Análise IEDI
Sintomas de uma patente desaceleração
Os dados da Pnad Contínua divulgados hoje pelo IBGE não deixam dúvidas de que estamos em uma desaceleração não só na geração de empregos como também em vários outros campos do mercado de trabalho.
Ainda são mais de 13 milhões de desocupados no país, mas a abertura de postos de trabalho, embora continue ocorrendo, vem perdendo força desde o último trimestre do ano passado. Depois de crescer 2% em out-dez/17 frente a igual período do ano anterior, recuou para 1,3% agora no trimestre findo em maio de 2018.
Com isso, a taxa de desocupação vem retrocedendo, mas em ritmo sem nenhuma correspondência com a velocidade em que havia se elevado nos anos de crise. No trimestre findo em maio de cada ano, a taxa de desocupação saltou 3 pontos percentuais de 2015 para 2016 (de 8,1% para 11,2%), mais 2 pontos de 2016 para 2017 (de 11,2% para 13,3%), para enfim ceder mero 0,6 p.p. agora em 2018, quando chegou a 12,7%.
Em resumo, a evolução segue na boa direção, mas segundo um dinamismo claramente insuficiente para assegurar uma trajetória de recuperação econômica mais robusta como todos almejamos. Há ainda outros sintomas preocupantes que sugerem um resfriamento do mercado de trabalho. Quatro dos mais importantes são analisados em seguida.
1. A entrada de indivíduos na força de trabalho em busca de emprego também tem se desacelerado de forma expressiva. Depois de crescer 2,4% em jul-set/17 na comparação interanual, registrou variação se apenas +0,6% em mar-mai/18. Menos pessoas adicionais buscando emprego ajuda a manter a taxa de desocupação em trajetória cadente, mas também pode estar expressando a importância do desalento. O desalento vem da descrença de muitas pessoas em encontrar uma vaga, o que faz com que elas nem cheguem a procura-la. Em sendo assim, temos um sinal claro de quão fraco anda o mercado de trabalho no país.
2. Todos os principais tipos de ocupação que vinham alavancando a criação de emprego total dão indícios de esmorecimento. Em comparação com um ano antes, as ocupações por conta própria cresciam 5% (+1,1 milhão de pessoas) em set-nov/17, o que foi reduzido pela metade agora em mar-mai/18: +2,5% (+568 mil). No trabalho sem carteira assinada, o movimento é o mesmo, porém menos intenso: de +6,9% (+718 mil) para +5,7% (+597 mil). Já o trabalho com carteira teve estancada a tendência de arrefecimento de sua contração.
3. Igualmente todos os setores econômicos que vinham liderando a melhora do quadro do emprego perderam dinamismo. Na indústria isso é muito claro. Para quem abriu, em out-dez/17, 527 mil postos a mais do que em igual período do ano anterior (+4,6%), gerar apenas 134 mil postos agora em mar-mai/18 (+1,1%) sinaliza uma deterioração evidente. Em alojamento e alimentação o quadro se repete: +421 mil (+8,7%) em out-dez/17 e +150 mil (+2,9%), bem como no comércio e reparação de veículos e em informação, comunicação, atividades financeiras e imobiliárias.
4. Não só o emprego não cresce mais como no ano passado, mas também o rendimento real. O aumento, que chegou a +3,1% em abr-jun/17, tomados o rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebido, agora é de +0,9%. Como a inflação continua sob controle, essa quase estabilidade do rendimento é outro indício da morosidade da recuperação do emprego.
Com emprego e rendimento perdendo ímpeto, o aumento da capacidade de consumo da população tende a se restringir, afetando negativamente um dos motores da reativação do crescimento econômico.
De acordo com dados da PNAD Contínua Mensal divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação registrada no trimestre de março a maio de 2018 atingiu 12,7%. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, dezembro de 2017 a fevereiro de 2018, houve crescimento de 0,1 p.p., sendo que para o mesmo trimestre do ano anterior houve queda de -0,6 p.p., quando apresentou 13,3%.
O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos ficou em R$2.187, apresentando queda de 0,6% em relação ao trimestre imediatamente anterior (dez-jan-fev), por outro lado, frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior, houve crescimento de 0,9%.
A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos atingiu R$193,8 bilhões no trimestre que fechou em maio, registrando retração de 0,7% frente ao trimestre imediatamente anterior e aumento de 2,3% quanto ao trimestre do ano anterior (R$189,5 bilhões).
Para o trimestre de referência, a população ocupada alcançou 90,8 milhões de pessoas, expansão de 1,3% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (89,6 milhões de pessoas ocupadas), no entanto em relação ao trimestre imediatamente anterior verificou-se retração de -0,2% (dez-jan-fev). Em comparação ao trimestre imediatamente anterior, o número de desocupados variou positivamente 0,9%, chegando a 13,2 milhões de pessoas. Já para a comparação frente ao mesmo trimestre do ano anterior observou-se decréscimo de 3,9%. Em relação a força de trabalho, observou-se neste trimestre 104,1 milhões de pessoas, retração de 0,1% frente ao trimestre imediatamente anterior e expansão de 0,6% em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
Frente ao mesmo trimestre do ano anterior, os grupamentos de atividades que obtiveram expansão da ocupação foram: Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (0,9%), Indústria (1,1%), Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (1,3%), Transporte, armazenagem e correios (2,2%), Alojamento e alimentação (2,9%), Administração pública, defesa, seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (3,4%) e Outros serviços (7,4%). Por outro lado, os agrupamentos que apresentaram decréscimo na ocupação foram: Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-2,9%), Construção (-1,4%) e Serviços domésticos (0,1%).
Por fim, analisando a população ocupada por posição na ocupação, observamos crescimento frente ao mesmo trimestre do ano anterior nas seguintes categorias: trabalhador por conta própria (2,5%), setor público (2,8%), empregador (5,5%) e trabalho privado sem carteira (5,7%). De outra forma, apresentaram retrações os segmentos de trabalho privado com carteira (-1,4%) e trabalho familiar auxiliar (-1,6%). Para o trabalho doméstico não houve variação.