Análise IEDI
Recuperação com menor vitalidade
O desempenho geral da economia no começo de 2018, ao invés de registrar progressos adicionais, o que seria fundamental para efetivamente virarmos a página da crise recente, acabou por expor muitas de suas fragilidades. A recuperação persiste, mas é inevitável reconhecer que caminha de modo irregular.
O resultado do PIB no primeiro trimestre deste ano manteve-se próximo da mera estabilidade, como tem sido a regra na série com ajuste sazonal. Frente ao último trimestre do ano passado, o PIB de janeiro a março de 2018 variou apenas 0,4%, configurando um quadro bastante distinto daquele de janeiro a março de 2017, quando o crescimento havia atingido 1,1% na mesma comparação.
A fraqueza de nosso crescimento econômico também pode ser vista sob outros prismas, como na comparação interanual. Ao longo de 2017, trimestre após trimestre, o PIB vinha reforçando seu resultado, saindo de 0% em janeiro-março até chegar a 2,1% em outubro-dezembro, sinalizando com a possibilidade de a recuperação engrenar um processo mais robusto em 2018. Isso, contudo, não aconteceu. O primeiro trimestre de 2018 trouxe uma interrupção da trajetória de aceleração do PIB ao registrar uma alta menor, de +1,2%.
Em resumo, na entrada de 2018 a economia perdeu vitalidade, mas não a direção do crescimento. Cabe frisar, então, os componentes do PIB responsáveis por esse esfriamento de motores. Para isso, as variações frente ao último trimestre de 2017, já descontados os efeitos sazonais, como aquelas mostradas abaixo, são úteis por permitirem uma avaliação das tendências mais recentes.
• PIB Total: +0,3% no 3º trim/17; +0,2% no 4º trim/17 e +0,4% no 1º trim/18;
• Consumo das Famílias: +1,1%; +0,1% e +0,5%, respectivamente;
• Consumo do Governo: -0,3%; +0,1% e -0,4%;
• Formação Bruta de Capital Fixo: +2,0%; +2,1% e +0,6%;
• Exportações: +3,6%; -0,8% e +1,3%;
• Importações: +6,5%; +1,6% e +2,5%, respectivamente.
Do lado da demanda, todos os componentes do PIB perderam ímpeto, à exceção do consumo das famílias, que cresceu 0,5% ante o trimestre anterior. De todo modo, as famílias já ajudaram mais a economia, como no segundo e terceiro trimestre do ano passado, quando, estimuladas pela liberação dos recursos do FGTS e pela melhora do quadro do crédito, aumentaram seu consumo em 1,1% em ambos os períodos.
Dentre os que não se saíram bem, o destaque cabe à formação bruta de capital fixo, isto é, ao investimento, que depois de manter um ritmo de expansão de 2% nos dois últimos trimestres de 2017, refluiu muito em direção à estabilidade: apenas +0,6% no 1º trim/18. Não surpreende, então, que a taxa de investimento da economia brasileira continue em um patamar dos mais baixos (16% do PIB) de sua história. Sem uma reação forte e sustentada do investimento, a recuperação da economia deve continuar lenta e descontínua como temos visto.
O setor externo é outro ponto importante a ser enfatizado. Já há três trimestres as importações correm à frente das exportações, retirando mais do que introduzindo dinamismo na economia. Na ausência de mudanças importantes nos termos de troca, esta deve ser a tendência para 2018, como o IEDI já vinha observando, inclusive porque a reação das importações tem sido mais do que proporcional à do PIB.
Apesar disso, nossas exportações têm sido um pilar de sustentação da recuperação, embora tenha apresentado certa oscilação, como na passagem de 2017 para 2018. Por isso, a possibilidade de redução pelo governo do Reintegra em função da necessidade de compensar o impacto fiscal da queda do preço do diesel é causa de apreensão. É importante esclarecer que o Reintegra não é um subsídio, mas sim um mecanismo de redução da distorção de nosso sistema tributário, que não permite que o exportador recupere os impostos pagos na produção dos bens exportáveis. Neste momento em que a economia fraqueja, a contribuição positiva das exportações é imprescindível.
Considerado o PIB pelo lado da oferta, por sua vez, o único setor que conseguiu evitar a perda de dinamismo em relação o final do ano passado foi a agropecuária. Na série com ajuste sazonal, seu resultado saiu do negativo para +1,4% no 1º trim/18. A indústria geral e o total de serviços não só desaceleraram como ficaram praticamente estagnados: +0,1% em ambos os casos.
