Análise IEDI
Um ano especial
Em novembro, o saldo da balança comercial acumulado em 2017 atingiu US$ 62 bilhões, um recorde para o setor externo do país. Em sua origem, está um avanço nada desprezível das exportações de 18,2% frente a janeiro-novembro do ano passado, o equivalente a US$ 30 bilhões adicionais. Em 2017, nossas vendas externas somaram US$ 200 bilhões.
A que se deve esse desempenho exportador capaz de gerar um saldo tão excepcional? A resposta não envolve um único fator, mas sim a uma feliz combinação deles, dentre os quais podem ser citados:
• uma recomposição dos preços de commodities, que ajudou as exportações de produtos básicos crescerem 28% frente janeiro-novembro de 2016;
• uma safra agrícola excepcional, que além de impulsionar o resultado dos produtos básicos também afetou positivamente as vendas externas de semimanufaturados, como de óleo de soja (+17,0%) e açúcar bruto (+14,4%);
• a própria maturação da crise, que empurrou muitas empresas para o mercado exterior, contribuindo inclusive para o avanço de 9,0% das exportações de manufaturados em 2017, com destaque para a indústria automobilística, cuja venda externa de automóveis atingiu 46,8%.
• a aceleração do comércio internacional, que segundo do FMI deve encerrar 2017 em +4,2%, um avanço considerável frente ao resultado de 2016 (+2,4%).
Mas não são apenas as exportações que explicam o desempenho da balança comercial em 2017. A evolução das importações é outro importante fator explicativo. Por mais que tenham reagido à reativação do mercado interno ao longo do ano, a importação ainda tem muito o que avançar para chegar aos níveis pré-crise. No acumulado de janeiro-novembro, a alta foi de 9,6%, isto é, quase metade do ritmo das exportações (+18,2%).
Para que o saldo se mantenha em patamares recordes em 2018 seria necessário que este padrão se repetisse. Porém, não é isso que os dados mais recentes vêm sugerindo. Nos últimos meses, o crescimento das importações registrou expressiva aceleração, o que pode ser visto contrastando o ritmo de crescimento da média móvel do trimestre findo em nov/17 com aquele do acumulado do ano: +15,8% contra 9,6%, sempre ante o mesmo período do ano anterior.
As exportações, por sua vez, têm conservado um patamar bastante confortável de crescimento nos últimos meses, mas, em contrapartida, não dão sinais de melhora adicional. A mesma comparação feita anteriormente gera os seguintes resultados: +18,6% no trimestre findo em nov/17 e +18,2% no acumulado do ano. Assim, é bem provável que o resultado da balança de 2017 não venha a se repetir, fazendo deste um ano, de fato, todo especial.
De acordo com os dados divulgados pelo MDIC, no mês de novembro a balança comercial brasileira apresentou superávit de US$ 3,546 bilhões, valor que representou aumento de 121,7% frente ao mesmo mês do ano anterior, em que o saldo foi positivo em US$ 2,346 bilhões.
As exportações alcançaram US$ 16,688 bilhões, incremento de 31,0% em relação a novembro do ano passado segundo as médias diárias, que considera o número de dias úteis no mês. Já as importações atingiram US$ 13,142 bilhões, expansão de 14,5% na mesma base de comparação.
No mês, as médias diárias das exportações e importações foram de US$ 898,9 milhões e US$ 651,2 milhões, respectivamente.
Exportações por fator agregado. A exportação de produtos básicos foi de US$7,007 bilhões no mês, variação de 26,5% em relação a novembro de 2016. Nesta mesma comparação, os produtos semimanufaturados somaram US$ 2,521 bilhões e os manufaturados US$ 6,775 bilhões, com oscilações de 3,1% e -14,2%, respectivamente.
Levando em conta as médias diárias das exportações, na comparação com igual mês de 2016 houve variações de: 26,5% para produtos básicos, -14,2% para manufaturados e 3,1% para semimanufaturados. As operações especiais registraram crescimento de 14,4% na mesma base de comparação.
