Análise IEDI
Exportação de manufaturados em queda
Os dados da balança comercial divulgados hoje pelo Mdic mostram que maio foi um mês de crescimento tanto para exportações como para as importações do Brasil. Nosso saldo de comércio exterior permanece em patamar bastante confortável, da ordem de US$ 26,2 bilhões no acumulado dos cinco primeiros meses de 2018, mas não cresce mais a um ritmo espetacular como nos anos anteriores.
Isso se deve a uma mudança no padrão de crescimento de exportações e importações. Embora a reativação econômica seja ainda muito modesta, ela tem sido capaz de alavancar nossas compras externas, cujo dinamismo já ultrapassou o de nossas exportações. Os resultados do mês de maio são ilustrativos: +14,5% para as importações, tomadas por sua média por dia útil frente ao mesmo período do ano anterior, contra apenas 1,9% para as exportações.
No acumulado dos cinco primeiros meses de 2018, este comportamento também se repete, com as importações crescendo 14,6% e as exportações 6,4% na comparação interanual. Em boa medida essa diferença de velocidade se deve ao fato de as importações terem retroagido muito ao longo da crise, tendo ainda um longo caminho para atingir seus níveis anteriores. O total das importações em jan-mai/18 (US$ 67 bilhões) ainda está mais de 30% abaixo daquele de jan-mai/13 (US$ 98,7 bilhões). Em contraste, o total das exportações encontra-se praticamente no mesmo nível: US$93,6 bilhões e US$ 93,3 bilhões, respectivamente.
Outro aspecto a ser notado é a intensidade com que as exportações têm desacelerado, como bem mostram as variações trimestrais das médias diárias na comparação interanual a seguir. Teríamos atingido o melhor desempenho exportador possível nas atuais condições de competitividade do país?
• Exportações totais: +17,6% em out-dez/17; +11,5% em jan-mar/18 e + 2,4% em mar-mai;
• Básicos: +34,8%; +3,5% e +7,5%, respectivamente;
• Semimanufaturados: +12,3%; +6,1% e +0,6%;
• Manufaturados: +4,9%; +24,4% e -4,3%, respectivamente.
Em relação ao dinamismo do final do ano passado, as exportações de todos os tipos de bens apresentaram resultados mais fracos nos primeiros meses de 2018, mas o destaque coube a manufaturados que voltaram ao vermelho, depois de registrar uma sequência de vários meses positivos desde o início de 2017.
É verdade, contudo, que desde a segunda metade do ano passado já havia um movimento de desaceleração das exportações de manufaturados, que foi interrompida no primeiro trimestre de 2018, apenas em função de uma exportação meramente contábil de uma plataforma de petróleo. Em abril e maio, não só o movimento foi retomado como houve declínio em ambos os meses: -4% e -17,3%, respectivamente. O resultado de maio, pior que o de abril, já reflete os efeitos negativos da paralisação dos caminhoneiros nas duas últimas semanas do mês.
Dentre os produtos manufaturados em queda, tanto em abril como em maio, estão açúcar refinado, polímeros plásticos, laminados planos, aviões, e artigos pertencentes à cadeia automobilística, como automóveis de passageiros e pneumáticos. À medida que durem os desequilíbrios macroeconômicos na Argentina, é provável que o desempenho exportador de nossa indústria automobilística continue sendo afetado negativamente.
Semimanufaturados também sofreram forte perda de dinamismo, mas ao menos conseguiram manter o sinal positivo de seu resultado ao variar +0,6% no trimestre móvel findo em maio. Isto, contudo, deveu-se apenas ao mês de março, já que também tiveram meses ruins tanto em abril (-2,7% ante abr/17 pela média diária) como em maio (-9,5%).
Conforme os dados divulgados pelo MDIC, no mês de maio de 2018 a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 5,981 bilhões, valor 21,9% inferior ao alcançado em igual período de 2017, de US$ 7,661 bilhões.
As exportações alcançaram o montante de US$ 19,241 bilhões, representando aumento de 1,9% em relação a maio de 2017, tomando por base as médias diárias, que considera o número de dias úteis no mês. As importações somaram US$ 13,260 bilhões, o que significou incremento de 14,5% na mesma base de comparação, considerando os dias úteis do mês. No mês de maio de 2018, as médias diárias das exportações e importações foram de US$ 916 milhões e US$ 631 milhões, respectivamente.
Exportações por fator agregado. A exportação de produtos básicos foi de US$10,968 bilhões no período, incremento de 13,0% em comparação a maio de 2017. Os produtos industrializados somaram US$ 7,825, manufaturados alcançaram US$ 5,425 bilhões e os semimanufaturados totalizaram US$ 2,400 bilhões, variações negativas de 18,9%, 21,0% e 13,6%, respectivamente, quando comparado a maio de 2017.