Na indústria dois resultados chamam atenção. O primeiro foi a queda de 0,4% do PIB da indústria de transformação, depois de quatro trimestres seguidos de crescimento em 2017. Este dado, ao lado de outros, como o emprego e produção física do setor, não deixa dúvida de que os primeiros meses de 2018 não foram nada bons para a indústria, cujo crescimento vinha se mostrando como um dos principais elementos da recuperação da economia.
O segundo resultado é a construção, novamente no negativo (-0,6%). Neste caso, a crise se mostra resistente e o melhor que se conseguiu até o presente foi praticamente não cair nos dois últimos trimestres de 2017: +0,2% no terceiro e +0,1% no quarto trimestre. A crise na construção é a mais prolongada dentre todos os setores.
Por fim, não podemos deixar de notar que tanto no 4º trim/17 como no 1º trim/18 o setor de serviços como um todo não saiu do lugar: variou apenas 0,1% em ambos os períodos. Em boa medida, isso se deve ao comércio, cuja trajetória tem sido de nítida desaceleração desde a alta de 2,1% no 2º trim/17. Agora no 1º trim/18 cresceu somente 0,2%. Com esse desempenho dos serviços, que é um setor que demanda muita mão de obra, não é à toa que a situação do emprego no país melhora a passos curtos.
Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil atingiu, no primeiro trimestre de 2018, R$ 1,641 trilhão a preços correntes, apresentando crescimento de 0,4% na comparação com o trimestre anterior, a partir de dados dessazonalizados.
Em relação ao primeiro trimestre de 2017, houve incremento de 1,2%. No que se refere à oscilação do acumulado nos últimos quatro trimestres frente a igual período do ano anterior, houve crescimento 1,3%.
Ótica da oferta. Frente ao quarto trimestre de 2017, a partir de dados dessazonalizados, foi verificada a expansão do setor agropecuário em 1,4%, do setor da indústria em 0,1% e do setor de serviços em 0,1%.
Para os subsetores da indústria, na mesma comparação, temos aumento nos seguintes segmentos: produção de eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana (2,1%) e extrativa mineral (0,6%). Em sentido oposto, apresentaram queda construção (-0,6%) e indústria de transformação (-0,4%).
Nos subsetores de serviços, ainda sobre o trimestre anterior e com ajuste sazonal, apresentaram variações positivas os segmentos de transporte, armazenagem e correio (0,7%), outros serviços (0,6%), atividades imobiliárias e aluguel (0,5%), comércio (0,2%) e administração, saúde e educação pública (0,1%). Por outro lado, apresentaram queda os subsetores de serviços de informação (-1,2%) e intermediação financeira e seguros (-0,1%).
Em relação ao primeiro trimestre de 2017, houve retração no setor agropecuário de 2,6%, sendo que o setor industrial apresentou variação positiva de 1,6% e o de serviços também variou positivamente em 1,5%.
Dentro do setor industrial, ainda frente ao mesmo trimestre do ano anterior, os segmentos de construção civil (-2,2%) e extração mineral (-1,9%) apresentaram retrações. O segmento da indústria de transformação apresentou crescimento de 4,0%, seguido do crescimento de produção e distribuição de eletricidade, gás e água de 0,6%.
No setor de serviços, os destaques positivos ficaram por conta do segmento de comércio (4,5%), transporte, armazenagem e correios (2,8%), atividades imobiliárias e aluguel (2,8%), outros serviços (0,9%), administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,6%) e atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (0,1%). O setor de serviços de informação retraiu em 3,3%.
Ótica da demanda. Sob a ótica da demanda, frente ao quarto trimestre de 2017, para dados com ajuste sazonal, a Importação aumentou 2,5%, exportação cresceu 1,3%, formação bruta de capital fixo variou positivamente em 0,6% e consumo das famílias também apresentou alta de 0,5%. Do outro lado, o consumo do governo apresentou queda de 0,4%.
Por fim, na comparação com o primeiro trimestre de 2017, a formação bruta de capital fixo aumentou 3,5%, seguido também do consumo das famílias 2,8% e o setor externo apresentou, aumento nas exportações de 6,0% e importações 7,7%. Para o consumo do governo houve retração de 0,8%.