Análise IEDI
Uma trajetória toda particular
O setor de serviços trilhou um caminho bastante particular nesses anos de crise em comparação com outros setores da economia. Suas perdas começaram depois e foram menos agudas do que aquelas sofridas pela indústria e pelo comércio varejista – mesmo em 2016, seu pior ano. Em 2017, os serviços seguiram destoando ao permanecer no vermelho (-2,8%), enquanto os demais setores voltavam ao azul.
Na origem deste comportamento está o fato de os serviços estarem menos sob influência do crédito, que entrou em colapso na crise. No ano passado, porém, juros em declínio e o retorno do financiamento, sobretudo para as famílias, ajudaram mais a indústria e o comércio do que os serviços.
Há também outros fatores a serem considerados. Certos serviços se tornaram essenciais para a sociedade, como os de comunicação, que resistiram por mais tempo à crise. Outros, a exemplo dos serviços terceirizados – que não estão tão diretamente relacionados à atividade principal das empresas – também desempenham, em um primeiro momento, um papel amortecedor à queda do faturamento do setor de serviços. Porém, com o passar do tempo, todos tiveram sua situação agravada.
Assim, em 2017 a recuperação dos serviços não veio. À exceção do segmento de transportes, seus auxiliares e correios, todos os demais quatro segmentos acompanhados pelo IBGE terminaram o ano em queda, como mostram as variações interanuais do faturamento real abaixo. O grupamento especial de atividades turística também não escapou do sinal negativo.
• Serviços total: -5,0% em 2016; -2,8% em 2017 e -0,2% no 4º trim/17;
• Serviços prestados às famílias: -4,4%; -1,1% e -0,8%;
• Serviços de informação e comunicação: -3,3%; -2,0% e -0,2%;
• Serviços prof., adm. e complementares: -5,6%; -7,3% e -5,3%;
• Transporte, seus auxiliares e correios: -7,6%; +2,3% e +6,6%;
• Outros serviços: -2,8%; -8,9% e -6,9%;
• Atividades turísticas: -2,6%; -6,5% e -6,7%, respectivamente.
Nem mesmo o quarto trimestre trouxe reação ao variar -0,2% frente a igual período do ano anterior, muito embora tenha apresentado um resultado melhor do que o acumulado do ano, à semelhança do que se verificou na indústria e no comércio. A contar pelo mês de dezembro, contudo, é possível que o quadro melhore em 2018 para o setor como um todo: depois de 32 meses consecutivos de queda na comparação interanual, houve alta de 0,5% no faturamento real de serviços.
A despeito disso, para alguns segmentos do setor 2017 foi um ano de piora adicional. Este foi o caso dos serviços profissionais, administrativos e complementares, cujo faturamento real encolheu 7,3% no ano passado. A queda do 4º trim./17 não ficou muito longe: -5,3%. Como esses serviços são demandados por empresas, este é mais um indício que o quadro corporativo no país ainda está em um mau momento. As concessões de crédito para as empresas em contração (-2,4% em termos reais) é outro indício.
Outros casos de aprofundamento da crise em 2017 foram os de outros serviços, que congregam um conjunto diversificado de atividades, e do grupamento especial de turismo. Em ambos o patamar de queda avançou muito no ano passado e o último trimestre não sugere uma rápida reversão de sua situação.
Em direção oposta a esses segmentos anteriores estão os serviços de serviços de informação e comunicação e os serviços prestados às famílias, ambos com amenização das perdas no acumulado do ano e uma virtual estabilidade no último trimestre, principalmente no primeiro caso. Em 2017, a demanda por serviços pelas famílias pode se recompor um pouco graças à liberação de renda devido à redução do seu endividamento, com a liberação dos recursos do FGTS e pela melhora das condições do crédito, e à menor inflação.
O único segmento a registrar alguma reação foi o de transporte, seus auxiliares e correios, cujo dinamismo está mais estreitamente vinculado ao nível geral de atividade econômica e que foi favorecido pela safra agrícola recorde no ano passado. Sua trajetória parece promissora para 2018: +2,3% no acumulado de 2017 e +6,6% no último trimestre do ano. O mês de dezembro também foi positivo e em um ritmo satisfatório: +4,8% frente a dez/16.
De acordo com dados da Pesquisa Mensal de Serviços divulgados pelo IBGE para o mês de dezembro de 2017, o volume de serviços prestados apresentou expansão de 1,3% na comparação com o mês de novembro, para dados com ajuste sazonal. Frente ao mesmo mês do ano anterior houve aumento de 0,5%. No acumulado do ano a variação foi de -2,8.
Na comparação com o mês imediatamente anterior, na série dessazonalizada, três segmentos apresentaram expansão em relação a novembro: transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (2,3%), outros serviços (0,7%) e serviços profissionais, administrativos e complementares com (0,6%). Já os setores de serviços prestados às famílias (-0,9%) e serviços de informação e comunicação (-0,3%) apresentaram recuo. O agregado especial das atividades turísticas apresentou crescimento de 2,8% em relação a novembro.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, somente transportes, serviços auxiliares dos transportes e correio apresentou expansão de 4,8%. Nos demais setores houve retração: outros serviços (-5,6%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-3,9%), serviços prestados às famílias (-3,7%) e serviços de informação e comunicação (-2,0%). O agregado especial das atividades turísticas registrou queda de -6,3%.
No acumulado do ano apenas o segmento de transportes, serviços auxiliares dos transportes e correio (2,3%) apresentou expansão, todos os demais mantiveram o desempenho negativo. A maior contração foi observada no segmento de outros serviços (-8,9%), seguido por serviços profissionais, administrativos e complementares (-7,3%), serviços de informação e comunicação (-2,0%) e serviços prestados às famílias (-1,1%). O volume de serviços do agregado especial das atividades turísticas retraiu 6,5%.
Na análise por unidade federativa, na comparação do acumulado do ano com relação ao mesmo período do ano anterior, houve variações positivas somente nos estados do Mato Grosso (15,8%) e Paraná (5,0%). Os demais estados apresentaram recuo, sendo as maiores retrações nos estados de Amapá (-14,3%), Tocantins (-11,6%) Distrito Federal (-11,4%) e Rondônia (-11,1%).