Análise IEDI
Três dimensões do resultado industrial
Neste momento, não há dúvidas de que o pior já passou para a indústria. As quedas intensas da produção, que em alguns setores chegaram a ser abissais, ficaram para trás, abrindo espaço para variações positivas. O que os dados de julho, divulgados hoje pelo IBGE, podem estar sugerindo é que a etapa de expansão parece começar, finalmente, a se consolidar.
A recuperação é um processo de várias dimensões e não apenas a obtenção de um resultado positivo. Por isso, cabe sempre alguma cautela frente aos primeiros indícios favoráveis, especialmente porque na etapa inicial há uma boa dose de fragilidade, isto é, do risco de recaídas adicionais.
A alta da produção industrial agora de julho é promissora porque atinge ao menos três dimensões:
1) Seu patamar foi considerável;
2) Está inserida em uma sequência de resultados positivos; e
3) Assumiu uma abrangência setorial significativa.
Em julho, o nível de crescimento foi o segundo mais intenso de 2017, qualquer que seja a comparação. Frente a junho, já descontados os efeitos sazonais, a produção industrial aumentou 0,8%, ficando atrás apenas dos resultados de abril e maio (+1,2%). Já frente ao mesmo mês do ano anterior, a alta de 2,5% foi inferior apenas ao desempenho de maio (+4,1%).
A sequência de variações positivas talvez seja o principal aspecto a ser destacado. Na série com ajuste sazonal, após a queda ocorrida no mês de março, já são quatro meses de alta sucessiva: +1,2%, +1,2%, +0,2% e 0,8% desde abril até julho. Na comparação interanual, o ano começou com alternância de resultados positivos e negativos, mas passou a crescer consecutivamente desde maio: +4,1%, +0,6% e +2,5%, agora em julho. A expansão parece estar se consolidando.
A terceira dimensão a ser ressaltada é a abrangência do crescimento de julho, atingindo todos os macrossetores. As maiores altas na série com ajuste sazonal couberam aos bens de consumo duráveis (+2,7% ante jun/17) e semi e não duráveis (+2,0%), seguidos por bens de capital (+1,9%). Bens intermediários, por sua vez, cresceram 0,9%. Já o desempenho recente dos macrossetores na comparação interanual pode ser visto abaixo.
• Indústria: +4,1% em mai/17; +0,6% em junh/17 e +2,5% em jul/17;
• Bens de Capital: -7,8%; +0,8% e +8,7%, respectivamente;
• Bens Intermediários: +2,9%; +0,9% e +0,6%;
• Bens de Consumo Duráveis: +20,9%; +5,2% e +8,1%;
• Bens de Consumo Semi e Não Duráveis: +1,9%; -1,7% e +4,2%, respectivamente.
A abrangência de resultados positivos também foi expressiva em termos de ramos industriais. Na série com ajuste, 14 dos 24 ramos pesquisados pelo IBGE registraram crescimento em julho, enquanto na série interanual foram 17 dos 26 ramos.
Alguns desses ramos vêm se destacando pela trajetória assumida. Tomada a comparação com igual período do ano anterior, registram crescimento persistente os seguintes ramos: produtos têxteis (desde ago/16, exceto abr/17), papel e celulose (desde set/16, exceto fev/17), produtos de borracha (desde dez/16, exceto abr/17), equipamentos de informática e eletrônicos, veículos automotores e ramo extrativista (desde nov/16). Vale ressaltar que para muitos deles, as bases baixas de comparação ajudaram o retorno ao positivo.
Em alguns casos, embora mais recentes, também existem trajetórias positivas persistentes, como na produção de máquinas e equipamentos, móveis, detergentes e produtos de limpeza, fumo e alimentos, todos com crescimento a partir de maio de 2017. O desempenho da indústria alimentícia dá um claro sinal de vitalidade e faz toda a diferença, dado seu peso na indústria geral.
Além de muitos ramos com uma boa sequência de resultados, há também aqueles que já registram um ritmo de crescimento importante no acumulado dos primeiros sete meses de 2017. Dentre eles estão produtos de informática e eletrônicos (+19,8% ante jan-jul/16), veículos automotores (+11,5%), produtos têxteis (+5,4%), setor extrativista (+5,2%), confecção e vestuário (+4,8%) e máquinas e equipamentos (3,1%).
Os dados da Pesquisa Industrial Mensal para o mês de julho divulgados hoje pelo IBGE indicam, para dados livres de influência sazonal, que houve crescimento da produção de 0,8% frente ao mês de junho, registrando a quarta elevação consecutiva nesta comparação.
Em relação ao mesmo mês do ano anterior, verificou-se aumento de 2,5%, após ter crescido 0,5% em junho e 4,1% em maio. No acumulado do ano o setor apresentou expansão de 0,8% e nos últimos 12 meses houve retração de -1,1%. Na comparação trimestral, a produção industrial avançou 0,7%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior, para dados sem influência sazonal, todas as categorias tiveram alta. Bens de consumo duráveis apresentou a elevação mais intensa (2,7%), seguida por bens semiduráveis e não duráveis (2,0%), bens de capital (1,9%) e bens intermediários (0,8%).
O resultado observado na comparação com o mês de julho de 2016 indica crescimento de bens de capital (8,7%), seguido por bens de consumo duráveis (8,1%), bens de consumo semiduráveis e não duráveis (4,2%) e bens intermediários (0,6%).
Na comparação do índice acumulado no ano, verificou-se incrementos em bens de consumo duráveis (9,8%) e bens de capital (3,7%). Bens semiduráveis e não duráveis apresentou queda (-0,5%) e bens intermediários ficou estável (0,0).
Em doze meses, bens de consumo duráveis (3,8%) e bens de capital (2,8%) tiveram aumento. Por outro lado, bens semiduráveis e não duráveis (-2,1%) e intermediários (-1,7%) apresentaram variações negativas.
Setores. Tomando-se os dados dessazonalizados, em julho frente ao mês imediatamente anterior houve expansão do nível de produção em 14 dos 24 ramos pesquisados. As maiores oscilações positivas foram observadas nos grupos de produtos alimentícios (2,2%), seguido por coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (1,9%), de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (5,9%), de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (4,8%) e de móveis (6,0%). As principais quedas couberam a indústrias extrativas (-1,5%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-1,8%) e metalurgia (-2,1%).
Na comparação com julho de 2016, a produção industrial apresentou elevação em 17 dos 26 ramos analisados. Os principais aumentos foram observados em produtos alimentícios (6,7%), veículos automotores, reboques e carrocerias (11,8%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (23,8%), de máquinas e equipamentos (7,8%), de produtos do fumo (29,1%), de indústrias extrativas (1,2%) e de móveis (12,6%). Dentre as principais variações negativas se destacam coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-3,6%), metalurgia (-3,8%), outros equipamentos de transporte (-14,1%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-7,0%) e produtos de minerais não-metálicos (-3,5%).