Levando em conta as médias diárias das exportações, na comparação com igual mês de 2017 houve decréscimo em três dos quatro setores analisados, sendo de -17,2% para produtos manufaturados, -15,0% para produtos industrializados e -9,4% para produtos semimanufaturados. Já para operações especiais houve aumento de 7,2%.
Destaques exportações. No grupo dos manufaturados, quando comparado com maio de 2017, decresceram as vendas principalmente de açúcar refinado (-53,9%, para US$ 93 milhões), pneumáticos (-33,7%, para US$ 76 milhões), aviões (-24,3%, para US$ 319 milhões), laminados planos (-21,8%, para US$ 131 milhões), polímeros plásticos (-21,2%, para US$ 129 milhões), óxidos/hidróxidos de alumínio (-18,9%, para US$ 187 milhões), automóveis de passageiros (-17,4%, para US$ 491 milhões), máquinas para terraplanagem (-16,7%, para US$ 151 milhões), veículos de carga (-14,0%, para US$ 204 milhões), autopeças (-13,5%, para US$ 161 milhões), tratores (-13,5%, para US$ 105 milhões), óleos combustíveis (-9,9%, para US$ 118 milhões) e motores para veículos e partes (-7,7%, para US$ 137 milhões). Por outro lado, aumentaram as vendas de suco de laranja congelado (+47,1%, para US$ 130 milhões) e suco de laranja não congelado (+0,6%, para US$ 80 milhões).
No grupo dos básicos, quando comparado com maio de 2017, aumentaram as vendas principalmente de bovinos vivos (+253,0%, para US$ 72 milhões), petróleo em bruto (+60,4%, para US$ 1,7 bilhão), farelo de soja (+30,9%, para US$ 710 milhões), soja em grão (+28,9%, para US$ 5,0 bilhões), minério de cobre (+16,2%, para US$ 249 milhões) e carne bovina (+3,8%, para US$ 379 milhões).
No grupo dos semimanufaturados, quando comparado com maio de 2017, decresceram as vendas principalmente de couros e peles (-43,9%, para US$ 101 milhões), semimanufaturados de ferro/aço (-39,8%, para US$ 246 milhões), ferro fundido (-34,2%, para US$ 36 milhões), açúcar em bruto (-31,2%, para US$ 541 milhões), ouro em forma semimanufaturada (-9,5%, para US$ 129 milhões) e madeira serrada (-2,2%, para US$ 52 milhões). Por outro lado, subiram as vendas de mates de cobre (de zero para US$ 30 milhões), celulose (+44,5%, para US$ 727 milhões), ferro ligas (+22,1%, para US$ 231 milhões) e óleo de soja em bruto (+16,5%, para US$ 91 milhões).
Ao analisar os mercados compradores, cresceram as vendas para a Ásia (+18,3%, sendo que para a China cresceram 33,2%, para US$ 6,8 bilhões, por conta de soja em grão, petróleo em bruto, celulose, carne suína, ferro-ligas, carne bovina, açúcar em bruto, ferro fundido, polímeros plásticos, minério de cromo, minério de manganês, suco de laranja congelado). Por outro lado, diminuíram as vendas para os Estados Unidos (-24,2%, por conta de semimanufaturados de ferro/aço, aviões, petróleo em bruto, obras de mármore e granito, café em grão, hidrocarbonetos, ferro fundido, laminados planos, carne bovina, minério de ferro, tereftalato de polietileno, ouro em forma semimanufaturada), Oriente Médio (-17,6%, principalmente por açúcar em bruto, milho em grão carne de frango, óxidos/hidróxidos de alumínio, carne bovina, tubos de ferro fundido, açúcar refinado, farelo de soja, laminados planos, minério de ferro, chassis com motor, motores e geradores elétricos), Mercosul (-16,7%, sendo que a Argentina decresceu 15,4%, por conta de automóveis de passageiros, veículos de carga, autopeças, semimanufaturados de ferro/aço, máquinas para terraplanagem, tratores, óxidos/hidróxidos de alumínio, polímeros plásticos, pneumáticos, óleos combustíveis, hidrocarbonetos, chassis com motor), América Central e Caribe (-11,7%, por conta de petróleo em bruto, óleos combustíveis, suco de laranja congelado, pisos e revestimentos cerâmicos, bombas e compressores, farelo de soja, medicamentos, quadros de energia, máquinas para terraplanagem), Oceania (-8,9%, por conta de calçados, café em grão, celulose, medicamentos, fio-máquina de ferro/aço, chassis com motor, pneumáticos, papel e cartão, silício), África (-3,5%, em decorrência de açúcar, carne de frango, veículos de carga, zinco em bruto, tubos de ferro fundido, chassis com motor, óxidos/hidróxido de alumínio, torneiras/válvulas) e União Europeia (-1,4%, por conta de café em grão, soja em grão, açúcar em bruto, aviões, couros e peles, laminados planos, suco de laranja congelado, polímeros plásticos, tubos flexíveis de ferro/aço, medicamentos, ferro fundido, fumo em folhas, preparações de carne de frango).