Destaques exportações. Frente a novembro de 2016, considerando o grupo dos produtos básicos, os destaques positivos foram: soja em grão (+522,8%, para US$ 815 milhões), milho em grão (+243,5%, para US$ 537 milhões), algodão em bruto (+74,9%, para US$ 252 milhões), carne bovina (+47,4%, para US$ 495 milhões), minério de cobre (+30,3%, para US$ 194 milhões), farelo de soja (+24,0%, para US$ 375 milhões), minério de ferro (+23,4%, para US$ 1,5 bilhão), fumo em folhas (+10,8%, para US$ 250 milhões) e carne de frango (+8,8%, para US$ 493 milhões).
Para os semimanufaturados, na mesma base de comparação, os aumentos mais relevantes foram: catodos de cobre (+192,4%, para US$ 35 milhões), ferro fundido (+87,9%, para US$ 85 milhões), semimanufaturados de ferro/aço (+44,0%, para US$ 362 milhões), óleo de soja em bruto (+35,0%, para US$ 56 milhões), madeira serrada (+32,2%, para US$ 63 milhões), ferro ligas (+28,3%, para US$ 203 milhões), celulose (+18,9%, para US$ 551 milhões), alumínio em bruto (+15,0%, para US$ 42 milhões) e ouro em formas semimanufaturadas (+13,1%, para US$ 174 milhões
Também na comparação com outubro de 2016, nos embarques de produtos manufaturados houve redução das vendas de açúcar refinado (-39,0%, para US$ 148 milhões) e aviões (-11,9%, para US$ 296 milhões). Os destaques positivos foram os seguintes segmentos: máquinas p/terraplanagem (+133,0%, para US$ 221 milhões), laminados planos (+66,3%, para US$ 216 milhões), veículos de carga (+53,4%, para US$ 263 milhões), chassis com motor (+37,1%, para US$ 112 milhões), tratores (+23,3%, para US$ 124 milhões), óxidos/hidróxidos de alumínio (+21,6%, para US$ 311 milhões), suco de laranja congelado (+21,3%, para US$ 107 milhões), motores p/veículos e partes (+16,3%, para US$ 149 milhões), motores e geradores elétricos (+16,3%, para US$ 121 milhões), pneumáticos (+14,8%, para US$ 104 milhões), automóveis de passageiros (+6,8%, para US$ 568 milhões), autopeças (+4,9%, para US$ 176 milhões) e polímeros plásticos (+4,7%, para US$ 147 milhões).
Importações por categoria de uso. Dos US$ 13,142 bilhões importados em novembro, US$ 1,438 bilhão foram referentes ao grupo de bens de capital, US$ 7,833 bilhões a bens intermediários, US$ 2,253 bilhões a bens de consumo e US$ 1,605 bilhão a combustíveis e lubrificantes.
Na comparação frente ao mesmo período de 2016, considerando a média diária, houve crescimento das importações em todos os grupos puxado por combustíveis e lubrificantes (69,3%) e seguido por bens de capital (10,8%), bens de consumo (20,0%) e bens intermediários (6,7%).
Destaques importações. No segmento combustíveis e lubrificantes, o crescimento ocorreu principalmente pelo aumento de óleo diesel, carvão, gasolina, petróleo em bruto, coques, energia elétrica, óleos lubrificantes, óleos de petróleo, butanos liquefeitos, querosenes.
Dentre os bens intermediários, as principais elevações couberam às aquisições de partes de aparelhos de radiodifusão/televisão, ureia, sulfetos de minério de cobre, caixas de marchas, catodos de cobre refinado, pigmento rutilo, hidróxido de sódio em solução aquosa, naftas para petroquímica, copolímeros de etileno e alfa-olefina, paládio em formas brutas, superfosfatos, circuitos impressos com componentes elétricos, circuitos integrados.
Quanto aos bens de consumo, as principais altas foram observadas nas importações de produtos imunológicos, basiliximab/bevacizumab e daclizumab, frações do sangue, automóveis de passageiros, fungicidas, medicamentos, veículos equipados para propulsão, imunoglobulina g, receptores/decodificadores de vídeo.
Por fim, dentre os bens de capital, cresceram, principalmente, lâmpadas de LED, veículos de carga, moldes para moldagem de borracha/plástico, guindastes de torre, máquinas e aparelhos para colheita, equipamentos terminais ou repetidores, máquinas para forjar metais, máquinas e aparelhos mecânicos com função própria, aparelhos de tomografia computadorizada, máquinas para estampar metais com comando numérico, máquinas de processamento de dados sob forma de sistemas.