IEDI na Imprensa - Indústria caminha para alta mais disseminada desde 2019, aponta IEDI
Valor Econômico
Quase 70% dos segmentos industriais tiveram, de janeiro a agosto deste ano, crescimento em relação ao mesmo período do ano passado
Marcelo Osakabe
A expansão da indústria de transformação em 2024 é bastante disseminada entre setores e, se mantido o atual nível, pode terminar sendo o melhor ano desde neste quesito pelo menos desde 2019. É o que mostra um levantamento feito pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), a partir de dados da Pesquisa Mensal da Indústria - Produção Física (PIM-PF).
Entre janeiro e agosto deste ano, 68,9% dos segmentos pesquisados pelo IBGE apresentaram crescimento na comparação com o mesmo período do ano passado. Caso essa performance se mantenha até o fim do ano, ela deve superar com alguma folga 2021, que terminou com 62,5% dos segmentos tendo performance melhor que no ano anterior. Naquele ano, em meio à reabertura após a quarentena de covid, a indústria de transformação expandiu 4,9%.
Na margem, essa boa performance se mostra em uma crescente: 61% dos segmentos tiveram desempenho superior no bimestre julho-agosto na comparação com janeiro-agosto.
Segundo o economista do IEDI Rafael Cagnin, chama atenção o fato de que o crescimento é mais intenso entre ramos de bens duráveis. “Os dados mais recentes mostram esse processo de ganho de vigor, seja para bens de consumo, seja nos segmentos associados a investimentos”, diz.
Segundo o levantamento, 10 dos 90 setores pesquisados, ou 11%, registram crescimento na casa de dois dígitos de janeiro a agosto, sempre em relação ao mesmo período do ano passado. O avanço é liderado pelo segmento de caminhões e ônibus, que avançou 50,5% no período. A fabricação de aparelhos eletrodomésticos (33,4%) e a de equipamentos de comunicação (24,2%) completam o “top 3”.
O segmento de veículos pesados, se beneficia, vale lembrar, de uma base de comparação baixa causada por um fator atípico: em 2023, houve um tombo de produção e vendas em meio à entrada em vigor de uma nova fase do Programa de Controle de Emissões Veiculares (Proconve 8). A mudança do padrão fez despencar em 37,9% a produção de caminhões e 35,2% a de ônibus em 2023, segundo dados da Anfavea.
O grupo “fabricação de máquinas e equipamentos de uso geral” aparece em quarto lugar, com alta de 21,5% no período e é considerado investimento em bens de capital, assim como caminhões e ônibus.
A indústria de transformação cresceu 1,8% no segundo trimestre, na comparação trimestral, e foi um dos destaques da alta de 1,4% do PIB no período. Como lembrou a coordenadora do IBGE, Rebeca Pallis, durante a divulgação dos resultados trimestrais, o segmento não é o maior protagonista da economia pelo lado da oferta desde o primeiro trimestre de 2022.
Naquele momento, o setor, que tem peso de 15,3% do PIB, cresceu 4,9%, contra 1% dos serviços, que são 67,4% da economia. Cagnin alerta que o bom momento da indústria de transformação é ameaçado pelo início do ciclo de altas de juros pelo Banco Central.
Dez dos 90 setores pesquisados tiveram crescimento de dois dígitos no acumulado este ano
“Os ramos com maior dinamismo em 2024 são justamente os que dependem mais da política monetária. Para os bens duráveis, a alta da Selic demora mais para ser percebida na piora das condições de crédito. Já os bens de capital são afetados mais rapidamente, porque afeta o cálculo de custo de oportunidade”, diz Cagnin.
Ele acrescenta que os investimentos já têm sofrido algum impacto antes mesmo da alta da Selic, por causa do avanço dos juros longos que ocorre no Brasil desde o segundo trimestre. “Houve uma mudança importante no padrão de financiamento corporativo das grandes empresas, com a emissão de debêntures passando a financiar mais de um terço dos investimentos. Nesse cenário, o repasse às taxas de mercado é mais acelerado, na comparação com o crédito bancário, e alta da Selic vem se somar ao movimento, em um repasse que também é mais rápido.”
Na parte de baixo do ranking, estão as atividades de fabricação de fibras artificiais e sintéticas, com tombo de 52,6% entre janeiro e agosto em relação a igual período de 2023, seguido de artefatos para pesca e esporte (-23,8%) e fabricação de tratores e máquinas e equipamentos (-21,5%) - este último, reflexo ainda da alta base de comparação com o ano passado, quando a safra recorde impulsionou as vendas do setor.
Cagnin chama atenção, ainda, para a perda de tração recente de alguns ramos ligados à agroindústria, que apresentaram piora no bimestre julho-agosto: entre os que apresentam contração no período, como fabricação de óleos vegetais, refinados (-11,6%), desdobramento de madeira (-4,6%), margarina e outras gorduras vegetais (-4,2%), torrefação e moagem de café (-1,4%), conservação de frutas (-2,8%).
No “top 10” dos ramos de maior crescimento, por sua vez, apenas dois podem ser considerados parte do setor: “abate de reses, exceto suínos” e “fabricação de produtos de madeira, cortiça e material trançado”, com avanço de 17,7% e 14,7%, respectivamente.
“São segmentos que podem estar sofrendo com a estiagem prolongada e queimadas, que degrada ou destrói lavouras e plantações. São segmentos que tendem a não sofrer tanto com a alta dos juros”, diz, lembrando que muitos desses setores atendem ao mercado externo ou então são bens mais sensíveis à variações de renda, que deve se manter em crescimento nos próximos trimestres.
De acordo com levantamento da FGV Agro, que calcula o Índice de Produção Agroindustrial (PIMAgro), o volume de produção agroindustrial contraiu 0,7% frente ao mesmo mês de 2023, após dois meses consecutivos de fortes altas interanuais. A redução da produção foi puxada pelo segmento de produtos alimentícios e bebidas (-2,2%). Apesar da contração em agosto, a agroindústria acumula alta de 2,7% no em 2024.