Análise IEDI
Retrocesso com más consequências para o emprego e a renda
Se havia alguma esperança de que o setor de serviços pudesse amenizar a perda de dinamismo geral da economia no começo de 2018, os dados divulgados hoje pelo IBGE trataram de dissipá-la. Em março, o faturamento real do total de serviços ficou no negativo tanto em relação a fevereiro (-0,2% com ajuste) como frente ao mesmo mês do ano passado (-0,8%), levando consigo o resultado do primeiro trimestre do ano.
Assim como a indústria e, em menor medida, o comércio varejista, o quadro do setor de serviços se deteriorou nos primeiros meses de 2018. Neste caso, porém, o que ocorreu foi mais grave, pois os serviços nunca chegaram, de fato, a entrar em rota de recuperação. No máximo, ameaçou retornar ao terreno positivo em dezembro do ano passado (+0,6% ante dez/16 e +1,2% ante nov/17 com ajuste), mas submergiu novamente a partir de janeiro.
O desempenho trimestral não deixa margem para dúvidas. Frente ao trimestre imediatamente anterior, já descontados os efeitos sazonais, a sequência de desaceleração do faturamento real do setor foi a seguinte: +1,1% no 3º trim/17; +0,5% no 4º trim/17 e -0,9% no 1º trim/18. Na comparação interanual, a reversão da tendência veio com a virada do ano: -3,0% no 3º trim; -0,2% no 4º trim/17 e -1,5% no 1º trim/18.
Como os serviços reúnem atividades bastante empregadoras, esse movimento de retrocesso pode atrasar ainda mais a reativação do mercado de trabalho, trazendo dificuldades adicionais para a consolidação da recuperação da economia brasileira. Por isso, o esmorecimento dos serviços, bem como da indústria e do comércio, no primeiro trimestre se fará sentir nas expectativas de crescimento para o ano de 2018.
Quanto aos diferentes segmentos que compõem o setor, não há um modelo único sendo seguido. O fato é que poucos são aqueles que melhoraram sua situação no primeiro quarto do ano. A maioria ou voltou para o negativo ou manteve-se no azul, mas a um ritmo muito mais comedido. As variações interanuais abaixo ilustram essa diversidade de casos.
• Serviços total: -3,5% no 2º trim/17; -3,0% no 3º trim; -0,2% no 4º trim/17 e -1,5% no 1º trim/18;
• Serviços prestados às famílias: +0,7%; +0,5%; -0,7% e -2,3%, respectivamente;
• Serviços de informação e comunicação: -2,7%; -4,4%; -0,2% e -3,7%;
• Serviços prof., adm. e complementares: -7,8%; -6,9%; -5,2% e -2,6%;
• Transportes, seus auxiliares e correios: +1,6%; +3,9%; +6,6% e +1,3%;
• Outros serviços: -10,7%; -8,6%; -6,9% e +1,8%, respectivamente.
Aqueles me melhor vinham se saindo em 2017, contribuindo para amenizar progressivamente a crise do setor como um todo, foram justamente os que mais retrocederam no primeiro trimestre de 2018. Serviços prestados às famílias e serviços de informação e comunicação já tinham voltado ao negativo no 4º trim/17, mas agora no começo de 2018 deram um salto para trás.
Os serviços de transporte, seus auxiliares e correios também podem ser incluídos nesta categoria, já que, impulsionados pela maior produção industrial e pela supersafra do ano passado, foram o único segmento a fechar 2017 no azul, atingindo um crescimento expressivo no último trimestre. Em 2018, apesar de preservarem o sinal positivo, o ritmo de aumento do seu faturamento real sofreu um recuo intenso, espelhando a queda de dinamismo da economia geral.
Assim, dos cinco segmentos de serviços acompanhados pelo IBGE, em apenas 2 pode-se falar que houve algum progresso em 2018. E isso em termos relativos. Vejamos o caso de serviços profissionais, administrativos e complementares, para quem o 1º trim/18 foi favorável somente porque preservou a tendência de amenização da crise. Aqui, a situação financeira muito delicada das empresas, embora já tenha sido pior, ainda impede uma verdadeira recuperação.
O segundo segmento é, de fato, o único que saiu ganhando com a entrada de 2018. Trata-se de outros serviços, um segmento que reúne uma grande diversidade de atividades, como serviços financeiros, imobiliários, agrícolas, de reparos etc, o que dificulta a interpretação de seu desempenho. De todo modo, seu faturamento real voltou a crescer no 1º trim/18, depois de quedas prolongadas (desde 4º trim/14) e muito fortes, que chegaram a superar -10% em alguns trimestres.
De acordo com dados da Pesquisa Mensal de Serviços divulgados pelo IBGE para o mês de março, o volume de serviços prestados apresentou retração de 0,2% frente ao mês de fevereiro de 2018, para dados com ajuste sazonal. Em comparação com o mesmo mês do ano anterior a variação registrada foi de -0,8%. No acumulado de 12 meses, observou-se decréscimo de -2,0% e para o acumulado do ano, redução de -1,5%.
Na comparação com o mês imediatamente anterior, na série dessazonalizada, dois dos cinco segmentos analisados apresentaram crescimento em relação a fevereiro de 2018: serviços de informação e comunicação (2,3%) e serviços prestados às famílias (2,1%). Nos outros três segmentos observaram-se retrações: serviços profissionais, administrativos e complementares (-1,8%), transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (-0,8%) e outros serviços (-0,4%). As atividades turísticas apresentaram crescimento de 2,0% na comparação com o mês imediatamente anterior, com ajuste sazonal.
Frente ao mesmo mês do ano anterior, dois dos cinco segmentos apresentaram acréscimo: outros serviços (2,2%) e serviços prestados às famílias (1,0%). Por outro lado, os demais setores apresentaram variação negativa: serviços profissionais, administrativos e complementares (-2,6%), serviços de informação e comunicação (-0,9%), transportes, serviços auxiliares dos transportes e correio (-0,4%). As atividades turísticas apresentaram a variação foi de -0,9%, frente a março de 2017.
No acumulado de doze meses (abril de 2017 a março de 2018), somente o segmento de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio apresentou crescimento de 3,4%. Os demais setores apresentaram decréscimo: outros serviços (-6,3%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-5,7%), serviços de informação e comunicação (-1,7%) e serviços prestados às famílias (-0,5%). O volume de serviços relacionados a atividades turísticas retraiu 5,2%.
Na análise por unidade federativa, no mês de março de 2018 comparado ao mesmo mês do ano anterior, observamos crescimento em cinco estados: Roraima (10,6%), Amazonas (2,8%), Goiás (2,1%), São Paulo (1,4%) e Rondônia (0,9%). Para as demais unidades federativas houve retração, sendo as mais expressivas em: Tocantins (10,6%), Pará (-9,8%), Rio Grande do Norte (-9,4%), Ceará (-8,9%), Alagoas (-8,2%) e Sergipe (-7,5%).
Por fim, na comparação do acumulado do ano com relação ao mesmo período do ano anterior houve variações positivas em seis dos vinte e sete estados analisados: Roraima (1,4%), Mato Grosso (0,5%), Paraná (0,5%), São Paulo (0,4%), Goiás (0,3%) e Amazonas (0,1%). Os outros estados apresentaram retração, sendo as maiores nos estados do Rio Grande do Norte (-10,8%), Tocantins (-9,8%), Ceará (-9,3%), Pará (-8,5%), Piauí (-7,8%), Alagoas (-6,7%), Distrito Federal (-6,4%) e Bahia (-6,2%).