IEDI na Imprensa - Taxa de desemprego encosta em mínima histórica no 3º tri
Valor Econômico
Com aumento de vagas em todos os segmentos, desocupação fica em 6,4%, e especialistas projetam recorde no resultado até outubro
Anaïs Fernandes e Lucianne Carneiro
O mercado de trabalho brasileiro segue forte, chegou ao terceiro trimestre do ano com a segunda menor taxa de desemprego da série histórica e a expectativa é que esse recorde seja batido na próxima divulgação. Apesar disso, a alta nos rendimentos tem dado sinais iniciais de acomodação, o que seria boa notícia para o Banco Central, não fosse a massa salarial, que continua com avanço forte e injetou quase R$ 22 bilhões a mais no terceiro trimestre de 2024 do que em igual período de 2023.
A taxa de desocupação no país caiu para 6,4% no período de julho a setembro deste ano, ante 6,6% no trimestre até agosto, 6,9% no segundo trimestre de 2024 e 7,7% no terceiro trimestre de 2023, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada ontem pelo IBGE.
O resultado de setembro ficou no piso das estimativas do mercado, cuja mediana era de 6,5%, segundo o Valor Data. A taxa de desocupação observada também foi a menor para um terceiro trimestre desde o começo da Pnad, em 2012, nota a MCM Consultores.
Na verdade, a taxa ficou bem perto da mínima histórica da pesquisa, de 6,3% no quarto trimestre de 2013. Analistas esperam que esse recorde seja superado no trimestre encerrado em outubro. A LCA Consultores, por exemplo, projeta taxa de desemprego de 6,2% para o período. A MCM e a Terra Investimentos estimam 6,1%.
Mercado de trabalho não está observando apenas melhorias isoladas”
— Adriana Beringuy
Com ajuste sazonal, segundo a MCM, o desemprego foi de 6,6% para 6,5%, décimo recuo consecutivo e nova mínima da série. Por trás do resultado sazonalmente ajustado, a população ocupada subiu 0,3% e a força de trabalho (pessoas empregadas ou em busca de uma vaga) avançou 0,1%, ambas registrando máximas históricas.
A MCM nota ainda que, embora a taxa de participação dessazonalizada beire a estabilidade ao redor de 62,2%, ela vem se elevando “lenta e continuamente”, dizem, e já é a mais alta em quase dois anos, ainda que siga 0,65 ponto percentual abaixo de meados de 2022.
A taxa de participação mede o percentual de pessoas na força de trabalho em relação àquelas em idade de trabalhar. Se essa taxa cai, mesmo que o número de desempregados continue o mesmo, automaticamente, a taxa de desocupação do país diminui. Por um tempo, foi recorrente o argumento de que o mercado de trabalho brasileiro não estava tão apertado assim e que o desemprego estaria muito baixo por causa da taxa de participação também deprimida.
“[A pesquisa] mostra um mercado de trabalho que não está observando apenas melhorias isoladas em um trimestre ou outro. É algo que vem sendo observado desde a segunda metade de 2022 e ganhando robustez maior a partir de 2023”, afirma Adriana Beringuy, coordenadora da Pnad.
O terceiro trimestre reuniu um conjunto de recordes, como de pessoas ocupadas (cerca de 103 milhões); trabalhadores no setor privado (53 milhões), trabalhadores com carteira assinada (39 milhões); trabalhadores sem carteira assinada (14,3 milhões) e trabalhadores informais (40 milhões).
Beringuy destaca o caráter disseminado da geração de vagas, que contemplou todos os segmentos acompanhados pelo IBGE.
Setorialmente, a indústria respondeu por pouco mais de um terço (34,9%) dos postos de trabalho gerados no terceiro trimestre deste ano, enquanto o comércio reuniu 24,3%. “A indústria ao ampliar mais fortemente suas vagas e por ser um setor predominantemente formalizado, ajudou a expandir os postos com carteira de trabalho”, comenta, em relatório, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
Segundo Beringuy, no comércio, isso ocorreu de forma predominante no setor informal, apesar da contribuição também das vagas formais. “Isso mostra a diversidade de possibilidades de absorção por vínculos”, diz.
Já a população desempregada - pessoas de 14 anos ou mais que buscaram emprego no período, mas não conseguiram encontrar - caiu para 7 milhões de pessoas, o menor contingente desde o trimestre encerrado em janeiro de 2015. O número representa recuo de 7,2% ante o segundo trimestre deste ano e de 15,8% em relação a período equivalente de 2023.
“É realmente impressionante o vigor que o mercado de trabalho brasileiro vem apresentando desde o fim da pandemia, e nossas projeções sugerem que esse movimento pode se estender até o fim deste ano”, diz Luiz Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, projetando taxa de desemprego de 6,2% em dezembro. A LCA estima taxa de 6% até o fim de 2024, mas o economista Bruno Imaizumi não descarta algo abaixo disso.
O rendimento médio habitual do empregado considerando todos os seus trabalhos, no entanto, interrompeu a sequência de taxas positivas observada desde o fim de 2021 e recuou 0,4% no terceiro trimestre, ante o segundo, para R$ 3.227, uma diferença de R$ 13. A variação é classificada pelo IBGE como estabilidade, porque está dentro da margem de erro da pesquisa. Na comparação com igual trimestre de 2023, ainda houve alta de 3,7% (ou R$ 114 a mais).
“Nos indicadores recentes, vimos sempre variações positivas. Ora eram consideradas estatisticamente significativas, ora não. Há uma tendência de reversão aqui, mas ainda operando no campo da estabilidade”, diz Beringuy.
Em relatório, a Kínitro Capital também chama a atenção para um “arrefecimento dos dados de rendimento na margem”, mas diz ser preciso acompanhar as próximas divulgações para avaliar se isso se configurará tendência ou não.
Uma explicação para a acomodação, segundo Imaizumi, é que o mercado de trabalho brasileiro está tão aquecido que está conseguindo incorporar pessoas que não trabalhariam ou com pouca qualificação. “Isso, querendo ou não, acaba impedindo que a média dos rendimentos suba tanto”, afirma. Beringuy menciona ainda a estabilidade no setor público.
A massa de rendimentos - combinação da população ocupada com o rendimento médio - real habitualmente recebida em todos os trabalhos somou R$ 327,743 bilhões no terceiro trimestre, alta de 0,8% em relação ao segundo trimestre. A variação também foi classificada como estabilidade pelo IBGE. Na comparação com período equivalente de 2023, porém, houve aumento de 7,2% (R$ 21,952 bilhões a mais).