IEDI na Imprensa - Déficit comercial da indústria brasileira é o maior em 13 anos. Entenda por quê
O Globo
Mesmo antes de começar a valer o tarifaço de Donald Trump, o saldo já começou a cair. O impacto é maior nos itens de média e alta tecnologia
Cássia Almeida
Antes mesmo de sofrer os impactos do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o déficit comercial da indústria de transformação já começou a subir, depois de quatro anos em queda, de acordo com estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
E a piora veio principalmente de itens de média e alta tecnologia. Os de baixa tecnologia, mais ligados ao agronegócio, mantiveram-se em alta.
O déficit comercial saiu de US$ 12,9 bilhões no primeiro trimestre de 2024 para US$ 19,178 bilhões no início deste ano. E o déficit seria ainda maior, não fossem as importações de carros elétricos e híbridos que passaram a crescer menos ao serem progressivamente taxados desde o ano passado.
Os itens mais intensivos em tecnologia vêm perdendo espaço na pauta exportadora. Em 2005, eram responsáveis por 33% de tudo que era vendido para fora do país. No ano passado, essa parcela caiu para menos da metade, ficou em 14%.
— Essa situação tem a ver com a falta de dinamismo interno nosso e da necessidade de longa data de de modernização tecnológica, para o Brasil entrar nas cadeias de produção mais longas. O Brasil não construiu capacidade produtiva ao longo do tempo — explica Rafael Cagnin, economista do IEDI.
E o quadro pode piorar ainda mais com a nova rodada de inovação tecnológica, com o avanço da inteligência artificial, alerta o economista.
— Vamos aprofundando esse déficit. Nos produtos eletrônicos já temos uma penetração de insumos importados relevante.
Cagnin lembra ainda que, em 2008 e 2009, com a crise financeira global, houve um redirecionamento dos fluxos comerciais e a balança comercial da indústria de transformação foi se tornando sistematicamente deficitária. A estratégia de diversificação de mercados promovida pela China, depois da crise que atingiu os Estados Unidos e, nos anos seguintes, da crise da dívida na Europa, foi ocupar novos mercados.
— Nesse processo, nossos estudos mostraram que os produtos industriais chineses ocuparam mercados que a indústria brasileira atendia, sobretudo os mercados sul-americanos. A China está desenvolvendo seu mercado doméstico para torná-lo mais dinâmico. Mas até isso acontecer, o país permanece na busca de mercados alternativos para compensar a perda nos Estados Unidos — afirma Cagnin.
Os Estados Unidos e a China negociaram nas últimas semanas e as tarifas de mais de 100% dos dois países foram reduzidas por 90 dias, o que diminuiu a pressão no comércio entre as duas maiores economias do mundo.