Importações por categoria de uso. Dos US$ 13,260 bilhões importados em maio, US$ 7,986 bilhões foram de bens intermediários, US$ 2,222 bilhões de bens de consumo, US$ 1,458 bilhões de bens de capital e US$ 1,581 bilhão foram referentes ao grupo de combustíveis e lubrificantes.
Na comparação frente ao mesmo período de 2017, considerando a média diária, houve incremento das importações em todos os segmentos, puxado por bens de capital (29,4%), combustíveis e lubrificantes (23,4%), bens intermediários (11,6%) e seguido por bens de consumo (10,8%).
Destaques importações. Com relação a bens de capital, cresceram, principalmente, máquinas/aparelhos mecânicos, aviões, centros de usinagem, unidades de processamento digital, elevadores/transportadores de mercadorias, motor elétrico, veículos de carga, máquinas para empacotar e equipamentos terminais/repetidores.
No segmento bens de consumo, os principais aumentos foram observados nas importações de automóveis de passageiros, produtos imunológicos, azeite de oliva, imunoglobulina, medicamentos, fungicidas, confecções, frações de sangue, cebolas frescas, vinhos e obras de plástico.
No grupo dos combustíveis e lubrificantes, o crescimento ocorreu principalmente pelo aumento de coques, carvão, óleo diesel, petróleo em bruto, querosenes, gás natural, fuel-oil, butanos liquefeitos e energia elétrica.
No segmento de bens intermediários cresceram as aquisições de tubos flexíveis de ferro/aço, pigmento rutilo, ureia, sulfetos e minérios de zinco, inseticidas, circuitos integrados, memórias digitais e naftas com exceção para petroquímica.
Por fim, observando as importações por mercados fornecedores, na comparação maio 2018/2017, aumentaram as compras originárias dos principais mercados, a saber: América Central e Caribe (+134,9%, por conta de gás natural, medicamentos, álcoois acíclicos, semimanufaturados de ferro/aço, aparelhos médicos, compostos de funções nitrogenadas, artigos de prótese), Oceania (+22,2%, por conta de carvão, inseticidas, ácidos carboxílicos, níquel não ligado, aparelhos para interrupção de energia, carne bovina), União Europeia (+21,9%, por conta de medicamentos autopeças, querosene exceto de aviação, máquinas para processamento de dados, laminados planos, automóveis de passageiros, gasolina, naftas, aviões, partes de motores e turbinas para aviação, compostos heterocíclicos, máquinas para fabricação de alimentos, partes de motores para veículos automóveis), Ásia (+16,6%, sendo que a China cresceu 15,9%, por conta de partes de aparelhos transmissores/receptores, coques/semicoques, dispositivos semicondutores, obras de alumínio, fios de fibras têxteis, circuitos impressos, compostos heterocíclicos, sulfato de amônio, aparelhos de ar condicionado, brinquedos, autopeças, inseticidas, aparelhos médicos), Oriente Médio (+11,1%, por conta de ureia, polímeros plásticos, cloreto de potássio, ácido fosfórico, ligas de alumínio, adubos e fertilizantes, inseticidas, alumínio em desperdícios, óleos lubrificantes, partes e peças de aeronaves, compostos heterocíclicos) e Estados Unidos (+9,6%, por conta de óleos combustíveis, petróleo em bruto, carvão, hidrocarbonetos, autopeças, gás butano, motores e geradores elétricos, máquinas para processamento de dados, instrumentos de medida, automóveis de passageiros, paládio em bruto, gás natural, máquinas para terraplanagem, antibióticos, circuitos integrados). Por outro lado, diminuíram as compras originárias do Mercosul (-3,3%, sendo que da Argentina decresceu 5,2%, por conta de automóveis de passageiros, autopeças, alho fresco/refrigerado, milho em grão, malte não torrado, óleo de girassol, tubos de ferro fundido, inseticidas, ônibus, veículos de carga, óleo de soja em bruto, pneumáticos, trigo em grão, motores para veículos e partes) e África (-1,8%, por conta de cacau em bruto, naftas, adubos e fertilizantes gás natural).