrial entre setembro e outubro, mas os recuos atingiram São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina, parques que respondem por metade da indústria brasileira (cerca de 50,5%). Quando se inclui Pará e Espírito Santo (outros dois locais com taxas negativas), essa parcela da indústria em retração sobe para cerca de 56% do total, segundo as informações da Pesquisa Industrial Mensal Regional (PIM Regional).
Principal parque industrial do país (34% de participação), São Paulo viu sua produção cair 3,1% em outubro, frente a setembro. Com isso, foi a principal influência para o recuo de 0,6% da indústria brasileira como um todo. Minas Gerais, segundo local com maior peso (11%), teve queda de 3,9%, enquanto Santa Catarina (fatia de 5,5%), perdeu 4,7%. Os outros dois Estados com recuo na passagem entre setembro e outubro foram Pará (-4,2%) e Espírito Santo (-1%), com participação de 3,3% e 2,2%, respectivamente.
“Apesar de ser queda em só cinco locais, temos 50% da indústria no lado negativo, considerando São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina. [...] Em termos de locais, vemos essa concentração das perdas, mas suas características, seus pesos e suas variações têm significado”, afirma o gerente da pesquisa, Bernardo Almeida.
Uma característica em comum na indústria de São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina é a diversificação de suas atividades, aponta o gerente da pesquisa, enquanto outros Estados têm indústrias mais dependentes de poucos setores. São Paulo tem 18 atividades industriais, enquanto Minas possui 13, e Santa Catarina, 12. “Por serem mais diversificadas, o impacto é mais disseminado. Se pegar um local com menos atividade, o impacto de alguma atividade gera volatilidade maior”, explica ele.
A preocupação com a diversificação de atividades industriais nos locais em queda também foi apontada em relatório do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), que destaca “o duro impacto” na indústria paulista, a mais completa e diversificada do país. São cinco meses seguidos em queda, período no qual foi acumulada uma perda de 8,8%.
Em outubro, segundo o IBGE, o resultado de São Paulo foi influenciado principalmente pelos setores de alimentos e de máquinas e equipamentos, com peso de 14,8% e 7,9% respectivamente no Estado. Em São Paulo, a indústria de alimentos só fica atrás da de veículos automotores, com 16,1% de participação na produção.
A perda de fôlego da indústria fica clara na comparação com os níveis de produção de fevereiro de 2020, marco do pré-pandemia: apenas quatro dos 15 locais pesquisados pelo IBGE estão acima daquele patamar. O grupo é formado por Minas Gerais (3,8%), Pará (2,2%), Rio de Janeiro (1,6%) e Rio Grande do Sul (1,5%). Na média brasileira, a indústria está 4,1% abaixo de fevereiro de 2020, considerado marco de antes dos primeiros efeitos da crise sanitária no país. São nove localidades com patamar abaixo do pré-pandemia e duas no mesmo nível. Cálculo do IEDI mostra que 73% do total está atualmente com uma produção menor do que estava logo antes do choque da covid-19.
São Paulo se encontra em situação pior que a média do país: 6,1% abaixo do nível pré-pandemia. O pior desempenho é observado na Bahia, com patamar 18,8% inferior ao de fevereiro de 2020. Esse resultado reflete principalmente o fechamento da fábrica da Ford em Camaçari, na região metropolitana de Salvador. Com isso, a indústria do Nordeste também está 11,7% abaixo do pré-pandemia, o terceiro pior desempenho.