Análise IEDI
Agosto sem recuperação
Em agosto, com os grandes setores da economia registrando declínio, perdeu-se a oportunidade de dar mais um passo na consolidação da recuperação. Face à timidez do crescimento econômico nos últimos meses, as reversões de resultado não devem ser desprezadas.
Muito do recuo da economia se deveu, entretanto, a fatores localizados. Na indústria, pesou o declínio do setor de alimentos e, no setor de serviços, daqueles prestados às famílias. Já para o comércio varejista não há atenuante, pois a maior parte de seus segmentos registraram queda de vendas reais em comparação com julho.
Diante desses resultados, o indicador IBC-Br do Banco Central, que funciona como uma proxy do PIB, voltou ao negativo em agosto (-0,38% ante jul/17 com ajuste), depois de dois meses seguidos de crescimento em patamares não desprezíveis (+0,47 em jun/17 e +0,36% em jul/17) para os padrões recentes.
Pelo perfil do retrocesso de agosto, é pouco provável que cause um descarrilhamento. A recuperação continua, mas com todas as suas fragilidades.
O desemprego elevado (12,6% segundo a PNAD) ainda é um importante entrave ao crescimento. Nos últimos meses tem havido algum sinal de melhora no emprego, mas muito concentrado em ocupações sem carteira assinada e ou por conta própria, que costumam contar com rendimentos menores e menos regulares.
Este é um importante determinante que faz com que setores que dependem mais do emprego e da renda corrente, como os serviços e como o comércio e a produção de bens não duráveis, venham encontrando mais dificuldades para reagir, como os dados de agosto deixaram claro.
Outro entrave continua sendo o crédito às empresas, cujas concessões só voltaram a registrar uma variação positiva em agosto, após quase dois anos de retração ininterrupta. Um avanço neste quadro permitiria a desalavancagem mais rápida das empresas, abrindo espaço para alguma normalização de suas atividades e a recomposição de seus investimentos, assim que seus patamares de ociosidade se reduzirem.
Cabe observar que o desempenho dos serviços prestados às empresas não está muito bem e que a produção industrial de bens de capital, passada a demanda mais forte pela agricultura, vem apresentando uma trajetória de desaceleração nos últimos quatro meses. Diante de uma recuperação lenta da economia, o saneamento mais rápido do quadro financeiro das empresas ajudaria muito.
Por sorte, ao menos o crédito às famílias tem voltado a fluir, contando com juros um pouco menores. A situação é ilustrativa da importância da melhora das condições de crédito para a recuperação da economia. Em um mês ruim como foi agosto, praticamente apenas as atividades que se apoiam no crédito às famílias conseguiram crescer.
No comércio varejista, foi o caso das vendas de móveis e eletrodomésticos, veículos e autopeças e materiais de construção. Na indústria, o único grande segmento a apresentar um crescimento robusto foi o de bens de consumo duráveis. Neste último caso, tem sido de extrema relevância também a ampliação das exportações, que atinge notadamente a indústria automobilística.