Análise IEDI
A Mudança na Situação da Indústria
A produção industrial acumula em 2017 três trimestres consecutivos de crescimento, com o que deixou para trás o pior de sua crise. Agora, começa a compensar as perdas sofridas e avançar na consolidação das bases de uma nova fase de expansão. Esta tarefa, como o IEDI tem alertado, pode não ser fácil, dada a morosidade de nossa recuperação e os desafios que se avolumam com a emersão da indústria 4.0.
De todo modo, a direção é do crescimento: a produção avançou 1,2% no primeiro trimestre, 0,3% no segundo e 3,1% no terceiro trimestre, em relação a igual período do ano passado. Com isso, acumulou resultado positivo de 1,6% nos nove primeiros meses de 2017. É pouco para fazer frente ao declínio de quase 20% dos últimos anos, mas é um começo.
O terceiro trimestre se destaca não apenas porque, na comparação interanual, foi o melhor do ano, compensando a quase estabilidade do trimestre anterior, mas também porque foi acompanhado de reação da indústria de transformação, algo que não ocorria desde o primeiro trimestre de 2014.
Devido ao crescimento de 3,1% em julho-setembro e a um resultado muito próximo de zero na primeira metade do ano, a indústria de transformação voltou ao azul em 2017: +0,9% no acumulado até setembro. Esta análise traça o perfil setorial dessa reação recente. A partir dos dados mais desagregados do IBGE, foram ranqueados 93 segmentos industriais segundo o desempenho acumulado em 2017, tendo sido classificados em nove faixas segundo a vitalidade da recuperação.
O exercício deixa patente a mudança na situação da indústria. Em 2017, até onde temos informações, 55 dos 93 segmentos já voltaram a crescer, o que representa uma parcela de 59% do total. Em 2016, apenas 15 ramos ou 16% do total completaram o ano com resultado positivo.
Ainda mais ilustrativo do novo quadro industrial é o número de ramos na faixa de crescimento intenso, isto é, com um ritmo de expansão superior a 10%. Em 2017, já são 15 (16% do total), enquanto em 2016 apenas 1 poderia ser assim classificado (celulose e outras pastas para fabricação de papel). No outro extremo, eram 9 os ramos que em 2016 passavam por uma crise fulminante, com perdas superiores a 20%. Em 2017, esse número caiu para apenas 1 (lâmpadas e outros equipamentos de iluminação).
Dentre os melhores colocados em 2017, encontram-se muitos segmentos associados à fabricação de bens de consumo duráveis, como componentes eletrônicos (+37,7%), equipamentos de comunicação (+27,0%), aparelhos de recepção, reprodução, gravação e amplificação de áudio e vídeo (+21,6%) e equipamentos de informática e periféricos (+10,3%). A indústria automobilística também está representada com a produção de automóveis, camionetas e utilitários (+19,6%) e caminhões e ônibus (+17,2%).
Além desses ramos, registraram crescimento intenso outros vinculados à cadeia de processamento de metais, tais como fundição (+21,0%), ferro-gusa e ferroligas (+11,6%) e forjaria, estamparia, metalurgia do pó e serviços de tratamento de metais (+11,3%).
Em contrapartida, do total de 23 segmentos industriais que ainda apresentam quedas consideráveis em 2017 - mais intensas que -4% - destacam-se várias atividades associadas à produção de bens de capital para investimentos de maior porte e alguns ramos da indústria química em geral.
No primeiro grupo, estão máquina e equipamentos de uso industrial específico (-4,1%), máquinas-ferramenta (-5,1%), equipamentos para distribuição e controle de energia elétrica (-5,8%), máquinas e equipamentos de uso na extração mineral e na construção (-6,5%), estruturas metálicas e obras de caldeiraria pesada (-11,3%), geradores, transformadores e motores elétricos (-14,0%) e tanques, reservatórios metálicos e caldeiras (-14,8%).
No segundo grupo, encontram-se produtos de limpeza e polimento (-5,6%), produtos e preparados químicos diversos (-6,6%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-7,2%), defensivos agrícolas e desinfetantes domissanitários (-7,5%), intermediários para fertilizantes (-11,7%).
Para esses segmentos com desempenho decepcionante em 2017, o terceiro trimestre trouxe ao menos algum alento, já que a maioria deles (18 dos 23 ou 78%) registrou uma melhora relativa em comparação com o resultado do segundo trimestre. Isso significou, como regra geral, uma redução dos níveis de contração, mas em alguns poucos casos chegou a ocorrer uma volta ao terreno positivo ou uma quase estabilização.
De fato, na comparação interanual, a passagem do segundo para o terceiro trimestre do ano foi acompanhada de um desempenho melhor para 62% dos segmentos (58 dos 93), configurando um avanço frente ao trimestre anterior. Na passagem do primeiro para o segundo trimestre de 2017 um número minoritário de ramos industriais havia acusado melhora: 40% ou 37 do total de 93 ramos.
Em síntese, depois de tanto cair, a indústria voltou a um desempenho positivo em 2017, acompanhada pela maior parte de seus ramos e com um bom número deles em ritmo intenso de crescimento. No terceiro trimestre também se tornou majoritária a parcela daqueles com alguma melhora em relação ao trimestre anterior, contemplando inclusive aqueles ramos que ainda não conseguiram sair do negativo. Mantendo-se esse movimento, a recuperação industrial ganhará maior consistência.